Conversa com o Presidente - Live do dia 5.set.23
TRANSMISSÃO | Conversa com o Presidente #13
Jornalista Marcos Uchôa – Bom dia, é um prazer ter vocês aqui em mais um Conversa com o Presidente. Um setembro que, aliás, é o primeiro programa de setembro, um setembro que ele vai ser muito cheio, muito importante pra gente no Brasil. O presidente Lula vai viajar também bastante e tem muita coisa sendo feita pelo governo agora. Você tá vendo aqui, tava reparando aqui, que tem mais o microfone aqui, mais uma cadeira, vai ter uma surpresa, daqui a pouquinho a gente avisa. Vamos começar com o presidente aqui porque, nesta semana passada, a gente teve notícias muito boas, quer dizer, a questão do desemprego caindo para menos de 8% – pela primeira vez desde 2014, quase 10 anos –, o crescimento do trimestre também foi muito bom, 0,9. Ninguém esperava, quer dizer, pelo menos o mercado não esperava, mas, embora o senhor, diga-se mais otimista, essas duas coisas são exatamente o que a gente quer, quer dizer, mais gente trabalhando e com esse crescimento, é isso né?
Presidente Lula – Tem duas coisas mais importante aí, Uchôa. Uma delas é que o número de trabalhadores que fizeram acordos salariais acima da inflação chegou a quase 90%. O que no governo passado era 80% abaixo da inflação. E uma outra coisa interessante é que a massa salarial cresceu também. Ora, nós estamos no mês de setembro, mês de setembro é o mês da primavera. Eu vou começar esse programa dizendo o seguinte: os nossos adversários podem tentar destruir uma, duas ou três rosas, mas a primavera vai chegar. Ela vai chegar com mais salário, vai chegar com mais emprego, vai chegar com melhoria da educação, ela vai chegar com melhoria na relação internacional do Brasil, ou seja, nós vamos, definitivamente, provar que é preciso cuidar, é possível cuidar desse povo com carinho, com o chamego, com, sabe, fazer com que as pessoas vivam em um país mais decente. Isso é bom.
Agora, eu acho que é importante a gente começar também esse programa prestando uma solidariedade ao povo gaúcho, da região de Passo Fundo e da região de Caxias. Ou seja, teve uma chuva, há um pouco tempo atrás a gente tava lá, solidário, fomos lá, vários ministros, inclusive o nosso querido deputado Pimenta, ministro da Secom, foi lá porque tinha uma seca em várias regiões, nós fomos lá com vários ministros para tentar ajudar. E, agora, tem, tem excesso de chuva. Choveu muito em algumas regiões, tem alagamento, eu, pelo que eu vi, tem quatro mortos já, e eu queria dar um comunicado ao povo do Rio Grande do Sul, que amanhã o ministro da Defesa Civil vai ao Rio Grande do Sul, que o chefe da Defesa Civil vai ao Rio Grande do Sul e, outra vez, dizer ao povo gaúcho que nós estamos prontos para ajudar naquilo que for necessário. Aonde tiver um problema o governo federal estará lá para ajudar as pessoas a se salvar destes problemas, portanto, nossa solidariedade ao povo gaúcho. Peço a Deus que diminua a chuva, porque as pessoas precisam ter paz, tranquilidade e sossego pra continuar vivendo bem, trabalhando e curtindo a vida como é de direito de todo mundo.
Jornalista Marcos Uchôa – E, se tem um estado que tá sofrendo muito com a questão do meio ambiente, do aquecimento global, é o Rio Grande do Sul, porque a gente tem, nos últimos quatro anos, foram três anos de seca, e essa é a segunda chuva horrorosa que o Rio Grande do Sul tá vivendo esse ano, né? Parece que essa é pior do que a primeira, se não me engano, mas, assim, é muito preocupante, mas é exatamente esses extremos, né, que a gente tá vendo no planeta como um todo e o Rio Grande do Sul tá vivendo isso o tempo todo, né?
Presidente Lula – O que tá acontecendo, na verdade, é um alerta para que a humanidade se dê conta de que esta questão do clima não é uma questão menor. Não é uma questão de professor de universidade, não é uma questão de ambientalista, é uma questão da humanidade, do planeta, está sofrendo as consequências da irresponsabilidade do ser humano. Há muito tempo nós temos dito que o ser humano é a única espécie animal do planeta Terra capaz de se autodestruir, capaz de destruir o seu habitat natural, então é muito simples: o planeta é nosso, nós estamos aqui, não temos para onde ir. Não temos. A Lua não comporta gente. Marte não comporta gente. Ou seja, a gente não pode viver no fundo do oceano, que morre todo mundo, então, nós temos que viver na Terra. Ora, se isso aqui é nossa casa, se isso aqui é nosso barco, se isso aqui é o nosso espaço, nós temos que cuidar. Cuidar da sua sala, cuidar como você cuida da sua cozinha, cuidar como você cuida do seu quintal, ou seja, não é, não é um problema dos outros, é um problema nosso.
Por isso, eu falei com o ministro da Educação [Camilo Santana] que eu quero ver se a gente consegue colocar a questão climática no currículo escolar para que as crianças possam, desde cedo, ter uma noção do que é a importância, sabe, da gente preservar a natureza, da gente cuidar da natureza. Nós temos que cuidar das árvores, nós temos que cuidar das águas, nós temos que cuidar da fauna, mas temos que cuidar do ser humano. Cuidar do ser humano, porque se ele não tiver bem, ele é destruidor, sabe. Então, nós temos que cuidar. Então, eu queria também dizer que, é muito importante, hoje é o Dia da Amazônia, dia 5 de setembro é o Dia da Amazônia. Vai ter uma atividade no Palácio do Planalto, com a ministra Marina [Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática], com a ministra Guajajara [Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas], nós vamos demarcar algumas terras indígenas, vamos demarcar algumas áreas de proteção ambiental, sabe, e vai ser muito bom. Vai ter coisa importante pra gente poder avisar hoje.
Jornalista Marcos Uchôa – Bom, já que o senhor levantou essa bola, eu vou chamar o nosso convidado e a gente, pela primeira vez, a gente está convidando um ministro pra participar do programa. Vai existir isso outras vezes também. E eu queria chamar o ministro Camilo Santana, da Educação, que o presidente já falou da questão do ensino de meio ambiente, mas tem muita coisa nova na área do Ministério da Educação, ministro, por favor. Sente aqui, é prazer ter o senhor aqui com a gente e, obviamente, essa área é super importante, né?
Presidente Lula – Uchôa, se você me permite.
Jornalista Marcos Uchôa – Sim, você é repórter também.
