Pronunciamento do presidente Lula na inauguração da ponte Pará - Tocantins

Eu queria começar a minha fala agradecendo a cada homem e a cada mulher que dedicou algumas horas desse dia para comparecer a esse pequeno evento. Queria agradecer aos prefeitos e prefeitas que estão aqui, queria agradecer aos vereadores e vereadoras que estão aqui, queria agradecer aos deputados estaduais, deputados federais, secretários que estão aqui. 

Queria agradecer aos prefeitos de Xambioá e de São Geraldo do Araguaia, e queria, sobretudo, agradecer o prefeito por essa extraordinária banda que veio tocar aqui. Eu até mandei o Stuckert [Ricardo] filmar esses meninos e essas meninas pequenas tocando, porque se eles estão tocando tão bem quando criança, imagina quando crescerem.

E quero dizer para vocês que hoje é um dia extremamente especial para mim. Quando você é eleito presidente da República, a primeira coisa que você tem que olhar é o que que já está sendo feito no Brasil, para você não permitir que obras que começaram em outro governo fiquem paralisadas porque você não concorda com outro governo.

O que a gente tem que levar em conta é se a obra é ou não importante para o povo de uma cidade ou de um estado. E quando nós assumimos a Presidência, nós tínhamos quase 3 mil obras em escolas públicas e creches paralisadas, porque o outro governo não quis fazer porque eram obras do governo Dilma [Rousseff, ex-presidenta do Brasil]. Nós tivemos mais de 87 mil casas. Muitas delas tinham começado a ser construídas em 2013, mas foram paralisadas porque começaram nos governos do PT.

Nós tínhamos dezenas de obras paralisadas e este país sempre pagou um preço muito caro, de irresponsabilidade de prefeitos que não querem fazer a obra do outro prefeito, de governador que não quer fazer a obra do outro governador e de presidente que não quer fazer a obra do outro presidente. Enquanto a ignorância permeia na cabeça dos dirigentes, quem paga o pato é o povo brasileiro que não recebe os benefícios que precisa receber. Eu disse ao meu ministro Jader Filho [Cidades], disse ao meu ministro Renan Filho [Transportes], pelo amor de Deus, a gente não precisa ter nenhuma obra parada.

Não importa quem começou, o que importa é que, se a obra for importante, o povo precisa daquela obra. E eu estou aqui, com muito orgulho, entregando a obra que começou a ser projetada pela Dilma, passou pelo governo Temer [Michel, ex-presidente do Brasil], passou pelo Bolsonaro [Jair, ex-presidente do Brasil], mas quem está entregando a obra para uso é, outra vez, o presidente Lula. E faço isso com muito orgulho, porque, este país, durante muito tempo, não fez investimento em obras de infraestrutura.

É por isso que em 2007, no meu segundo mandato, eu criei uma coisa chamada PAC, Programa de Aceleração do Crescimento. E trabalhei o ano de 2006 preparando um projeto de todas as obras que eram mais importantes para o país. Fizemos os maiores investimentos em infraestrutura que este país já conheceu.

Agora, quando eu voltei, eu tinha preparado o PAC 2 para a Dilma e a Dilma tinha preparado o PAC 3. Quando eu voltei agora, a primeira coisa que eu fiz foi chamar os 27 governadores de cada estado. Eu não quis saber de que partido que era o governador, que time que ele torcia ou qual era a região dele. O que eu sabia é que ele tinha sido eleito pelo povo do seu estado e por isso ele merecia a minha atenção.

E chamei os 27 governadores para dizer para eles: “Eu quero que vocês apresentem para o Governo Federal de três a cinco obras que vocês consideram mais importantes para o estado de vocês. Ou uma obra que possa integrar mais de um ou dois estados”. E assim foi feito.

E nós construímos o PAC, que tem um investimento de 1 trilhão e 700 bilhões de reais. O maior dinheiro já investido em obras na história deste país com dinheiro público e privado. E eu posso dizer para vocês, com muito orgulho, de cabeça erguida, não houve nenhum momento na história do Brasil, e vocês podem pesquisar, não houve nenhum momento na história do Brasil em que foi feita tanta obra de infraestrutura como está sendo feita agora.

