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NOVEMBRO ROXO
A força dos pequenos: como o cuidado multiprofissional transforma vidas na prematuridade
Brasília (DF) - A força do pequeno João Pedro é o retrato mais puro da esperança. Nascido com apenas 34 semanas de gestação, ele enfrentou dias intensos de internação, cirurgias e incertezas no Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio/Ebserh). Ao longo dessa jornada, foi acolhido por uma rede de cuidado que o ajudou a vencer cada desafio imposto pela vida. Para a mãe, Danielle Pereira, a trajetória do filho se resume em uma palavra: gratidão.
A história de João é uma entre milhares que inspiram o Novembro Roxo, mês dedicado à conscientização sobre a prematuridade. No Brasil, cerca de 12% dos nascimentos ocorrem antes das 37 semanas de gestação — o que representa aproximadamente 300 a 340 mil bebês prematuros por ano, segundo o Ministério da Saúde. O país está entre os dez com maior número absoluto de partos prematuros no mundo. O desafio, porém, vai além da sobrevivência: é garantir qualidade de vida a esses pequenos pacientes.
Os hospitais universitários federais vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) reforçam ações voltadas ao cuidado, ao acolhimento e à atenção especializada no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
O amor e a dedicação salvam vida
Com apenas 34 semanas de gestação, Danielle passou por uma cesariana de emergência após 13 dias de internação. O bebê foi encaminhado à UTI Neonatal do HUGG em 16 de abril deste ano. Desde então, enfrentou um processo complexo, que incluiu cirurgia cardíaca aos 1 mês e 16 dias de vida, uso prolongado de ventilação mecânica e outras intervenções delicadas.
“Foram dias angustiantes, mas sempre sentimos o amor de Deus e o carinho de todos os médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, que trataram o João com um cuidado que ia além do profissional — era humano, verdadeiro”, relata Danielle. Após meses de internação, João Pedro está agora na pediatria do HUGG, em processo de introdução alimentar. “O João é o nosso milagre. Ele é a prova viva de que o amor e a dedicação salvam vidas”, diz a mãe, emocionada.
Desafio de saúde pública
Para a neonatologista Daniela Marques Ferreira, chefe da UTI Neonatal do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), a prematuridade segue sendo um grande desafio de saúde pública. “Embora tenhamos avançado muito em diagnóstico, prevenção e cuidados neonatais, o número de partos prematuros permanece elevado. O desafio atual é duplo: reduzir a incidência da prematuridade e garantir a sobrevida com qualidade, minimizando as complicações a curto e a longo prazo”, afirma.
Um bebê é considerado prematuro quando nasce antes de completar 37 semanas de gestação. Conforme a idade gestacional, são classificados como extremamente prematuros (menos de 28 semanas), muito prematuros (entre 28 e 31 semanas) e moderados (entre 32 e 36 semanas). Quanto menor a idade gestacional, maior a complexidade do cuidado.
“Os principais desafios imediatos são garantir a estabilidade respiratória, o controle da temperatura corporal, a manutenção da glicemia e a prevenção de infecções. Além disso, é essencial oferecer suporte nutricional adequado para favorecer o crescimento e o desenvolvimento neurológico”, detalha Daniela.
Entre os principais fatores associados ao parto prematuro, a médica destaca infecções maternas, hipertensão na gestação, diabetes gestacional, gravidez de gêmeos ou múltiplos, malformações fetais e alterações uterinas. “Também há influência de fatores sociais, como o início tardio do pré-natal, estresse materno, tabagismo e o uso de substâncias ilícitas. Em muitos casos, entretanto, a causa exata não é identificada”, explica.
No HC-UFU, cerca de 250 recém-nascidos prematuros são atendidos por ano na UTI Neonatal. O hospital prioriza o Método Canguru, que incentiva o contato pele a pele entre bebê e pais, fortalecendo o vínculo afetivo e contribuindo para o ganho de peso, a estabilidade clínica e o desenvolvimento neurológico. O cuidado é multiprofissional, envolvendo neonatologistas, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais e farmacêuticos clínicos.
Prevenção começa no pré-natal
A neonatologista Bruna Auto, chefe da Divisão Médica do Hospital Universitário Professor Alberto Antunes (HUPAA-Ufal), reforça que o pré-natal de qualidade é o principal instrumento de prevenção da prematuridade. “Não basta garantir o acesso ao pré-natal; é preciso assegurar também o acesso oportuno aos exames e o retorno rápido. Quando uma gestante não faz uma ultrassonografia no primeiro trimestre ou demora semanas para receber o resultado de um exame, perde-se o tempo de tratar infecções ou identificar condições pré-eclâmpsia e diabetes gestacional”, explica.
A especialista destaca a importância de identificar precocemente fatores de risco, como diabetes gestacional, obesidade, idade materna nos extremos, histórico de perdas gestacionais e partos prematuros anteriores. “A prevenção começa com o cuidado perinatal, que une obstetras, enfermeiros e neonatologistas em um trabalho integrado, com toda a equipe multiprofissional”.
No HUPAA, a assistência neonatal atua desde o primeiro minuto de vida, com equipe treinada em reanimação neonatal na sala de parto, conforme diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Cada minuto importa”, resume Bruna. Em 2024, o HUPAA atendeu 672 recém-nascidos prematuros (menos de 37 semanas), o que corresponde a 39,25% dos nascidos vivos na maternidade.
Prematuridade de emoções
O nascimento prematuro costuma vir acompanhado de medo, ansiedade e incertezas. Na UTI Neonatal do Hospital Universitário Antônio Pedro (Huap-UFF), o trabalho da equipe é fundamental no apoio às famílias.
De acordo com a psicóloga Andreia Thurler, a unidade busca oferecer um cuidado que envolve o recém-nascido, os familiares e a rede de apoio, promovendo o desenvolvimento do bebê, a proteção neurocerebral e o fortalecimento dos vínculos afetivos. “O envolvimento precoce da família é essencial para o desenvolvimento do bebê e para a vinculação mãe-bebê”, aponta. O acompanhamento inicia ainda na gestação, com integração entre as equipes da maternidade e da neonatologia, e segue após a alta hospitalar, por meio do ambulatório de follow-up, que monitora o desenvolvimento do bebê até os dois anos de idade.
A equipe multiprofissional do Huap-UFF atua em atendimentos individuais e grupais. “Os pais de bebês prematuros vivenciam uma ‘prematuridade de emoções’. A Psicologia oferece um espaço de escuta e apoio, ajudando-os a elaborar sentimentos e a participar ativamente do cuidado”, destaca Andreia.
O Huap conta também com o acompanhamento de casos de luto perinatal e neonatal, com suporte contínuo às famílias.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo em que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Reportagem: Elenita Araújo com revisão de Danielle Morais
Coordenadoria de Comunicação Social/Ebserh