Presidente Lula – Fazer uma apresentação do Camilo. Eu fiz questão de trazer o Camilo hoje, aqui, por uma razão muito simples: o estado do Ceará é um estado que há muitos anos vem sido notado como o estado que melhor investe no ensino fundamental, que investe no ensino técnico. O estado do Ceará é o estado onde as pessoas mais ganham medalha de ouro nas Olimpíadas de Matemática. O estado do Ceará é o estado onde as pessoas mais passam no vestibular pra fazer curso no ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica], tá? Por isso nós resolvemos premiar o estado do Ceará e vamos levar uma extensão do ITA para Fortaleza. Pra gente mostrar que a gente não tá brincando, estamos agradecidos ao estado do Ceará. Por essas e outras, o companheiro Camilo virou ministro da Educação, daí eu falei pra ele que até agora o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] era o melhor ministro da Educação e que ele agora tem a responsabilidade, ele ainda tem três anos e quatro meses pela frente, para se transformar no melhor ministro da Educação. Eu tava lendo o material que eu recebi do Ministério da Educação, da sua assessoria de imprensa, Camilo, e vi um texto que me interessou. Seguinte: política de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. O que que é isso, Camilo?
Ministro Camilo Santana – Primeiro, presidente, bom dia. Bom dia, Uchôa. Bom dia a todos os telespectadores. Presidente, a política, o Plano Nacional de Educação, a Meta 4, ela estabelece que as pessoas com deficiências, autistas, precisam estar incluídos nas salas normais das escolas públicas ou privadas desse país. Em 2008, foi lançada a política nacional, que é a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Inclusão, essa inclusão, exatamente, esse aluno estar na sala de aula juntamente com os outros coleguinhas. Isso as evidências já mostraram que ele aumenta seu aprendizado, a sua, o seu desenvolvimento, então, essa política foi, inclusive, criada no seu governo, presidente, e – infelizmente, no governo passado, de certa forma, houve um retrocesso, inclusive, no dia 1º de janeiro, quando o senhor assumiu a presidência, você revogou um decreto do antigo presidente que trazia todo um retrocesso nessa política – inclusive aumentando no seu período, de 2008 a 2015 foi ampliado em 219% a inclusão desses alunos em sala de aula. Agora nós queremos retomar com essa política, fortalecendo essa política, afirmando essa política, portanto, daqui alguns dias o senhor vai lançar uma política com metas estabelecidas, ele tem formação de professores, metas para incluir esses alunos que, inclusive, estão fora da escola, para trazer pra escola. Que é direito deles, quebrar o preconceito, então, essa é uma política importante porque é olhar para as pessoas que precisam de apoio.
Presidente Lula – Vai ter espaço pra cuidar das pessoas com autismo?
Ministro Camilo Santana – Tem cuidadores, tem salas multifuncionais com atividades, materiais especiais para cada tipo de estudante e cada dificuldade, cada dificuldade que, que ele possa ter, então, essa é uma política importante de inclusão, de afirmação, que nós queremos agora fortalecer, afirmar; e o senhor deverá estar anunciando em breve.
Presidente Lula – É importante, Uchôa, só a gente fazer um chamamento para as famílias que têm alguma criança com algum problema, sabe, ela precisa saber o seguinte: essa criança tem todas as condições de aprender, essas crianças têm todas as condições de ir embora, sabe, estudando, fazer coisas boas. O que é preciso é a gente não ter vergonha, a gente cuidar das nossas pessoas, levar pra escola, que cabe ao Estado criar condições para que essas crianças sejam recebidas normalmente, sem nenhum problema, sem nenhum preconceito. Isso é muito importante. Continua com a palavra, Uchôa.
Jornalista Marcos Uchôa – Ministro, uma das novidades é a questão do transporte escolar, né, porque, lá atrás, houve uma melhora enorme da merenda escolar. Mas, pra a criança comer, ela tem que chegar na escola.
Presidente Lula – Olha, não se fala mais merenda escolar, agora é alimentação escolar.
Ministro Camilo Santana – Alimentação…
Jornalista Marcos Uchôa – Enfim, ainda sou velho, tô na época da merenda. Mas, a alimentação pra criança se alimentar, ela tem que chegar. Então, a questão do transporte também era muito importante e vai atingir muita gente. Queria que o senhor falasse um pouquinho sobre isso.
Ministro Camilo Santana – Olha, Uchôa, quando o presidente me deu a missão de assumir o ministério, ele determinou, primeiro, é uma reconstrução que nós estamos fazendo do país e também do ministério, que foi uma das áreas mais afetadas ao longo dos últimos anos. Para se ter uma ideia, a alimentação escolar, seis anos sem reajuste. E foi uma das primeiras determinações do presidente – porque o Programa Nacional da Alimentação Escolar ajudou a tirar o Brasil do Mapa da Fome –, então, a determinação do presidente foi, primeiro: reajustar os valores. Nós reajustamos em média 39%, o reajuste pegando toda a inflação dos últimos anos, presidente, por sua determinação. Um bilhão e meio a mais de recursos para garantir, porque ainda, infelizmente, Uchôa, nesse país, ainda tem crianças que a única boa limitação que ela faz é quando vai à escola. Então, hoje, o ministério tá investindo 5,5 bilhões por ano só em alimentação escolar, para levar alimentação para as crianças, e, agora, o presidente está anunciando um reajuste também – com grande reclamação dos prefeitos, presidente –, era o valor do Programa Nacional de Transporte Escolar, então, o transporte escolar hoje, presidente, estamos anunciando para um reajuste de em média 16%, algo em torno de mais de R$ 100 milhões, que nós estamos, que o ministério repassa para municípios e estados para, exatamente, levar àquela área rural, que precisa levar transporte escolar, do ônibus escolar.
Jornalista Marcos Uchôa – E quantas crianças são atingidas?
Ministro Camilo Santana – Aproximadamente 4,6 milhões de crianças serão atendidas com esse programa, presidente. São quase R$ 900 milhões que serão investidos este ano. Agora, dia 10, nós já vamos passar com o novo repasse já pros municípios e estados brasileiros e cerca de 4985 municípios brasileiros, cidades brasileiras, serão beneficiadas com esse programa. Então, notícia boa para a educação brasileira em relação, também, a mais uma ação importante que o presidente anuncia.
Presidente Lula – E vai haver compra de ônibus escolar?
Ministro Camilo Santana – O senhor autorizou também no PAC, agora, porque esse tinha sido praticamente encerrado com recurso do ministério. Então, no Novo PAC, que o senhor anunciou, na linha da educação, nós vamos ter novas creches, novas escolas e vamos ter novos institutos federais, novas universidades, mas também vamos ter novos ônibus escolares. Está previsto, inicialmente, três mil ônibus, presidente, nosso. FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação] está concluindo uma ata para 16 mil ônibus escolares. Há uma demanda enorme porque o programa praticamente parou nos últimos anos, então, a gente vai agora retomar a importância de ter ônibus com acessibilidade, de qualidade, pro nosso aluno ir com segurança. Junta aí o transporte, como também o auxílio, também, que agora o senhor está anunciando hoje.
Jornalista Marcos Uchôa – Maravilha.
Presidente Lula – Eu não sei, viu, Uchôa, se as pessoas têm noção. Eu acho que todo mundo que pode estar nos assistindo, que mora de aluguel ou que mudou para uma casa que já era usada, todo mundo sabe o seguinte: ou seja, quando você vai fazer a rearrumação da casa, ou seja, você tem um imóvel, ele foi alugado e quando você pega ele de volta, ele está destruído. É prego na parede, é papel colado não sei onde, é um banheiro entupido, é a pia que não... O que nós estamos fazendo, na verdade, é o seguinte: até agora foi recuperar tudo aquilo que funcionava perfeitamente bem no tempo que a gente governou esse país. Então, nós estamos trazendo isso pra civilidade. A verdade é essa.