Da mesma forma, eu posso falar do turismo com o ministro Sabino [Celso, Turismo]. Eu posso falar da educação, eu posso falar de todas as áreas deste país. Até o crédito agrícola, para muita gente do agronegócio que não gosta do Lula e do PT, é o maior plano da agricultura já feito neste país. E não me importa se a pessoa gosta ou não gosta de mim.

Eu não quero casar com eles. Não me importa. O que me importa é que se ele está produzindo para o bem deste país, ele vai ter a ajuda necessária. Porque eu não fui eleito para governar para os meus amigos. Eu fui eleito para governar para 215 milhões de brasileiros. E é assim que vai ser.

Eu vim inaugurar essa ponte. E eu sei o sacrifício que essa balsa causava a todo mundo. Mas seria injusto da minha parte fazer apenas críticas à balsa e não reconhecer que, graças a Deus, tinha uma balsa para atravessar as pessoas quando o Estado não cumpria com a sua função.

A balsa existia porque o Estado não cumpria com a sua obrigação de garantir ao povo o direito de ir. Mas veja, não era justo alguém pagar para atravessar de bicicleta. Não era justo um cachorrinho pagar para atravessar a balsa. Não era justo uma motocicleta pagar. Não era justo uma pessoa ir namorar e ter que pagar um pedágio. Não é possível.

Então, companheiros, eu quero dizer ao senhor que era dono da balsa: Nós somos agradecidos a você por ter existido e por ter feito investimento, porque o Estado não cumpria com a sua função. 

Agora o Estado brasileiro está garantindo o direito do povo de ir e vir. E não permitir que um jovem menino com a sua esposa tivesse que ficar uma hora dentro desse rio aí, num barquinho pequeno, correndo o risco de se afogar. Agora ele pode atravessar a pé, de bicicleta, de motocicleta, de carro, de ônibus, de caminhão, do jeito que vocês quiserem. 

É por isso que eu tenho muito orgulho. Tenho muito orgulho de ter feito a política que vai distribuir gás de graça para 17 milhões de famílias que ganham menos neste país. Não é possível um botijão de gás de 13 quilos sair da Petrobras por 37 reais e chegar aqui a 150 reais. Não é possível.

Então, as pessoas mais pobres irão receber o gás de graça. Da mesma forma que eu estou feliz de ter feito com que as pessoas que consomem até 80 quilowatts de energia, não pagarão mais energia. E quem consome até 120 kwh, vai pagar apenas a diferença. Estou feliz do Imposto de Renda até 5 mil reais e colocar os ricos para pagar Imposto de Renda, porque não é justo que os pobres tenham que pagar as coisas. 

Então, companheiros e companheiras, duas coisas importantes que eu tenho orgulho de ter feito. Eu tenho orgulho de ter feito porque eu acredito muito em uma coisa chamada educação.

A educação, todo mundo sabe que é a base central para o desenvolvimento de qualquer país, de qualquer cidade. Agora, presta atenção numa coisa. Eu sou o primeiro presidente da República da história do país que não tem diploma universitário. Eu sou o primeiro presidente da República da história deste país que conhece o que é o chão de fábrica. Eu sou o primeiro presidente deste país que sei o que é ser um trabalhador com profissão e um trabalhador sem profissão. Uma mulher com profissão e uma mulher sem profissão. 

E é por isso que eu estava conversando com os trabalhadores. Estudem, pelo amor de Deus, estudem. Porque uma pessoa sem profissão vale menos do que uma pessoa com profissão. Sobretudo as mulheres. 

Uma mulher com profissão, ela não vai morar com alguém por causa de um prato de comida. Ela vai morar porque ela gosta da pessoa. É importante que a gente leve em conta a necessidade de que a educação é a base do desenvolvimento deste país. E o que é triste, e eu falo toda vez, pra ninguém esquecer, é que este país levou 420 anos para fazer a sua primeira universidade. 420 anos.

Eu conto uma história: Cristóvão Colombo chegou em Santo Domingo na República Dominicana em 1492. 40 anos depois, já tinha a primeira universidade em Santo Domingo. Cabral chegou aqui em 1500. E a primeira universidade a chegar não foi em 40 anos, foi em 420 anos.

