Notícias
SAÚDE MENTAL
Enfermagem está entre as profissões mais afetadas pela Síndrome de Burnout
Professor Luann Glauber ministrou palestra sobre a Síndrome de Burnout
Caracterizada por uma reação de tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o ambiente de trabalho, a Síndrome de Burnout (SB) tem afetado muito os profissionais da área de enfermagem e exige atenção dos gestores da área de saúde e também dos próprios profissionais. Conforme a literatura acadêmica, a SB é considerada um problema de saúde pública de difícil solução, com um conjunto de fatores multicausais, associados a elevadas taxas de absenteísmo, rotatividade de emprego e diminuição da qualidade do trabalho prestado pelos enfermeiros.
A informação foi repassada pelo psicólogo Luann Glauber Rocha Medeiros, que é professor da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e participou da X Semana de Enfermagem do Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC-UFCG), da Universidade Federal de Campina Grande e vinculado à Rede Ebserh. Ele também apontou os principais estágios de Burnout (confira no fim do texto), que vão desde a dedicação intensificada no trabalho até a síndrome do esgotamento profissional.
Na palestra “Satisfação no Trabalho e o Impacto da Assistência Prestada pela Equipe de Enfermagem – Um Olhar pela Saúde Mental do Trabalho”, o docente lembrou que os fatores rendimento, carga de trabalho, satisfação no trabalho e saúde mental estão diretamente relacionados. Muitas vezes, o profissional realiza seu trabalho de forma mecânica, sem tempo para desenvolver conhecimentos, competências e habilidades, tornando-se frustrado em relação a sua função, o que pode desencadear o problema.
“Talvez a enfermagem em si não seja sofrível, mas sim as condições de trabalho. Além disso, se eu paro para pensar sobre precarização, carga horária e chego a um ponto em que também absorvo o sofrimento do paciente, eu não consigo trabalhar”, explicou o especialista.
O palestrante também deu orientações sobre como o problema deve ser encarado. Para os gestores, ele indica que se busquem estratégias mais humanizadas de gestão, procurando adequar as ferramentas de verificação de desempenho e de rendimento. O ideal é que as avaliações não sejam apenas quantitativas, mas que também tenham uma perspectiva qualitativa.
Buscar dar espaço de fala ao trabalhador é outra ação sugerida. “Muitas vezes, a gestão não dá espaço de fala ao trabalhador. O trabalhador relega sua fala ao ostracismo ou àquela fala informal. Por isso é importante dar espaço de fala, para que o trabalhador deixe o sofrimento fluir. Além disso, a gestão também deve buscar estratégias de espaço para a manifestação desse sofrimento do ponto de vista institucional e de acompanhamento, sem que seja, necessariamente, pela via da medicalização”, afirmou.
Profissionais que estão vivenciando algum dos estágios da Síndrome de Burnout também receberam orientações. “O profissional deve buscar intercalar trabalho com atividades prazerosas. Atividades que, realmente, tragam prazer para ele. É nesse ponto que se consegue exaurir, consegue retirar todo o desgaste do ponto de vista emocional”, disse Luann Glauber.
É importante também, reforçou o especialista, que a pessoa saiba que não existe uma fórmula mágica, mas precisa refletir sempre sobre as suas atividades e seu cansaço. Até que ponto o cansaço é somente da atividade ou é porque o profissional está sempre querendo ir além do que é demandado? “Eu gosto do que estou fazendo? Estou feliz no meu trabalho? O meu sofrimento está relacionado ao que eu faço ou ao que os outros me demandam?”, provocou o palestrante.
OS ESTÁGIOS DE BURNOUT
1. Dedicação intensificada — Com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho e a qualquer hora do dia (é o chamado imediatismo);
2. Descaso com as necessidades pessoais — Por exemplo: comer, dormir e sair com os amigos começam a perder o sentido;
3. Recalque de conflitos — O portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema. É quando ocorrem as manifestações físicas;
4. Reinterpretação dos valores — Isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida da autoestima é o trabalho;
5. Negação de problemas — Nessa fase, os outros são completamente desvalorizados, tidos como incapazes ou com desempenho abaixo do seu. Os contatos sociais são repelidos. Cinismo e agressão são os sinais mais evidentes;
6. Recolhimento e aversão a reuniões —Recusa à socialização; evitar o diálogo e dar prioridade aos e-mails, mensagens, recados etc;
7. Despersonalização — Momentos de confusão mental em que a pessoa não sente seu corpo como habitualmente. Pode se sentir flutuando ao ir ao trabalho, tem a percepção de que não controla o que diz ou que fala, não se reconhece;
8. Mudanças evidentes de comportamento — Dificuldade de aceitar certas brincadeiras com bom senso e bom humor;
9. Vazio interior e sensação de que tudo é complicado, difícil e desgastante;
10. Depressão - marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido;
11. Finalmente, a síndrome do esgotamento profissional propriamente dita, que corresponde ao colapso físico e mental. Esse estágio é considerado de emergência e a ajuda médica e psicológica têm que ser prestadas com urgência.