Conversa com o Presidente - Live do dia 11.jul.23
TRANSMISSÃO | Conversa com o Presidente #5
Jornalista Marcos Uchôa — Bom dia, pessoal. Bom dia, todo mundo em casa, todo mundo que tá acompanhando a gente pela internet, pelo canal do YouTube, pelas rádios, pela televisão também, enfim... prazer. Aqui, mais um Conversa com o Presidente, com o presidente Lula. Uma semana extraordinária, uma semana de, essa reforma tributária, essa união do Congresso com governo, vários partidos, uma coisa muito diferente. Mas, eu queria começar antes da gente chegar ali, quando a gente pensa em negociação, né? Essa coisa da dificuldade de você convencer alguém que, aparentemente, tá distante da tua posição inicial. Você começou a fazer isso muito lá atrás, né? Muito no começo lá no sindicato, ainda, de metalúrgicos; lidando, de certa maneira, com os poderosos na época e tendo que convencê-los. Como é que é esse aprendizado dessa conversa?
Presidente Lula — Uchôa, aqui no Brasil a negociação é tratada de forma pejorativa. Os jornalistas, de qualquer emissora, de qualquer rádio, de qualquer jornal, ele costuma tratar a negociação da política "é dando que se recebe". Ou seja, tudo para determinado setor da imprensa: "ah, isso aqui é uma negociação, é dando que se recebe, aqui não sei das quantas e tal". Ora, negociar é negociar. Eu aprendi a negociar. Você fazia uma pauta de reivindicação com 100 itens, você entregava essa pauta de reivindicação na Federação das Indústrias, depois de um tempo você fazia a segunda reunião. Eles não queriam metade das coisas que a gente pedia, a gente continuava insistindo. Então, de 100% que a gente reivindicava, a gente ficava com 60, às vezes a gente ficava com 65, às vezes ficava com 50. Essa é a negociação. Quando o governo manda um projeto de lei para o Congresso Nacional, uma medida provisória, essa medida provisória, ela, necessariamente, não tem que ser aprovada tal como o Governo quer, mas nós temos 513 deputados, são 513 cabeças, mulheres e homens, sabe, que pensam diferente, alguns outros pensam diferente e é normal que você negocie. Ou seja, o cara não quer 80%, o cara quer 75, o cara não quer 80, quer 85. E aí começa a negociação.
Marcos Uchôa — E o cara pode ter uma boa ideia também, né?
Presidente Lula — E o cara pode ter uma boa ideia, não é só o governo que pode ter uma boa ideia. Às vezes, um cara apresenta uma sugestão numa medida provisória, num projeto de lei, melhor do que aquela que o governo apresentou. Então, aquilo é feito um acordo e aquilo é votado. E você precisa convencer a maioria. Foi o que aconteceu com muita persistência, muita habilidade sabe do nosso ministro da Fazenda, o companheiro Haddad [Fernando Haddad]; do nosso líder Jaques Wagner, no Senado; do nosso líder na Câmara, José Guimarães; do nosso ministro Padilha, da negociação [Alexandre Padilha - Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República]; que é preciso ter paciência, conversar com quem você gosta, com quem você não gosta, ouvir coisas boas, ouvir coisas ruins, e aí se dá a negociação. Não é a política do: "é dando que se recebe", que todo mundo fala. A segunda coisa, Uchôa, que a gente tem que levar em conta é o seguinte: ou seja, um partido que ganha as eleições ele precisa construir uma maioria pra ele governar o Brasil. O que que é uma maioria pra governar? É pra você ter tranquilidade de votar as coisas que o governo considera que são importantes para o país, para a sociedade brasileira.