Estamos recuperando, recuperando num trabalho muito árduo porque essa meninada que está comigo no governo agora, eles têm trabalhado nesses últimos oito meses mais do que eles trabalharam a vida inteira, porque é preciso muita dedicação para arrumar a casa. É preciso muita dedicação para colocar a casa em ordem. Ela agora está em ordem. Ela, agora, já foi decidido tudo que a gente vai fazer, nós lançamos o PAC e, agora, o que eu quero é que cada ministro cuide, cuide efetivamente, de fazer funcionar e utilizar o dinheiro que vai ser disponibilizada a partir de 2024 para o PAC, porque, quanto mais a gente efetivar, sabe, o compromisso do dinheiro, mais a gente vai ter obra pronta, mais a gente vai poder entregar as coisas pro povo brasileiro. E, na questão da educação, a gente não pode esperar, nós temos milhões de crianças que saíram do Covid mais atrasadas do que entraram no Covid. Crianças pobres que perderam, praticamente, dois anos de educação. Nós temos que ter um trabalho imenso para tentar recuperar a capacidade dessas crianças voltarem a aprender. E nós queremos que essas crianças aprendam a ler, sabe, nos dois primeiros anos de escola. As pessoas têm que aprender a ler. Coisa que, muitas vezes, as crianças estão na quinta série e não consegue ler o texto, não consegue interpretar. Então, é preciso melhorar a qualidade. E essa é a nossa obrigação e eu tenho certeza que, se a gente colocar em prática parte daquilo que foi o sucesso da política educacional no estado do Ceará, eu acho que a gente vai fazer com que o Brasil, efetivamente, seja um Estado com educação fundamental muito preparada e de boa qualidade. É isso que nós queremos. Se a criança estiver preparada no ensino fundamental, quando ela chegar no segundo grau, ela está mais preparada ainda. E nós queremos colocar o ensino técnico-profissional, ou seja, eu tenho cinco filhos, eu vou contar meu caso. Eu tenho cinco filhos, que terminaram o fundamental, fizeram o segundo grau, tá? Pra depois prestar vestibular para a universidade. Ora, quando ele estava com 17, 18 anos queria procurar emprego e não sabia fazer nada. Chegava numa loja "o que você sabe fazer?" "Nada". Ia pedir emprego e não sabe fazer nada, ou seja, não aprenderam nada, estudaram três anos sem aprender nada, a não ser a questão das humanas.
Então, é importante que a juventude compreenda: aprender uma profissão é uma coisa sagrada. Ter uma profissão, você vai ter acesso ao mercado de trabalho em qualquer lugar do Brasil – eu diria até em qualquer lugar da América do Sul que você for – você vai ter um emprego garantido porque você tem uma profissão. Você vai ver a diferença: você chega num lugar para procurar emprego e o cara pergunta: "o que você sabe fazer?". Se você falar "eu sei fazer isso, isso e isso e tenho um diploma disso", o cara, se não te contratar, vai fazer um currículo pra te chamar. Mas, se você fala "eu não sei fazer nada", o cara fala "não tem vaga" e você vai continuar perambulando. Então, aprender a profissão, fazer o técnico-profissional é extremamente importante. Se tem uma coisa que eu me arrependo é não ter feito com meus cinco filhos técnico-profissional. Eu achei que ele só tinha que trabalhar quando tivesse curso universitário, ou seja, daí fizeram universidade e continuaram desempregados. Então, o que eu quero é a gente, precisa melhorar a qualidade. Se a molecada tiver estudando profissionalmente, a gente vai melhorar nossa capacidade de produtividade, a gente vai melhorar a nossa capacidade de competitividade e a gente vai produzir coisas melhores do que outros países. Porque o que faz eles produzir coisa de qualidade é a educação.
Jornalista Marcos Uchôa – Sim.
Presidente Lula – É isso que faz, então, Camilo, o que mais que você tem de novidade na educação?
Ministro Camilo Santana – Primeiro, presidente, só para – importante as pessoas entenderem –, que o primeiro passo foi a reconstrução. Portanto, lembrar que o senhor autorizou reajuste também na alimentação escolar, agora do Programa Nacional de Transporte Escolar, reajuste das bolsas estudantis, aliás, a partir do próximo ano nenhum indígena ou quilombola ficará sem bolsa universitária e apoio à assistência estudantil neste país, por orientação do senhor.
Presidente Lula – Repete aí, que é importante.
Ministro Camilo Santana – Nenhum indígena, aluno ou quilombola ficará sem bolsa de assistência estudantil a partir do ano que vem. Nós vamos universalizar para esse público, a importância dele. Depois, o senhor aumentou o reajuste, que mais de dez anos não tinha, de bolsa de mestrado, doutorado na área da pesquisa, da ciência, deste país, porque são as universidades que fazem e realizam pesquisa e ciência nesse país. Então, o senhor, as obras paralisadas, presidente, o senhor autorizou que as quase 3,6 mil obras – creches e escolas – que estavam paralisadas nesse país pudessem ser retomadas. Mais de 2,5 mil já aderiram ao programa para serem retomadas agora, fora todas as que o senhor está autorizando, não atrasar para não paralisar. E o senhor já lançou programas novos importantes, que, o senhor acabou de falar sobre a alfabetização das crianças. Uchôa, 61% das crianças do Brasil não aprendem a ler e escrever na idade certa. Isso, presidente, compromete toda a evolução dos anos da educação básica. O senhor lançou o Programa Compromisso Criança Alfabetizada no Brasil, que já aderiram, presidente, 100% dos estados, 97% dos municípios já aderiram ao programa, aliás, já escolhemos coordenadores estaduais, regionais. Garantir que toda criança saiba ler e escrever ao final do segundo ano do ensino fundamental no Brasil. Aliás, presidente, amanhã é o Dia Mundial da Alfabetização, portanto, parabenizar as pessoas porque esse é um passo importante. Já dizia Paulo Freire, a importância da alfabetização das pessoas. Vamos lançar também, agora em breve, o novo EJA, que é alfabetização de jovens e adultos, que é importante, um programa também que foi desarticulado pelo governo passado. E o senhor foi o presidente que mais investiu na interiorização e na ampliação das universidades e institutos federais. O senhor falou muito bem da escola técnica, a escola técnica, presidente, nós queremos ampliar a oportunidade do jovem, hoje, fazer uma capacitação profissional e técnica no ensino médio brasileiro. Esse vai ser o foco. Além da escola de tempo integral, o senhor já lançou, 100% dos estados aderiram, 82% dos municípios já aderiram a essa política de tempo integral, que vamos ampliar. O presidente vai investir, Uchôa, R$ 4 bilhões, por ano, para ampliar as matrículas de tempo integral com foco no ensino médio, no ensino profissionalizante. Porque é o que o senhor disse: é importante o jovem terminar o ensino médio com a formação, com a capacitação.