Numa demonstração que a elite econômica brasileira e a elite política brasileira nunca se preocupou com a educação do povo. Porque o povo era para cortar cana, trabalhar de empregada doméstica e para trabalhar de pedreiro, ajudante de pedreiro. 

E a gente resolveu levantar a cabeça e dizer: “O povo não quer ser só pedreiro. O povo quer ser engenheiro, o povo quer ser médico. A mulher não quer ser empregada doméstica, ela quer ser professora. Ela quer ser médica, ela quer ser dentista. Ela quer ser psicóloga, ela quer ser advogada. Ela tem que ser o que ela quiser ser”. 

A mulher não nasceu pra lavar cueca e fralda de criança. É esse mundo que nós precisamos criar. E acabar com esse preconceito, acabar com esse machismo. Acabar com o preconceito contra pobre e contra negro. 

É por isso que tem muita gente que não gosta de mim. E eu não faço nenhuma questão que goste. Porque o que eu quero gostar é do povo brasileiro. E quero provar que a gente tá fazendo as coisas corretas. Não faz nem um ano, esse menino aqui, de quem eu sou amigo da família Barbalho, desde os anos 80, por conta do pai dele.

O pai dele era o único cara da oposição no estado do Pará -- único deputado federal. E eu era admirador do Jader [Barbalho, senador]. E depois conheci os filhos. Me tornei ainda mais admirador. E quando o Helder [Barbalho, governador do Pará] falou comigo de fazer a COP30 no estado do Pará e em Belém, tinha muita gente que não queria: “Ah, vocês são loucos. Tem que fazer no Rio de Janeiro. Tem que fazer em São Paulo. Por que levar a COP30 para o meio do mato? Por que levar a COP30 para o Pará? Lá tem muito mosquito. Lá não tem estrutura. Lá não tem hotel. A diária é cara. Os caras estão cobrando um Guaraná muito caro. Uma água.”

Mas nunca reclamaram da água que eles pagam quando vão ao aeroporto internacional. Nunca reclamaram quando vão a um show, em qualquer lugar deste país, do preço da água, do preço do Guaraná. Mas foram reclamar do Pará. E eu e esse menino aqui teimamos: “Vai ser no Pará.”

Pra quem gostar ou pra quem não gostar. Fizemos uma parceria entre o Governo Federal e o governo estadual. Uma parceria muito grande. E eu posso dizer pra vocês: o Pará saiu do anonimato neste país. Qualquer parte do mundo sabe hoje. Que existe o estado do Pará. Que existe uma cidade de Belém. Que é pobre, mas tem um povo generoso como pouca parte do mundo.

O primeiro ministro da Alemanha esses dias se queixou: “Ah, eu fui no Pará, mas eu voltei logo. Porque eu gosto mesmo é de Berlim”. Ele na verdade deveria ter ido num boteco no Pará. Ele na verdade deveria ter dançado no Pará. Ele na verdade deveria ter provado a culinária do Pará. Porque ele ia perceber que Berlim não oferece para ele 10% da qualidade que oferece o estado do Pará, a cidade de Belém.

Então companheiros e companheiras. E eu falava toda hora: Coma maniçoba!

E queria dizer pra vocês o seguinte: que o prefeito de São Geraldo da Araguaia veio aqui no microfone, todo humilde, como se não quisesse nada. Agradeceu bem baixinho e reivindicou bem alto. Eu estava anotando. Quando ele falou assim: “Obrigado presidente pelas obras que você está fazendo aqui”. Mas na hora de reivindicar os benefícios para a cidade, ele falou alto.

Agora, é importante que não se pode fazer obra só na cidade do Pará.  [Jader Filho, ministro das Cidades], você é do Pará. E cada obra que você fizer lá, você tem que fazer aqui. Por quê? Porque se não, vai o povo de Xambioá ficar vendo a obra do lado de lá e pensando “eu não mereço, eu não mereço?”. Então, meu caro, tem que fazer dupla aqui. O daqui tem que ver a obra de lá. E o de lá tem que ver a obra daqui. Porque isso significa investimento, significa turismo, significa geração de emprego, significa melhoria da qualidade de vida.