Você tem que ter a maioria, porque senão você se mata. É importante lembrar que o PT tem 70 deputados de 513, sabe? então…
Marcos Uchôa — tem que conversar…
Presidente Lula — Então, você pega a esquerda toda e você soma, dá cento e poucos deputados, ou seja, você precisa de no mínimo 50 e... 257 para maioria simples. Então, isso só demonstra que você tem que negociar. E uma coisa equivocada também que a imprensa fala sempre: "ah, porque negociou com o Centrão, negociou com o Centrão". A gente não negocia com o Centrão. O Centrão não é um partido político. O Centrão se junta em função de determinadas coisas, mas, habitualmente, você negocia com o partido. Então, o partido quem que é? O partido é o PT, é o PSB, é o PCdoB, é o PDT, é o PMDB, é o PSD, é o União Brasil, é os Republicanos, é o PP. Então, são com esses partidos que você negocia. Ou seja, seria importante que a gente não precisasse negociar. Ah, o governo fez uma medida provisória, tá lá aprovada por unanimidade. Não é assim, não é assim.
Eu digo sempre o seguinte: o ideal seria que um partido elegesse todo mundo, mesmo quando elegeu todo mundo o Ulysses Guimarães [ex-deputado federal e ex-presidente da Assembleia Nacional Constituinte] tinha dificuldade de presidir a Constituinte e o Sarney [ex-presidente da República] muito mais dificuldade de presidir o Brasil. Então, o que é importante é o seguinte: seria importante que um partido só elegesse todo mundo, não é possível. Seria importante que os setores mais progressistas elegessem a maioria, não aconteceu. Então, você não negocia com suplente, você negocia com quem foi eleito, você negocia com quem tem mandato e, portanto, você tem que tá aberto a conversar. Então, nós precisamos construir essa governabilidade e ela foi construída para votar à política tributária porque não era uma coisa de interesse do Haddad, do Lula, era uma coisa de interesse do país. O país precisava de uma política tributária.
Marcos Uchôa — Isso foi diferente? Essa coisa de todo mundo pensar o país, pensar o futuro, e sob esse aspecto essa reforma tributária foi um certo divisor de águas? Uma certa…Um Congresso... Todo mundo mais adulto pensando o país?
Presidente Lula: Uchôa, eu acho que é um momento especial que nós estamos vivendo. Eu acho que todo mundo sabe o que aconteceu nesse país nos últimos quatro anos. Todo mundo sabe o que foi o 8 de janeiro, todo mundo sabe a tentativa de golpe que esse país sofreu, todo mundo sabe o abalo do sistema democrático com acusações à Suprema Corte, acusações a todo mundo nesse país. Ou seja, então, o país está precisando de um pouco de tranquilidade e um pouco de paz. As pessoas querem que a economia cresça. As pessoas querem que esse crescimento seja repartido entre todos brasileiros. As pessoas querem trabalhar, as pessoas querem ganhar mais, as pessoas querem ter escola de qualidade. E é tudo isso que a gente está tentando construir, reduzindo a capacidade de pagamento de imposto, mas aumentando a quantidade de pessoas que vão pagar. O governo pode cobrar menos, mas arrecada mais porque tem mais gente pagando, e a gente, então, inibe a sonegação. Isso é muito importante.
Por isso que foi importante o CARF ser aprovado também, sabe? O CARF era uma negociação entre os devedores da União, devedor de imposto e a Fazenda. Só que quando dava empate, o patrão ganhava, o sonegador ganhava, e nós, então, resolvemos que não. Tem que ter o voto de desempate, o voto de desempate é o governo que dá e, portanto, o governo tem que ganhar, não só perder. Então, eu acho que o momento é excecional, surpreendeu muita gente porque é engraçado que você fica vendo televisão, você fica ouvindo rádio, você fica vendo notícia — e eu não uso o celular todo dia, mas as pessoas me passam as informações – sabe, 9 horas da manhã as pessoas falam uma coisa, 11 horas falam outra, meio dia fala outra, 5 horas da tarde fala outra, 6 horas tá todo mundo derrotado, 8 horas tá todo mundo vitorioso. É o que acontece de vez em quando. "O Governo tá derrotado! Acabou! Não vai passar. Não!".