Jornalista Marcos Uchôa – Camilo, eu tenho uma dúvida que, que queria que se falasse um pouquinho porque, quando a gente fala em educação, todos nós, assim, a gente lembra de uma professora, em geral é mulher, em geral uma professora, quando a gente é criança. E a valorização dessa professora, a melhora da qualidade do ensino dela, a formação dela, isso também é muito importante, né?
Ministro Camilo Santana – Todos os programas, nós estamos, hoje, discutindo com as universidades a formação inicial de professores, que a qualidade dessa formação, ela é avaliada pelo Enade [ Exame Nacional de Desempenho de Estudantes] e a formação tá muito baixa. Portanto, temos que melhorar a formação inicial dos professores e tem um programa dentro do MEC [Ministério da Educação], que é a formação continuada, ou seja, todo momento você reciclar e estimular que o professor possa fazer um curso de especialização, possa fazer um curso de mestrado. Porque, se a gente tem um bom professor, dentro de uma metodologia pedagógica boa, melhora a aprendizagem e, nós temos hoje o piso do magistério no Brasil, que foi uma grande conquista dos professores desse país, que é importante reconhecer e valorizar os nossos profissionais da educação nesse país, presidente.
Jornalista Marcos Uchôa – Com uma boa professora você pode ter uma sala de aula meio caindo aos pedaços, mas uma boa professora salva um aluno, né?
Ministro Camilo Santana – Com certeza. Então nós vamos ter aí...
Jornalista Marcos Uchôa – Você se lembra de uma boa professora sua?
Presidente Lula – Eu lembro. Eu lembro, não esqueço nunca. Eu tinha, eu tinha a dona Terezinha, que é do tempo de Itapema, lá em Santos, Vicente de Carvalho hoje, que ela até queria ficar comigo quando a minha mãe convidou a gente para vir para São Paulo. Ela até achava que ela poderia ficar comigo, então a dona Terezinha. E a dona Zoraide, aqui no bairro da Vila Carioca, em São Paulo, ali perto do Museu do Ipiranga, que foi a minha professora no quarto ano. Então, eu tenho lembrança dela, mas eu também tenho lembrança da servente que entrava com uma régua de um metro na mão e se a gente jogasse tinta – o tinteiro ficava atrás –, se a gente jogasse tinta no da frente, ela dava uma reguada de quina na cabeça da gente. Eu lembro que escola tinha dentista. Eu lembro que a escola tinha dentista, o dentista passava, de vez em quando, para ver se as crianças... Coisas que nós precisamos fazer. Ou seja, se você tiver dentista que passa na escola para ver, sabe, a boca das crianças, a gente vai evitar cárie. A gente vai educar eles como que faz a saúde bucal.
Então, as coisas só podem melhorar se você quiser cuidar, definitivamente, das pessoas. Cuidar. A palavra cuidar, pra mim, vale dez vezes mais do que a palavra governar. Governar é o cara que faz uma ponte. Tá governando o quê? Agora, cuidar é cuidar das pessoas, você tem que saber como é que anda a pessoa, como é que tá a mãe, como é que tá o pai, como é que tá o filho, a qualidade da comida. Eu tô vendo as crianças comer, aqui, e me deu uma fome. Aquele macarrão que eles estão comendo me deu uma vontade de comer, tô quase pedindo uma banana para comer aqui junto com eles. Tô quase pedindo uma banana aqui e comendo.
Jornalista Marcos Uchôa – Mas, presidente, nesta semana você falou em Fome Zero também, que foi muito importante. Que é uma coisa de vinte e tantos ministérios, é uma coisa do governo como um todo, né?
Presidente Lula – Nós lançamos o programa Brasil Sem Fome, que é um programa que tem 80 ações, sabe, envolvendo vários ministros, acho que é 19 ou 20 e poucos ministros, para que a gente possa levar mais a sério, sabe? Não é uma tarefa para terminar num dia, mas é uma tarefa que nós vamos fazer acontecer, trabalhando todo dia, cuidando todo dia. Aí depende muito da capacidade que a gente tenha, sabe, de fazer a produção da pequena e média propriedade rural, da agricultura familiar, produzir mais e produzir cada vez mais alimentos saudáveis. A gente recriou o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos] pra gente comprar alimento, ou seja, as coisas vão acontecer. Sabe, eu tenho dito para as pessoas o seguinte: não se preocupe que a economia vai voltar a crescer. Vai voltar a crescer pelo seguinte: na medida que você percebe que o dinheiro está sendo espraiado para as pessoas mais pobres, o dinheiro está chegando na base, o dinheiro está chegando nas pessoas que precisam. Eu fui no, fui no BNB, [Banco do Nordeste] no Nordeste, com o Camilo, no anúncio do Crediamigo, sabe, é um negócio poderoso, envolve dois milhões de pessoas que pegam dinheiro emprestado e que pagam. Apenas 3% de inadimplência. Três por cento. Significa que as pessoas pobres que trabalham, dona de casa, o pequeno e médio empreendedor, aquele que, muitas vezes, ele só tem como garantia o seu caráter. Ele só tem como garantia a sua fisionomia, o seu rosto, a sua família, então, ele não quer passar vergonha. Ele paga.
Quem gosta de dever são os grandão, que vive devendo de um banco pro outro, enrolando governo. É por isso que tem quase 1 trilhão de 700 bilhões de dívida, sabe, dos ricos aí para pagar pro governo. E, quando o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] faz uma medida para que a gente receba esse dinheiro, sabe, eu não sei se você sabe, ou seja, o dinheiro, ele tinha um tal de CARF [Conselho Administrativo de Recursos Fiscais], que é o negócio da Receita Federal, em que é o litígio entre os devedores e a receita, e eles se reúnem. Quando empata, o empate é pro, pro devedor. Ou seja, o Estado sempre quebra a cara. Não, o Estado tem que ser o desempatador disso. Então, sabe, deu empate, o Estado fica, o dinheiro fica pro governo, sabe, para fazer política, para fazer política pública. No Brasil ainda tem muita gente que não está acostumada com essas coisas. Sabe, no Brasil se costuma dizer: "o estado é incompetente", "o Estado não sei das quantas", "o Estado é inoperante", quando na verdade, toda vez que tem uma crise no mundo, quem salva é o Estado. Foi assim na pandemia.
Havia até. O Faustão, esses dias, fazendo elogios ao SUS [Sistema Único de Saúde]. O SUS sempre foi uma coisa impressionante neste país. Mas, muita gente da iniciativa privada fazia questão de tentar destruir a imagem do SUS. Você atende mil pessoas por dia e uma pessoa que não consegue ser atendida que vira manchete dos jornais e não as 900 que foram atendidas. As pessoas passaram a compreender a importância do SUS, as pessoas passaram a compreender a importância do Estado.
