Discurso do presidente Lula durante reunião para homologação de terras indígenas

Na verdade, eu nem queria falar. Eu apenas vou dizer para vocês que eu queria, primeiro, Elmano [de Freitas, governador do Ceará], agradecer a você e agradecer ao Camilo [Santana, ministro da Educação], porque, se todos os governadores do país tivessem a predisposição de ajudar a gente a fazer as coisas mais ágeis, seria muito mais fácil, muito mais fácil.

A Sonia [Guajajara, ministra dos Povos Indígenas] sabe que, muitas vezes, um governador, até amigo, não tem a disposição de colocar o reconhecimento de um território indígena como uma coisa prioritária da sua ação. Então, eu quero agradecer a você e ao Camilo por essa compreensão.

E quero, Sonia, agradecer aos povos indígenas, a você, às mulheres que estão aqui, aos homens, à Joenia [Wapichana, ex-deputada federal], a gratidão por vocês serem do jeito que vocês são, ter a coragem que vocês têm, lutar sempre e desistir jamais. Eu sei que isso incomoda muita gente. Eu sei que isso incomoda muita gente.

Eu já cansei de ouvir discurso, de dizer que, "Pô Lula, você vai demarcar mais terras indígenas? Eles já têm 13% do território brasileiro, ele já tem 14% do território brasileiro, é muita terra". E a minha resposta é simples e singela. Eles já tiveram 100%. Isso aqui era deles. Os intrusos somos nós.

Eu queria, primeiro, pedir para vocês não desanimarem. Não é pelo fato de a gente ter reconhecido a terra que está resolvido o problema de vocês. Agora é criar condições para que vocês possam fazer o uso que vocês acharem melhor daquela terra e poder continuar criando a família de vocês.

A segunda coisa é que vocês precisam aproveitar. Eu digo sempre, é preciso aproveitar, Joenia, e companheira Sonia, aproveitar que nós estamos no governo. Eu tenho certeza de que nós somos a melhor chance que os povos indígenas desse país têm para conquistar suas terras. Pode ter certeza. É difícil. A Joenia conhece o processo.

Entre ela fazer o reconhecimento, chegar no Ministério da Justiça e fazer a portaria, até chegar em mim para fazer a homologação, leva tempo. E, às vezes, quando a gente pensa que está quase concluindo, alguém entra com processo na Justiça. Isso para por anos e anos na Justiça. E vocês, com paciência, sofrem, passam necessidade, passam frio, sofrem calor, passam fome e não desistem.

E uma coisa que me dá muito orgulho, mas muito orgulho, é a capacidade que vocês têm de resistência nesse país. Muita gente já poderia ter desistido. Muita gente já poderia ter abandonado a luta. E vocês, da forma mais corajosa possível, vocês continuam de cabeça erguida, de peito empinado, de peito estufado, dizendo: "Nós vamos brigar pelo que é nosso. E ninguém vai tirar a gente dessa luta".

Qualquer presidente da República que tenha o mínimo de bom senso e de humanismo dentro de si saberia valorizar o que vocês fazem. Quero dizer para você, Sonia, você é a primeira-ministra indígena, você vai passar para a história como a primeira-ministra indígena. Mas mais do que ser a primeira-ministra indígena, você é dedicada. Todo mundo aqui, a Sonia viu o que aconteceu lá em Roraima. Do dia que nós chegamos em Roraima, Joenia, você que é de lá, e nós fomos ver a situação dos Yanomamis, o sofrimento daquele povo, para o que está acontecendo agora é quase que um milagre.

E você sabe que nós, inclusive, montamos uma base do governo em Roraima, em Boa Vista. Tem lá muita representação de vários ministros. Você sabe que praticamente a gente dizimou o garimpo nas terras indígenas. E isso levou tempo, levou dedicação, levou compromisso. Tivemos que arrumar o dinheiro para fazer as coisas, mas, graças a Deus, nós estamos conseguindo vencer mais essa batalha.