Marcos Uchôa — Não tem chances…
Presidente Lula — ... E depois as coisas acontecem porque negociação é isso. Isso não é "dando que se recebe", isso é negociando como a boa prática de negociação exige que as pessoas façam no mundo inteiro.
Marcos Uchôa — Agora, presidente, existia uma certa justificativa para um certo pessimismo, no sentido de que uma Reforma Tributária parecia uma coisa muito grande, muito distante, muitos interesses diferentes. Fato é que historicamente se falava nisso e sempre se passava essa bola adiante, achando que isso não vai rolar e rolou... Quer dizer, o senhor se surpreendeu de certa maneira? Claro que você estava sabendo as negociações que estavam acontecendo, mas tem uma certa surpresa da sociedade de que a coisa passou de uma maneira tão rápida e tão...
Presidente Lula — Veja, muito, muito de uma política qualquer que você mande pro Congresso Nacional, ela será facilitada ou não, de acordo com o relator. O relator é 50% do sucesso da aprovação de uma lei qualquer que você mande pro Congresso Nacional. E o Aguinaldo, que é um deputado do PT, que foi ministro da Dilma, foi ministro da Cidade da Dilma Rousseff [ex-presidenta da República], ele teve um comportamento exemplar. Tá? Ele não brincou com a Reforma Tributária, ele levou a sério. O Haddad conversou muito com o presidente Lira [Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados], eu conversei com o Lira, outras pessoas conversaram, da mesma forma que vamos conversar com o presidente do Senado agora. Para compreender a necessidade de um momento histórico que o Brasil tá vivendo. Nós precisamos garantir que o Brasil não jogue fora mais uma oportunidade. Você percebe que as pessoas que estavam pessimistas estão vendo, sabe, tão vendo o dólar cair, tão vendo a economia crescer, tão vendo sinais de que o salário vai crescer, tão vendo sinais de que o emprego vai crescer, ou seja, as pessoas estão ficando mais otimistas, sabe, as pessoas estão ficando mais otimistas. A inflação tá caindo e logo, logo vai começar a baixar a taxa de juro porque o presidente do Banco Central é teimoso, sabe, é tinhoso. Mas, não tem mais explicação. Então, nós que temos que ter muita tranquilidade porque a gente não pode fazer mágica em economia. Tem o jogo que você tem que jogar, tem que tranquilizar a expectativa do povo trabalhador, tem que ver a expectativa do mercado, a expectativa do varejista, a expectativa do empresário. Mas, sobretudo, a gente tem que estar com o olho naquelas pessoas mais necessitadas, aquelas que efetivamente precisam do Estado. E eu acho que a sociedade, sabe, dentro do Congresso Nacional, ela está representada pelas últimas eleições.
Não basta eu dizer: "eu gosto ou não gosto de fulano, de beltrano", porque não depende do Lula gostar. O povo votou naquela pessoa, aquela pessoa, então, tem procuração do povo para votar contra ou a favor ou até fazer proposta diferente. E aí nós temos que decidir se vamos acatar ou não. Eu tô feliz porque foi uma semana muito importante para o Brasil, não foi importante para o governo, foi importante para o Brasil. E, eu espero que o Senado repita a votação da Câmara e eu espero a gente chegar no fim do ano com a política tributária nova pra gente nunca mais ficar falando de política tributária nesse país.
Marcos Uchôa — Então, vamos mudar de assunto, porque é um assunto de emprego, que é um assunto que também na semana passada se tocou nessa coisa do conselho que vai estudar as políticas industriais, que é uma preocupação do senhor há um tempo já, né? Que é a questão do emprego. As indústrias realmente geram muito emprego e a gente perdeu muita indústria nesses, nesses últimos anos, né? Isso é uma coisa, essa recuperação desse conselho e dessa ideia do que fazer, onde fazer também é muito… que entusiasma bastante, né?