O Estado, ele não cria dinheiro, o Estado arrecada dinheiro, sabe, daquilo que as pessoas trabalham, através dos impostos. O que é que nós fazemos: é devolver da forma mais justa possível para o conjunto da sociedade. Quando a gente fala que o pobre paga, proporcionalmente, mais imposto de renda do que o rico, é verdade. É verdade. Um dia desses, eu vi duas pessoas conversando e uma pessoa falou assim pra outra: "esse mês eu lesei os cofres públicos. Eu deixei de pagar 32 milhões de imposto de renda. Não é que eu sou caloteiro, é que eu usei mecanismo da lei que me permite não pagar". O pobre não tem como escolher, o pobre recebeu a folha de pagamento, desconta lá o Imposto de Renda dele. O trabalhador recebe participação no lucro, desconta Imposto de Renda. O rico recebe salário como dividendo e como lucro, e não paga. Então, essa é uma das discussões que estamos fazendo séria, que a gente não pode penalizar o trabalhador. O que a gente precisa é cobrar aquilo que é lucro, aquilo que é... Eu vou te dar um exemplo: se você tiver uma casa aqui em Brasília, uma mansão, e você deixar de herança pro teu filho, ele vai pagar apenas 4% de imposto de renda. Nos Estados Unidos, ele pagará 40%, sabe?
Jornalista Marcos Uchôa – E são essas mesmas pessoas que admiram os Estados Unidos. E lá paga.
Presidente Lula – Aqui tem gente que nasce, vive de dividendo da família, do pai passando o dinheiro, da família passando dinheiro, nasce e morre sem pagar imposto de renda. Sabe, enquanto o trabalhador, no seu primeiro salário. Agora, nós aumentamos a isenção até 2.640. Quem ganha até 2.640 não paga mais. Antes, era 1.900, sabe? Então, a pessoa ganhou mais do que isso, não tem choro e não tem vela, paga na fonte ali. Recebeu, pagou. Então, o que nós queremos é que todo mundo contribua para que todo mundo possa estar realizado.
Por isso, educação, por isso a educação é a coisa mais sagrada que tem. Sem educação, nenhum país do mundo vai pra frente. Nenhum país do mundo se desenvolveu sem antes não investir na educação, educação. Investir em ciência e tecnologia, investir em pesquisa, muita pesquisa, para que a gente possa se transformar num país autossuficiente em tudo. Eu queria dizer que o Camilo tem feito um trabalho excepcional, sabe. Obviamente, que ele só tem oito meses no ministério, ele ainda tem três anos e quatro meses pela frente, e eu espero que ele consiga fazer coisas importantes. Nós vamos fazer uma faculdade da matemática no Rio de Janeiro. Nós vamos pegar as crianças que passaram nas Olimpíadas de Matemática, os chamados gênios brasileiros, vamos colocar nessa faculdade…
Ministro Camilo Santana – Que o senhor criou, que o senhor criou as Olimpíadas…
Presidente Lula – Vamos colocar, vamos colocar nessa faculdade de matemática. Ele vai ter lugar para morar, vai ter lugar para almoçar, lugar para jantar, lugar para dormir, e a gente vai, ao invés de ver os nossos gênios saindo para ir se formar em qualquer lugar, ele vai se formar dentro do Brasil. A gente vai fazer um esforço muito grande para deixar os nossos gênios dentro do Brasil, ajudando a produzir riqueza para esse país, descobrindo coisas novas para esse país. É isso que é importante, sabe, pro Brasil. E nós vamos conseguir. Eu tenho certeza, eu tô otimista.
De vez em quando eu vejo as pessoas falarem: "ah, o Lula tem sorte". Tenho sorte mesmo! Tenho sorte porque nasci filho da dona Lindu. Tenho sorte porque me criei com educação de pai, ou melhor, de mãe muito forte, muito forte. Devo tudo que eu sou à minha mãe e tenho sorte porque eu brigo pra caramba, ou seja, sorte, quem, quem não correr atrás... O Pelé não seria o que ele é por causa da sorte. O Messi não é o que ele é por causa da sorte. O Cristiano Ronaldo não é o que ele é por causa da sorte. Todo mundo que venceu na vida, venceu porque trabalha pra cacete, sabe? Apenas alguns querem ganhar no mole, inventar, inventar cartão amarelo pra ganhar loteria, inventar gol, jogada falsa; isso não vale. Mas trabalhar, quem trabalha, quem trabalha e tem um objetivo, alcança.
Eu digo pra todo mundo; a coisa exemplar é a seguinte: se eu saí de Caetés e cheguei à Presidência da República, por que que as pessoas todas não podem vencer na vida? Podem! O que não pode é desanimar. Levanta de manhã "ah, tá tudo errado". Nada, cara. Pare de reclamar e acredite em você. Ponha fé no seu taco e fale: "eu vou vencer". Eu estou desempregado, eu vou arrumar um emprego. Não tem um emprego, corte grama, faça qualquer coisa. Mas não fique na rua para ser chamado de vagabundo.
Então, eu, eu vou levantar este país, eu tenho certeza. Eu vou levantar, não. O povo vai se levantar. O povo vai se levantar. A economia vai crescer, eu vou encontrar com a diretora do FMI [Fundo Monetário Internacional] , agora, em, na Índia. E, quando eu encontrei com ela, lá em Hiroshima, eu falei: "olha, eu vou provar pra vocês que o cálculo de vocês de crescimento de 1% na economia brasileira tá errado. Nós vamos crescer mais do que vocês estão prevendo". Eu vou chegar agora e falar "tá vendo? Nós crescemos mais do que eu disse para você". E vai crescer porque o dinheiro tá sendo irrigado, sabe, quando você abre um jato para você irrigar uma planta, não é do mesmo tempo que água chega em todas, ela vai chegando um por um. E a economia vai se acertando, ela está se acertando, apesar do comportamento do Banco Central. Apesar, a economia vai crescer.
Jornalista Marcos Uchôa – A previsão, no começo do ano era 0,78, já tá a quase 3%.
Presidente Lula – E vai crescer. E aí, esse moço tem muito a ver com o resultado disso aqui. A educação é efetivamente a base. E, quando ele falou que dá para cuidar do autista, é uma coisa, ô, Camilo, que é muito importante. Eu encontro muitas mães que falam: "presidente, pelo amor de Deus, ajuda a cuidar do meu filho, ele é autista. E nós temos que ter uma atenção especial pro autismo. Uma atenção especial, porque, sabe, é duro uma mãe sozinha cuidar de um filho que tem o autismo e nós precisamos fazer com que o governo abrace essa causa, sabe?
Ministro Camilo Santana – Essa criança precisa estar na creche, precisa estar na escola, precisa ter acompanhamento, e precisa estar incluída juntamente com os seus coleguinhas na escola. Esse é o que nós queremos fortalecer nessa política. Agora, presidente, o senhor me perguntou. Três coisas importantes. O senhor deverá também agora garantir a conectividade de todas as escolas públicas brasileiras, até 2026. Um programa em parceria, que já está construindo em parceria, com o Ministério das Comunicações. Uchôa, é garantir velocidade de banda larga para todas as escolas com fins pedagógicos, para que essa meninada também possa ter acesso à conectividade nas escolas por esse país. Segundo, presidente, o ano que mais evade aluno no ensino básico, você imaginar Uchôa, 13% dos alunos do primeiro ano do ensino médio abandonam a escola.