E assim será. Vocês sabem que nós tivemos que comprar uma terra indígena que era nossa lá no Mato Grosso do Sul. Eu, desde 2003, desde 2000, eu ficava incomodado com aquele povo Guarani, que sofria demais, sofria demais. Sabe quem é do Paraná, sabe quem é do Mato Grosso, sabe o sofrimento daquele povo, sabe, na beira da estrada, sendo atacado, sendo violentado, sendo molestado. Então, nós resolvemos comprar uma terra que era nossa, para que a gente pudesse dar 10 mil hectares para aquele povo viver com dignidade.

Nós ainda não fomos lá. Nós temos que ir lá, porque, além da terra, nós temos que ver casa, nós temos que ver escola, nós temos que ver as condições de saúde, nós temos que ver as condições de trabalho e temos que comprar ferramentas para que eles possam ter condições de produzir a sua terra naquilo que eles quiserem. O nosso papel é dar orientação para ver se faz a coisa da melhor forma possível.

Então, Joeninha, agora que você está ganhando, sabe, está ganhando mais gente para te ajudar, trabalhe, querida, trabalhe, se dedique, faça dupla jornada de trabalho. Se for necessário, faça tripla jornada de trabalho, porque quanto mais terra você reconhecer, mais terra nós vamos fazer o Grito da Justiça, fazer a portaria, mais terra nós vamos alugar e mais terra vocês vão ter. Contem comigo hoje, amanhã e sempre.

Um beijo no coração de vocês e boa conferência, Joeninha. Você peça desculpa às companheiras, sabe, que eu não vou poder ir lá. Termina quando a conferência? Hoje? Então, eu vou ver se eu posso encontrar com vocês em algum momento, porque eu estou com um dia, eu estou com um dia muito estourado.

Eu estou discutindo.... amanhã é dia de discutir a questão da lei do clima que foi votado no Congresso Nacional. E eu tenho preocupação com o que vai acontecer, nós estamos vendo cada artigo, cada coisa, o que é que a gente pode fazer, com muito cuidado, porque a gente precisa tomar muito cuidado, até se for para vetar, porque o veto pode cair.

Então, nós temos que estudar direitinho, a gente não quer repetir o que aconteceu com a questão indígena. Do marco temporal, a gente não quer repetir aquilo, porque eu vetei tudo e o que ficou foi o que o Supremo tinha aprovado. Mas, até agora, nós estamos com muita dificuldade ainda.

Então, nós temos que pensar, nós temos que cuidar disso amanhã, se eu tiver um tempinho, quando estiver aqui, pertinho, eu dou um pulo lá, dou uma corrida e volto, tá? Não mais, gente, olha... Cadê a Sheila [de Carvalho, Secretaria de Acesso à Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública]? Está aí? Está ali a Sheila. A Sheila é a nossa guerreira do Ministério da Justiça que tem ajudado tanto.

Então, eu queria que vocês tivessem certeza absoluta. Nós faremos o que estiver ao nosso alcance para que a gente possa legalizar o máximo de terra indígena, o máximo de terra quilombola, e vamos, como disse o companheiro Camilo, anunciar, nesse país, a primeira universidade indígena da história do nosso país.

E, junto com ela, nós vamos anunciar a Universidade do Esporte nesse país, porque aí nós estamos concluindo uma etapa extraordinária da vida disso, está bem? Um abraço, gente. Obrigado, obrigado por tudo. Obrigado. Qualquer coisa, vocês sabem que vocês têm um companheiro, um companheiro aqui no Palácio Planalto, sabe disso.

Eu não sou um presidente, eu sou um companheiro de vocês, tá? A Laurinha tem quantos anos? Sete. Você sabe que eu saí de Pernambuco com sete anos, em 1952, e eu tenho muita lembrança de muitas coisas que aconteceram quando eu estava em Pernambuco.

A Laurinha certamente não irá esquecer o dia de hoje, certamente ela não vai esquecer o dia de hoje, tá?

Parabéns, gente. Que Deus abençoe cada um de vocês.

Agora, eu queria que viessem aqui as pessoas das três terras para a gente tirar uma foto com a homologação de vocês.