Presidente Lula — Uchôa, um país que tem uma política industrial correta, esse país consegue exportar, sabe, produtos com maior valor agregado. Os chamados produtos manufaturados. Isso agrega mais dinheiro para a nação, uma indústria agrega mais salário para o povo trabalhador, uma média salarial melhor, e o país cresce do ponto de vista científico e tecnológico. Fazia muito tempo que o Conselho de... o Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial não se reunia desde 2015. Ele foi criado por mim em 2004 e ele deixou de se reunir. Ora, se você tem um Conselho Nacional de Política Industrial e ele não se reúne, significa que não tem política industrial.
Então, nós fizemos uma belíssima reunião. Aliás, eu quero dar parabéns ao meu vice, o companheiro presidente Geraldo Alckmin, que coordenou uma belíssima reunião. Falaram todos que tinham que falar e nós aprovamos o arcabouço de uma proposta de política industrial, que deve ser discutida no Conselhão agora para que a gente tente transformar aquilo numa política a ser colocada em prática pelo governo. Só para você ter ideia de inovação, há uma perspectiva de investimento de até R$ 6 bilhões. Então, tem que ser uma política industrial pra valer, além da gente fazer investimento e fazer inovação, nós temos que discutir que nicho de indústria a gente vai querer crescer. A gente vai recuperar a indústria de óleo e gás? A gente vai recuperar a indústria naval? A gente vai ter, sabe, uma indústria de papel e celulose, sabe, com papel, sabe, de fina qualidade e não apenas exportando celulose?
A gente vai ter que discutir que tipo de indústria que a gente vai querer também inovar no Brasil. Uma delas é a indústria da Saúde, porque o SUS é um grande mercado consumidor e se a gente produzir muitas coisas, de remédio a máquina, de remédio a...
Marcos Uchôa — A gente consome naturalmente...
Presidente Lula — A gente... é lógico, nós somos obrigados a consumir. É por isso que nós defendemos as compras governamentais, sabe, ser fortalecida aqui dentro. Porque se a gente abrir as compras governamentais para comprar produtos estrangeiros, a chance da nossa pequena e média empresa crescer, acaba. E nós queremos fortalecer o pequeno e médio empreendedor, a pequena e média empresa, porque essa gente gera muitos empregos e essa gente gera riqueza para o país. Por isso que é muito, é muito, é muito importante essa nossa discussão sobre política industrial. Finalmente, a gente vai colocar em prática uma coisa que estava paralisada há muito tempo.
Marcos Uchôa — E que ela anda junto com esta também, que também foi uma coisa dessa semana, da transição ecológica, né? De você também fazer uma economia, é… de girar um pouquinho em direção, já há uma coisa... um uso de energia mais correto, enfim...
Presidente Lula — Uchôa, presta atenção numa coisa: a questão do clima passou a ser uma... uma coisa muito importante para o Brasil porque já está claro, hoje ninguém tem mais dúvida, a ciência já provou de que o clima está mudando, está mudando para pior e vai causar transtornos aos habitantes do planeta Terra.
Marcos Uchôa — A gente viu agora Alagoas, Alagoas está sofrendo com essa chuva, né?
Presidente Lula — Está chovendo demais onde não chovia. Faz seca demais onde não fazia, terremoto, furacão, coisa que a gente não tinha. Então, o que acontece, veja, nós temos que discutir duas coisas muito importantes hoje: a transição energética junto com a transição ecológica. Só para você ter ideia: 87% da matriz energética brasileira é renovável, contra 27% do restante do mundo. Quando você coloca toda a energia, inclusive combustíveis junto, 50% da energia brasileira é renovável, contra 15% do resto do mundo. E o Brasil tem um potencial excepcional eólica, solar, biomassa, hidrogênio verde, hidrogênio de cana, sabe, há uma perspectiva fantástica do Brasil.