Jornalista Marcos Uchôa – Isso é grave, né?
Ministro Camilo Santana – Então, o senhor deverá encaminhar, agora, ao Congresso Nacional um programa que vai criar uma espécie de bolsa poupança pro jovem do ensino médio, para permitir que ele possa ter um estímulo. Claro que o estímulo tem que ser uma boa escola, que sintam vontade em ir para a escola, escola acolhedora, escola criativa, escola que possa dar uma formação e capacitação. Vai ser uma forma também de não perder essa meninada, presidente. Essa meninada está indo, muitas vezes abandonando a escola, indo para outras finalidades ruins, mas é importante que a gente possa garantir não perder nenhuma criança dentro da escola.
Presidente Lula – Ô, Camilo, era importante a gente descobrir o seguinte: quando você levanta de manhã pra mandar um filho teu pra escola e essa criança não está querendo ir para a escola, alguma coisa tá errada na escola, alguma coisa tá errada. Ou a criança não tá aprendendo uma matéria e ela rejeita a escola. Ou, às vezes, o professor ou a professora não agrada como deveriam agradar. Então, é preciso a gente descobrir o porquê. Quando a gente tiver a escola como um ponto de encontro das crianças brasileiras, ou seja, a molecada levanta de manhã querendo ir para escola, a molecada queria ir domingo pra escola, a molecada quer ir sábado na escola, foi assim nas Olimpíadas de Matemática, a molecada queria aprender matemática. A Suely Druck, que é professora do INPE [Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais], ela falou assim para mim: "ô, presidente, parece difícil a matemática, mas quando a criança aprende, ela não tem outra matéria que ela vai gostar mais do que a matemática". Então, o que nós precisamos é transformar a escola num lugar em que a criança se sinta bem. Ela, ela tem que ter mais do que uma cadeira, do que uma carteira, ela tem que ter um pouco de carinho, um pouco de alegria, um pouco de atividade, alguma coisa. Eu não sei bem o que é, mas você sabe o que é, os educadores brasileiros sabem o que é. É preciso fazer com que as crianças levantem de manhã exigindo da mãe: "eu quero ir pra escola". Exigindo do pai: "eu quero ir pra escola". Porque, quando ela fizer isso, é porque a escola está atendendo aquilo pelo qual ela existe. Eu acho que esse é um problema, Uchôa, que eu estou muito, mas muito convencido, que o Camilo vai, vai conseguir cumprir todas as metas que nós determinamos e que ele ajudou a construir, que os educadores ajudaram a construir, e esse país vai ser um país melhor. As pessoas vão viver melhor, as pessoas vão ter mais autoestima, as pessoas vão voltar a dizer aquilo que a gente dizia em 2005: “eu sou brasileiro e não desisto nunca”. Porque esse país é meu. Esse país é nosso. E nós vamos construí-lo com educação, com saúde, com trabalho, com respeito e com muita solidariedade.
Jornalista Marcos Uchôa – A gente tem o 7 de Setembro, aí, depois de amanhã, e o 7 de Setembro é a nossa data, data da Independência, bicentenário no ano passado, que foi, digamos assim, sequestrado por um discurso muito ruim. O que que é o 7 de Setembro agora? O discurso, a gente fala muito em reconstrução, união. É a oportunidade de voltar a pensar o 7 de Setembro de todos nós?
Presidente Lula – Olha, todo, todo país do mundo tem na festa da Independência uma grande festa. O que aconteceu no Brasil é que, como nós tivemos durante 23 anos um regime autoritário, a verdade é que os militares se apoderaram do 7 de Setembro, deixou de ser uma coisa da sociedade como um todo. O que nós estamos querendo fazer agora, com a participação do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, é voltar a fazer o 7 de Setembro de todos. Ou seja, o 7 de Setembro é do militar, é do professor, é do médico, é do dentista, do advogado, é do vendedor de cachorro-quente, é do pequeno e médio empreendedor individual, sabe, porque é de todo mundo, é uma festa importante em que o Brasil conquistou soberania diante do país colonizador. Se bem que a independência só veio depois mesmo, houve muita luta de outros estados, a mais marcante é o 2 de julho, na Bahia, em que foi ali que expulsou, definitivamente, os portugueses. Mas eu sempre gostei do 7 de Setembro, acho que é uma data importante pra nós, a nossa independência. Eu sou fissurado no Hino da Independência. Sou fissurado, eu acho que é um hino...
Jornalista Marcos Uchôa – É um hino bonito, né?
Presidente Lula – Eu e o Brizola, porque eu lembro que o Brizola [Leonel Brizola, ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul], quando tava vivo, o programa do PDT tocava o Hino da Independência. Eu gosto do Hino da Independência. Acho muito bonito e acho que vai ser um 7 de Setembro bom, pacífico, normal.
Jornalista Marcos Uchôa – O senhor vai falar de meio ambiente, também, vai valorizar isso também, que é importante.
Presidente Lula – Eu acho que o 7 de Setembro é o dia da gente comemorar, sabe, a nossa autonomia diante da coroa. Esse foi o grande feito. Ou seja, nós somos donos de nós mesmos. E eu acho que é um dia importante, eu vou participar. Acontece que, ainda meio dia, eu tenho que sair e já embarcar para a Índia, porque nós temos o G20, que é muito importante, que é muito importante, o Brasil tem muita conversa pra fazer, Brasil e Índia vão discutir a questão do etanol como combustível alternativo, que é extremamente importante. Nós temos que discutir com os outros países uma luta contra a desigualdade, sabe, nós temos que fazer o seguinte: esse dinheiro que está circulando pelo mundo aí, uma parte dele tem que tratar da desigualdade. Ou seja, a guerra já consumiu, em um ano, 2 trilhões e 224 bilhões, esta informação que se tem. Imagina se US$ 2,24 trilhões tivesse sido colocado pra saúde, tivesse sido colocado para combater a fome, tivesse sido utilizado pra ajudar os países mais pobres a se desenvolver. Outro dia eu estava em um debate e o jornalista me perguntou – debate, não; numa entrevista – se não era utópico. Eu fiz uma proposta, que os países africanos devem o equivalente a quase US$ 800 bilhões para o Fundo [Fundo Monetário Internacional] , sabe, e esses países, esses países, não vão poder pagar isso. Não tem como pagar. A dívida é muito cara. E eu, então, disse: "se os países ricos querem ajudar os países pobres, porque não transformar essa dívida, sabe, em obras públicas de interesse de cada país?" Pode ser fiscalizado pela ONU [Organização das Nações Unidas], pra saber se vai fazer mesmo. Olha, ao invés de pagar, faz uma ponte. Ao invés de pagar, faz uma hidrelétrica. Ao invés de pagar, faz um hospital. Ao invés de pagar, faz uma estrada, faz uma ferrovia. "Ah, mas isso é utópico". Eu acho que o ser humano precisa de um pouco de utopia. Porque só a vida real, às vezes, é dura e é ingrata. Então, um pouco de utopia alimenta a gente a estar sonhando, acreditar nas coisas que podem acontecer. Quando veio a pandemia, o Biden [Joe Biden, presidente dos Estados Unidos] não teve dúvida nenhuma. Ele colocou, ele aumentou a circulação de dinheiro e colocou 5 bilhões do Estado, 5 trilhões do Estado para fazer economia acontecer. Aqui nós colocamos dinheiro. E na Alemanha, a Europa, utilizou €$ 700 bilhões do Banco Central pra fazer a economia acontecer. Por que que não pode ser feito para ajudar os países africanos? Os países latino-americanos? Por que que tem uma porção de país pequeno e pobre na fronteira com os Estados Unidos? Por que que nenhum daqueles países crescem, vira uma Holanda, vira uma Finlândia, uma Noruega, uma Dinamarca? São países pequenos. Porque não tem uma política de desenvolvimento daquele país.