E por quê? Eu sou muito amigo do Hélder, já falei aqui desde os anos 80, mas é a primeira vez que eu estou no estado que o cara vai ser candidato fazendo o L, vai ser a primeira vez. E se ele for generoso, vai fazer dois L.

Então, meus companheiros, estou feliz pelo seguinte: porque toda vez que a gente governa, o que fica é aquela obra que a gente consegue fazer. Colocar um paralelepípedo, um poste, um posto de saúde, uma enfermeira numa cidade. É uma coisa que nos dá prazer, nos dá satisfação e gratidão.

Por isso, meus queridos companheiros e companheiras do Tocantins e do Araguaia, vocês podem estar certo de uma coisa. Eu vou terminar dizendo isso para vocês. Eu completei dia 27 de outubro, 80 anos de idade. Portanto, não sou nenhuma criança. Vocês sabem que eu sou o único presidente do Brasil que foi eleito três vezes para o cargo. 

E tem pessoas que falam assim: “O Lula está velho”. Eles não sabem de uma coisa. O fato de o mundo ser redondo, a terra girar, e os anos passarem, não significa que você fica velho. Porque o que é novo em mim é a minha motivação. O que é novo em mim, é a causa que eu tenho por este país.

E vou dizer pra vocês uma coisa. Aquelas tranqueiras que governaram este país não voltarão a governar mais este país. Não voltarão. Vai ter eleições limpas, democráticas. Todo mundo vai participar. Não vai ter guarda rodoviário proibindo eleitor de votar. Não vai ter denúncia de urna falsa. A minha democracia é assim, disputa quem quer, ganha quem pode e festeja quem ganhar as eleições. É isso. Nada de chororô.

Porque agora vai começar a época da verdade. Nós estamos chegando no terceiro ano de mandato. E agora chega de mentira lacrada, como disse o Helder. Chega de deputado fazendo pergunta para ministro com o celular na cara para tentar fazer mentira.

Agora vai ser a era da verdade. Nós vamos fazer comparação em cada coisa, na área da ciência e tecnologia, na área da educação, na área do transporte, na área da saúde, na área dos indígenas, na área dos quilombolas, na área das mulheres, na área dos direitos humanos, na área do comércio exterior, nós vamos fazer comparação. O que eles fizeram e o que nós fizemos.

Para que o povo não vote nunca mais numa mentira. Porque é uma vergonha a quantidade de mentiras que este país virou. A quantidade de político cretino que vive o dia inteiro no celular contando mentiras.

E eu tenho orgulho de dizer pra vocês: nós vamos entregar este país com a inflação mais baixa. Nós vamos entregar com juros mais baixos. Nós vamos entregar com salário mais alto. Vamos entregar com o povo mais feliz. As mulheres mais felizes. Os homens mais felizes. E este país dizendo ao mundo: “Somos um país pobre, não tão pobre, mas nós não aceitamos que ninguém, nem russo, nem chinês, nem americano, nem francês, diga o que a gente tem que fazer. Nós é que decidimos o que nós vamos fazer.”

Porque eu sou filho de uma mulher que nasceu e morreu analfabeta. Mas ela me deu uma coisa que a gente não compra em supermercado. Ela me deu uma coisa que a gente não compra em shopping. Ela me deu uma coisa que a gente não compra em free shop. A gente nasce da barriga da mãe, que é caráter e dignidade. Isso eu tenho de sobra. E o povo brasileiro também tem de sobra.

Eu também amo você, meu amor. Então, gente. Um abraço no coração de vocês. Pode ficar certo que eu ainda voltarei aqui. E nós vamos continuar fazendo este país melhorar. 

Amanhã eu estou indo a Belém, acho que vai encerrar a COP amanhã. Amanhã eu estou indo a Belém pra gente fazer uns acordos que eu tenho que fazer. Depois eu vou no Salão do Automóvel em São Paulo.

Depois eu vou pra África do Sul. Da África do Sul eu vou para Moçambique. E de Moçambique eu venho para o Brasil.

E ainda este ano eu vou anunciar uma universidade dos povos indígenas e uma universidade do esporte neste país. Para que a gente possa formar e qualificar o povo brasileiro.

Um beijo no coração, um abraço, e até outro dia, se Deus quiser.