Ao mesmo tempo, a gente tem que utilizar, sabe, os 60% de floresta que a gente tem na Amazônia, e a gente precisa porque, eu juntei - eu não sei se vocês lembram - eu fiz uma reunião com todos os países.
Marcos Uchôa — Da América do Sul…
Presidente Lula — Eu fiz uma reunião com a Colômbia, em Letícia, esse final de semana, para preparar uma reunião que vai ter em agosto com todos os países da América do Sul. O que é que nós queremos? Pegar toda a Amazônia da América do Sul e fazer disso um instrumento de negociação com o mundo desenvolvido, para que a gente possa se desenvolver e gerar emprego para as pessoas que moram na Amazônia: os indígenas, os pescadores, os povos ribeirinhos, as pessoas que vivem em comunidades. Nós precisamos fazer com que essa gente tenha dignidade na sua vida, ganhe salário, ganhe uma renda razoável.
Então, é preciso que a gente discuta com o mundo desenvolvido. Eles prometeram dar US$ 100 bilhões por ano, em 2009, em Copenhague. Até agora esse dinheiro não saiu e nós vamos atrás, porque nós estamos juntando todos os países que têm floresta na América do Sul, e estamos juntando os dois Congos, e estamos juntando a Indonésia, que são os países que mais detêm florestas em pé. E, ao mesmo tempo, criar uma consciência de que a questão ecológica não é mais uma coisa sofisticada de meia dúzia de pessoas. É um ativo econômico extraordinário para um país do tamanho do Brasil que tem, sabe, a quantidade de água, a quantidade de, de, de, de floresta que o Brasil tem, a riqueza da nossa fauna – nós temos, praticamente, 12% da água doce do Planeta –, ou seja, então, nós precisamos tirar proveito disso, além, além da água que está no subsolo que é inesgotável.
Ou seja, então, nós queremos utilizar tudo isso para negociar com o mundo. O que que o Brasil ganha? O que que ganha, sabe, a Colômbia? O que ganha o Peru? O que ganha, sabe, a Bolívia? Países que têm ainda floresta. E o que que ganha a Ásia? O que que ganha a Indonésia? E isso é um instrumento poderoso de fazer política econômica, tanto para a questão energética como para a questão climática. E se a gente tirar proveito pesquisando corretamente a riqueza da biodiversidade da Amazônia, a gente pode encontrar coisas extraordinárias para a indústria de fármacos. A gente pode encontrar coisas extraordinárias para a indústria de cosméticos. Ou seja, você percebe que tem um mundo à nossa frente e que nós não temos que ter medo de desbravá-lo. Nós precisamos entrar da mesma forma que os portugueses pegaram o Oceano Atlântico e chegaram aqui no Brasil, a gente tem que pegar esse oceano de oportunidades e chegar num momento de desenvolvimento do Brasil para que o Brasil seja transformado num país definitivamente rico que sustente com qualidade de vida o seu povo. É isso que a gente quer.
Marcos Uchôa — Agora, a gente já conseguiu, quer dizer, esse ano já diminuiu um terço o desmatamento em relação ao ano passado. O senhor já falou em acabar com o desmatamento até 2030. Agora, a gente tá começando agora com a época de queimada, né? que esses três meses agora, agosto, setembro, os dois meses piores em relação à queimada, é um cuidado particular que tem que se ter agora. A gente está com braço, com gente suficiente para monitorar isso e ficar em cima?
Presidente Lula — Uchôa, vamos lembrar que o Ibama estava desmontado, vamos lembrar que quando nós deixamos o governo, o Ibama tinha 1700 funcionários e agora tá com 700. Então, nós estamos montando um grande esquema, sabe, de fazer um novo concurso pro Ibama, contratar mais gente pro Ibama. Não sei se você viu a quantidade de multas no Ibama, foi muito grande, cresceu muitas multas no Ibama nesses seis meses, cresceu muito, sabe, o trabalho, inclusive, da, da, da ICMBio. Ou seja, nós estamos trabalhando com muita força para que a gente possa mostrar para as pessoas o seguinte: “olhe, o maior patrimônio que nós temos é a nossa floresta em pé”.