Então, me parece que as pessoas trabalham pras pessoas continuarem pobres. E eu estou numa idade que eu não me conformo que um cidadão nasça pobre, morre, seu filho nasceu e continua pobre, o seu neto nasceu e continua pobre, o seu bisneto nasceu... Não é possível! Alguma coisa tem que acontecer para que a gente vá subindo degrau, degrau por degrau, escalando conquistas sociais. Aqui no Brasil, cada vez que você sobe, você cai. Cada vez que você sobe, você cai. Uma vez eu disse que a vida do povo trabalhador é que nem um pau de sebo. Pau de sebo, pra quem está assistindo e não sabe o que é, na festa junina a gente coloca um poste de madeira, sabe, passa bastante sebo nele, e coloca um prêmio lá em cima. Aí você faz um concurso. Quem conseguir subir e pegar, ganhou o prêmio. E a maioria cai, a maioria cai. Então, a vida do trabalhador é assim: ele entra na empresa, o chefe comunica para ele: "olha, você vai começar trabalhando, você vai ganhar o piso, mas se você for progredindo, tiver assiduidade, se você trabalhar bem, você pode chegar no teto". Aí o cara começa a trabalhar, começa, quando ele tá pertinho do teto, pá! Ele é mandado embora. Aí começa tudo outra vez em outra fábrica, começa do zero. Quando ele tá quase chegando no primeiro, ele cai outra vez. Então, o que que nós queremos? É que a gente dê uma certa estabilidade social nesse país. Saber que o salário mínimo tem que aumentar todo santo dia, ou melhor, todo ano. Que as pessoas precisam ter possibilidade de ver que, a cada ano, ele vai subir um pequeno degrau, um pequeno degrau, um pequeno degrau. Ninguém quer, ninguém quer, tirar nada de ninguém, o que nós queremos é usufruir daquilo que nós produzimos e que nós temos direito. De compartilhar.
Por isso que eu sou otimista com relação ao Brasil. Eu, às vezes, fico pensando: "Por que que eu, com 77 anos de idade, sou tão otimista?". É porque eu tenho uma causa, a minha vida inteira eu tive uma causa. E, desde que comecei essa briga, em 1969, no sindicato, eu não parei mais. Eu sou daqueles que acho que, sabe, eu fico pensando: "Se um dia Deus quiser me levar, sabe, eu acho que eu vou, vou estar num palanque”. Eu vou estar em algum lugar, falando alguma coisa, porque eu não me vejo fora disso, eu não me vejo fora disso. Então, eu acho que é assim que a gente vai melhorar o Brasil. É assim.
Eu estou muito otimista com essa coisa do Camilo na Educação, mas muito otimista. Queria que o povo brasileiro soubesse que nós temos uma pessoa altamente qualificada com equipe altamente qualificada. Altamente qualificada. Eu gostaria que as pessoas compreendessem: melhorar a educação, às vezes a gente é obrigado a tomar a atitude que alguma outra pessoa não gosta. O que é importante é que no final a gente colha aquilo que foi plantado da forma mais bonita possível. É isso que vai acontecer na educação brasileira. Pode ter certeza que um torneiro mecânico, que não tem diploma na universidade, ainda vai fazer mais universidade, aliás, eu já anunciei que nós vamos anunciar a universidade na Zona Leste, lá na Cidade Tiradentes. O Haddad deu terreno quando era prefeito e não foi feito, nós vamos lá fazer, vamos fazer e fazer mais escolas técnicas, sabe, porque a educação não é gasto, é investimento, tá?
Jornalista Marcos Uchôa – Presidente, o programa tá ótimo…
Presidente Lula – Antes de você terminar, deixa eu fazer....
Jornalista Marcos Uchôa – Não, eu quero falar uma coisa também...
Presidente Lula – Fazer merchandising aqui. Hoje, às 7 e meia da noite, tem uma live com a Xuxa [apresentadora], com a Nísia [Nísia Trindade, ministra da Saúde] e com a Janja [primeira-dama do Brasil] sobre a questão da vacinação. Então, quem tiver nos acompanhando aqui, às 7 e meia da noite pode acompanhar uma live com a Xuxa, Janja e Nísia, ministra da Saúde, pra discutir a questão da vacina. Garoto propaganda aqui, não cobro nada, é de graça a minha propaganda.
Jornalista Marcos Uchôa – Então, vamos todo mundo assistir. Mas, antes da gente acabar, ministro, eu queria te falar o seguinte: quando a gente fala em educação, a gente fala educação como escola, como aprendizado, mas existe educação maior, que é como que a gente trata as pessoas, que é isso muito que o presidente fala. E eu me lembro aqui um tempo atrás, o presidente chegou e falou: "não dormi bem, não dormi bem, acordei, fiquei preocupado com essa coisa de ministro, muda ministro, essas são as pessoas também”. E essa preocupação queria, claro que a gente tá vivendo isso, esse, esse momento de mudar o governo, de mudar, mudar, trazer os ministros e tirar os ministros. Eu queria que o senhor explicasse um pouquinho. Dois mandatos, é o terceiro mandato, essa coisa: bota gente, tira gente. É difícil isso, não, não são decisões fáceis, né?
Presidente Lula – Deixa eu te falar uma coisa. Você assiste jogo de futebol? Então, veja que o técnico entra com o time em campo, mas no decorrer do jogo, dependendo da tática do adversário, dependendo, ele vai mudando…
Jornalista Marcos Uchôa – Tem que mudar.
Presidente Lula – Ele vai mudando. Veja, é sempre muito difícil você chamar alguém pra dizer: "olha, eu vou precisar do ministério porque eu fiz um acordo com partido político, preciso atender." Mas essa é a política, ou seja, o governo tem propostas importante pra passar no Congresso Nacional, os deputados não são obrigados a votar no governo porque o governo mandou, por mais que o Haddad seja simpático, por mais que o Camilo seja simpático, por mais que seja essa figura simpática, mas as pessoas não são obrigadas votar naquilo que a gente faz, as pessoas votam naquilo que eles acreditam. Então, quando você manda uma proposta, as pessoas vão discutir, fazem emenda, tiram e tal. Então, nós precisamos construir uma maioria, uma maioria para dar tranquilidade ao governo nas mudanças que nós precisamos fazer para aprovar determinadas coisas e para não permitir que coisas que sejam indigestas não sejam aprovadas.