O Brasil tem mais de 30 milhões de hectares de terras degradadas que a gente pode recuperar para aproveitar para plantar o que a gente quiser. A gente não pode achar que desmatando a gente vai ganhar, a gente vai perder. Então, nós vamos jogar muito duro, não só com os instrumentos de proteção que a gente tem no Ministério do Meio Ambiente, mas a gente vai jogar muito duro com o Ministério da Justiça, com a Polícia Federal e, se for necessário, com a própria Forças Armadas, para que a gente proteja nossa floresta de queimada, de derrubada, de madeireiros, de garimpeiros e do crime organizado, que muitas vezes está dentro da floresta fazendo tráfico de arma, tráfico de drogas. Ou seja, então nós vamos jogar muito duro.
Vai ser a primeira vez que a gente vai apresentar no Brasil um plano de enfrentamento e de contenção do crescimento da bandidagem, do desmatamento, sabe, na Amazônia. Ou seja, as coisas terão que ser feitas de forma legal. Quem fizer ilegal vai ser punido.
Marcos Uchôa — O senhor acha que essa parte que a gente tá fazendo agora, esse dever de casa em relação ao meio ambiente, ele tem esses constrangimentos todos um pouco pessoal. Eu queria passar para área da saúde, que é uma área que o INSS, por exemplo, também perdeu, tá com metade dos funcionários que tinha 10 anos atrás. E lá atrás, no seu 1º governo, o senhor falou: "vamos zerar a fila" e zerou. Mas, agora tem o negócio das filas, das perícias etc., a coisa voltou esse ano. O problema é grande, tem um problema entre a falta de funcionários e também os médicos que fazem as perícias que, enfim, fazem num ritmo que não é o que se deveria, o que que se gostaria. Esse é um problema muito sério pra muita gente pobre que precisa dessa perícia, né? Lá atrás resolveu, como é que tá agora?
Presidente Lula — Vai ter programa, ele está sendo feito. Terça-feira, exatamente, 5 para às 9, 10 para às 9. E essa semana eu vou ter uma reunião com o ministro da Previdência Social e também com o ministro da Fazenda para discutir duas coisas. Primeiro, eu quero saber se a fila é porque não tem dinheiro para pagar aos aposentados, por isso que demora. O Bolsonaro fez isso no governo passado. A segunda, eu quero saber se é falta de funcionário, porque nós já provamos uma vez que a gente pode zerar a fila, zerar a fila para benefício, para auxílio natalidade, auxílio maternidade, para aposentadoria, para perícia médica. A gente conseguiu zerar tudo isso.
Então, eu tenho uma reunião essa semana para discutir qual é o problema que está acontecendo que as filas têm por volta de um milhão e 900 mil pessoas. Não há nenhuma explicação a não ser: "ah, eu não posso aposentar porque eu não tenho dinheiro para pagar". Se for isso, a gente tem que ser muito verdadeiro com o povo e dizer porque que tem essa fila. Se é falta de funcionário a gente tem que contratar funcionário, se for falta de competência, a gente tem que trocar quem não tem competência. O dado concreto é que nós provamos que não precisa ter fila no INSS, nem para receber o benefício e muito menos para fazer perícia médica. Então, essa semana, Uchôa, hoje é terça-feira, 10 para às 9, eu tô te falando, esta semana vai ter uma reunião para a gente discutir o fim dessas filas.
Marcos Uchôa — Isso é muito importante porque o senhor falou do Ibama, a gente fala agora do INSS, são várias áreas de governo que nesses últimos anos foram se perdendo funcionários importantes, né, e que, obviamente, as pessoas precisam de gente pra trabalhar, gente pra resolver. Isso não é rápido, né? A contratação para o Governo Federal requer, enfim, é todo um processo, digamos assim.
Presidente Lula — Requer você fazer concurso, ou seja, veja, se você, se as pessoas se aposentam e você não vai repondo, chega uma hora que falta gente. E você não melhora a educação sem contratar professor e funcionário, você não melhora a saúde. Ou seja, tem muita gente que fala que é questão de gestão. Não é questão de gestão. É questão de colocar mais médicos, por isso nós estamos colocando de volta o Mais Médicos. Serão 28 mil médicos que vão voltar a trabalhar em todas as cidades do interior desse país, sabe. Se você quer melhorar a educação, você tem que colocar mais médico, mais enfermeiro, mais posto de atendimento, mais, sabe, hospital. Não tem, não tem milagre. A gente quer fazer escolas de tempo integral, a gente vai ter que ter mais professor, vai ter que ter mais funcionário, vai ter que ter mais escola. Vai ter que fazer escola, inclusive, de outro tipo, sabe? Então, é preciso parar com essa história de que tudo não funciona porque o Estado não sei das quantas.
Ou seja, você viu o que aconteceu com a Ambev que era vendida como a empresa mais moderna do mundo, quebrou. Não em Ambev, ou seja, os caras deram um desfalque de R$ 40 bilhões. Ou seja, a verdade nua e crua é que toda vez que as coisas engrossam é o Estado que salva. A crise de 2008, se o Estado não colocasse o dinheiro, a economia tinha quebrado. E a crise da pandemia. Se não é o Estado, sabe, não tinha a iniciativa privada para resolver esse problema. Foi assinado de manhã, a Angela Merkel [ex-Chanceler da Alemanha] liberou, do Banco Central Europeu, €$ 700 bilhões. O Biden liberou quase US$ 5 trilhões, sabe, porque senão a economia não funciona. É o Estado que tem que colocar a mão para salvar, então eu, eu como eu defendo o Estado forte, um Estado que não seja empresário, que não seja um Estado estatal, mas que seja um Estado indutor. Que seja o Estado indutor, o Estado que discute aonde vai fazer investimento, qual é o estado, qual é o lugar que mais precisa, onde é que a gente quer ajudar a se desenvolver.
O Estado tem que pensar assim, da forma mais sadia possível, da forma mais eficaz e a gente fazer com que o país volte a trabalhar. Nós precisamos melhorar a saúde, precisamos melhorar a educação, nós precisamos melhorar um monte de coisas neste país. Afinal de contas foram seis anos de atraso nesse país, sabe. A gente vinha construindo muitas universidades, muitas escolas técnicas, isso pararam. Esse país ficou sete anos sem reunir reitores. Esse país ficou sete anos sem reunir prefeitos, sem reunir governadores.
Nós vamos lançar agora, vamos lançar neste mês de julho o novo PAC, em que a gente vai pegar a questão energética, a questão da transição ecológica, a questão de rodovia, de ferrovia, a questão do saneamento básico, nós vamos lançar um novo programa do Minha Casa, Minha Vida. Nós vamos lançar muitos programas agora no meio de julho, para que em agosto a gente comece já com o carro a 100 por hora. A gente não vai dar mole não, a economia vai voltar a crescer. E eu quero falar isso olhando na cara de quem tá nos assistindo: a economia vai voltar a crescer, a inflação vai continuar caindo, sabe, os juros vão ter que baixar. É importante ter claro que os juros precisam baixar para que a gente possa ter crédito disponibilizado a custo baixo para que o povo que queira empreender possa pegar dinheiro emprestado. E, aí a gente vai começar a melhorar o salário, a gente vai fazer mais política de inclusão social, a gente vai investir muito na pequena e média empresa, no pequeno e médio empreendedor, e tudo vai voltar à normalidade nesse país.
É isso que eu quero, o Brasil voltar à normalidade com as pessoas felizes, com as pessoas vivendo bem, com as pessoas convivendo. Filho não precisa brigar com o pai, nora não precisa brigar com o sogro, primo não precisa brigar com o primo, irmão não precisa brigar com o irmão. Nós queremos paz, pura e simplesmente paz, emprego, salário e educação é que o povo brasileiro precisa nesse momento.