Por exemplo, quando você aprova, sabe, desoneração, qual é a consequência da desoneração? É que você diminui a receita do governo federal, você diminui a receita do município e do estado, também. Então, o que acontece? O que que eu acho? É que quando você vai fazer desoneração, ela não pode ser uma lei que diga: tá desonerado 17 setores, não.
Você permite a desoneração que será resultado de um acordo entre empresários, trabalhadores e governo para saber qual é a parte dos trabalhadores dessa desoneração, porque senão você faz a desoneração, o cara desonera, fica com o lucro, não repassa desoneração para os preços do produto e não ajuda em nada, não ajuda em nada. Então, a gente, a gente quer trabalhar para que as coisas sejam feitas, sabe, no melhor sentido de ajudar ao povo brasileiro. E quando a gente fala em ajudar o povo brasileiro, nós temos que ajudar o povo trabalhador, nós temos que ajudar ao pequeno, médio proprietário agrícola, nós temos que ajudar mais de 40 milhões de pessoas que trabalham na economia informal, porque nem todo mundo quer ser trabalhador de carteira assinada, ninguém gosta de ter chefe todo dia, todo dia, todo dia. Eu, quando trabalhava na Villares [empresa do ramo siderúrgico], eu trabalhava noturno, às vezes eu olhava na janela, lá em cima, tinha três chefe me olhando, aquilo caía cavaco quente na minha cabeça, fervia meu cabelo, só batia com a mão assim, sabe. Ninguém quer isso. As pessoas querem trabalhar, às vezes, por conta, as pessoas querem arriscar, querem fazer. Por isso é que eu defendo, junto a Haddad, uma linha de crédito para o micro e pequeno empreendedor. Esse cidadão tem chance de abrir um negócio qualquer dele, tem chance de fazer qualquer coisa, sabe, no mundo artesanal, a pessoa chama, como é? De empresas criativas, todo dia inventa um nome: terceiro setor, empresas criativas. O que eu acho é que o cara precisa ter uma chance. Então, nós vamos trabalhar isso com, com muito carinho, porque eu acho que o Brasil merece, merece efetivamente, dar um salto de qualidade para o bem da sociedade.
Uma das coisas que eu mais quero é acabar com o ódio, acabar com o ódio. Você pode não gostar de mim, não tem problema nenhum, eu não tô pedindo você em casamento. Eu só quero que você seja civilizado, você me respeita e eu lhe respeito, se eu tiver num bar e você entrar, eu não gosto de você, é problema meu não gostar de você, você entra, vai comer, vai beber, vai pagar sua conta. Agora, eu não posso te ofender, eu não posso destratar você. Que falta de respeito, falta de educação! Isso tudo foi criado pelo ódio, disseminado nesse país por "o coisa", "o coisa", sabe, que eu sempre falo que ele vai ser julgado ainda como genocida, ele vai ser julgado, porque não é brincadeira ter morrido 700 mil pessoas aqui, uma grande parte por falta de cuidado do governo, por falta de orientação do governo, por falta de respeito à medicina, à ciência. Então, não é o Lula que quer? Eu não quero nada, eu quero que ele tenha direito à presunção de inocência em todos os processos, mas não dá para deixar esse cidadão passar, sabe, sem ser uma investigação correta. Por que é que morreram tanta gente no Brasil? Por que tanto descaso? E fora as outras coisas que estão aparecendo por aí, sabe. Porque na verdade, na verdade, o cidadão que não tem coragem de passar a faixa, o cidadão que se esconde porque tava prevendo um golpe, sabe, porque é a verdade, ele queria dar um golpe da forma mais mesquinha possível. Disputou uma eleição, ganhou uma eleição, com medo de perder disse que a eleição não era correta, que tinha, que tinha falha não sei das quantas. Esse país precisa aprender a respeitar as instituições.
Não cabe o presidente da República gostar ou não de uma decisão da Suprema Corte. A Suprema Corte decide, a gente cumpre, sabe, é assim que é. Eu, aliás, se eu pudesse dar um conselho, é o seguinte: a sociedade não tem que saber como é que vota o ministro da Suprema Corte. Eu acho que o cara tem que votar e ninguém precisa saber. Votou a maioria, cinco a quatro, quatro a seis, seis a quatro, três a dois, sabe, não precisa ninguém saber, foi o Uchôa que votou, foi o Camilo que votou, porque aí cada um que perde, fica com raiva; cada um que ganha, fica feliz. Então, pra gente não criar animosidade, eu acho que era preciso começar a pensar se não é o jeito da gente mudar o que está a acontecendo no Brasil, porque do jeito que vai, daqui a pouco um ministro da Suprema Corte não pode mais sair da rua, não pode mais passear com a sua família, sabe, porque tem um cara que não gostou de uma decisão dele. Então meu caro, é o seguinte, olha: paz e amor. É tudo que esse país precisa, é tudo que esse país precisa: paz, amor, emprego, um bom salário, uma casinha pra morar, um carrinho pra passear, um belo telefone celular, um belo computador, uma extraordinário educação. É isso que nós precisamos. Então, eu acho que nós vamos conseguir isso. Pode tá certo, que nós vamos conseguir. Eu tenho fé em Deus que a gente vai chegar no final do mandato, sabe, batendo bumbo com as conquistas do povo brasileiro.
Jornalista Marcos Uchôa – Obrigado, presidente; obrigado ministro Camilo Santana pela sua presença aí, e o próximo programa já vai ser da Índia, porque o presidente viaja logo depois do 7 Setembro, tem o G20 lá, no final de semana, segunda-feira, e enfim, e vai ser muito bom…
Presidente Lula – Vamos só explicar pro povo que o G20 é o encontro dos 20 países mais ricos do mundo…
Jornalista Marcos Uchôa – Dezenove, mais a União Europeia, né?
Presidente Lula – Foi criado, foi criado na crise de 2008, tá? Então, foi criado o G20, o Brasil participa, e o ano que vem o Brasil vai sediar o G20, no Brasil, que será na cidade do Rio de Janeiro. O Brasil tem eventos importantes: nós vamos presidir o G20 o ano que vem; em 2025, nós vamos presidir os BRICS; e, em 2025, nós vamos fazer a COP-30, em Belém. São três mega eventos internacionais que vão dar ao Brasil uma visibilidade diferente do que ele teve há alguns anos atrás. O Brasil volta a ser importante no planeta Terra. O Brasil volta a fazer com que o mundo respeite o Brasil pela seriedade com que a gente trata as pessoas e pela seriedade com que a gente tá tratando a questão do clima. Isso faz com que o Brasil vire protagonista importante.
Jornalista Marcos Uchôa – Obrigado vocês por terem participado, por terem assistido a gente, que vocês podem ver depois no YouTube, no Spotify, enfim. E às rádios também, agradecer às rádios que estão transmitindo esse programa, e foi um prazer aqui ter a presença do ministro Camilo Santana. Até semana que vem.