Marcos Uchôa — O senhor diria que a última peça do quebra-cabeça, digamos assim, importante, é a questão dos juros mesmo? Porque, por exemplo, nos Estados Unidos, a inflação tá mais alta e o juros é mais baixo. Na Europa também, a inflação é mais alta e o juros é mais baixo. Aqui que tá o contrário, a inflação tá baixa e o juros tá alto.
Presidente Lula — Não é só a questão dos juros. O juro é um componente. Veja, durante a campanha eu dizia que um governo precisa de três coisas. Primeiro: credibilidade. O governo tem que passar credibilidade para a sociedade. Segundo: o governo tem que garantir previsibilidade das coisas; e terceiro: a gente tem que garantir estabilidade jurídica, estabilidade social, estabilidade econômica. São três fatores cruciais para que a gente possa desenvolver este país. Nós já fizemos uma vez. É importante lembrar que quando nós deixamos o governo, em 2010, a economia crescia 7,5%. É importante lembrar que o salário mínimo tinha aumentado 74%. Nós vamos voltar a fazer isso outra vez, sabe, nós vamos voltar a fazer isso. A gente vai tentar fazer até um pouco mais rápido do que nós fizemos da outra vez. Nós já temos mais experiência, mais maturidade, e mesmo uma parcela da sociedade que não, que não gosta do PT, que não acredita no PT, sabe que nós tratamos com seriedade as coisas que nós assumimos publicamente. E cuidar desse povo é a nossa missão, fazer com que o povo melhore de vida é a nossa missão e gerar emprego é a nossa missão. E nós vamos fazer. E vamos fazer porque nós temos credencial histórica pra repetir com sucesso tudo aquilo que nós já fizemos nesse país.
Marcos Uchôa — Presidente, a gente tá terminando o programa. Então, vamos terminar com um assunto, que essa semana realmente estava alinhada, realmente todos os astros aliados porque até o Corinthians ganhou, né? E fora de casa. Uma coisa assim... Meu Deus, ficou sorrindo à toa.
Presidente Lula — Eu fico feliz
Marcos Uchôa — Ficou sorrindo à toa
Presidente Lula — Não, não. Todo mundo sabe que eu sou corintiano, todo mundo sabe que eu gosto de futebol. Mas o Corinthians não anda bem das pernas, não anda bem das pernas. O Corinthians teve um momento histórico que o Corinthians tropeçou. Eu acho que foi o momento da antidemocracia que nós tivemos no Brasil, acho que atropelou o Corinthians também. E, agora, voltou a ganhar e eu tô torcendo, sabe, que o Corinthians volte a ganhar, porque ele está perto da zona de rebaixamento e eu fico muito angustiado cada vez que eu vejo um jogo do Corinthians.
Mas eu tô feliz, tô feliz pelo Brasil, tô feliz porque as coisas estão acontecendo com muita tranquilidade. Não precisa ter bravata, é só a gente ter muita tranquilidade, sabe? Eu digo sempre o seguinte: governar é como você plantar uma árvore frutífera. Ela não vai dar o fruto no dia que você plantou. Você tem que jogar água, tem que jogar adubo, precisa cuidar com carinho, precisa capinar em volta para não deixar, sabe, nenhuma erva daninha tomar conta da árvore. E você vai cuidando, cuidando, daqui a pouco você vai colher os frutos da árvore que você plantou. É isso que vai acontecer no Brasil. Nós vamos colher os frutos dessa árvore extraordinária, frondosa, chamada Brasil. Ela está pronta para amadurecer os frutos, é só a gente cuidar.
Marcos Uchôa — Obrigado, presidente, pela conversa. Semana que vem estamos em Bruxelas, uma reunião importante e o programa vai ser de lá, tá? A gente espera vocês.