Pronunciamento do presidente Lula na inauguração da Barragem de Oiticica (RN)

Bem, companheiros e companheiras, antes de eu falar com vocês, eu quero que vocês me vejam, porque de todas as pessoas que estão aqui no palanque, eu sou a pessoa que tem a camisa mais bonita, feita pelas mulheres aqui do Rio Grande do Norte. Olha, essa camisa aqui, ela conta a história dessa barragem.

E essas mesmas mulheres que me deram essa camisa, fizeram o vestido para a Janja [primeira-dama do Brasil] tomar posse. Então eu quero agradecer às mulheres, para que vocês, Timbaúba, quero agradecer às mulheres, sabe? Do Timbaúba dos Batistas. E eu quero agradecer também às pessoas da nova Barra Mansa que estão aqui, uma cidade muito nova, as pessoas de Jucurutu.

Mas eu vou começar agradecendo a companheira Fátima Bezerra [governadora do Rio Grande do Norte], aos meus ministros de Estado, Rui Costa [Casa Civil] e Waldez Góes [Integração e do Desenvolvimento Regional], ao companheiro Walter Alves, vice-governador do Rio Grande do Norte, ao meu amigo Garibaldi Alves Filho, ex-governador do Rio Grande do Norte, a nossa querida senadora Zenaide Maia, que tem nos ajudado muito na governança desse país, aos deputados federais Natália Bonavides, o companheiro Fernando Mineiro e o Vicentinho, que é de São Paulo, deputado, mas é nascido em Acari, e eu acho que ele veio aqui para matar a saudade.

Eu gostaria de agradecer a presença do Dom Jaime Vieira Rocha, arcebispo emérito da arquidiocese de Natal, e pedir ao Dom Jaime que quando eu terminasse de falar, o senhor viesse e rezasse um Pai Nosso para que abençoasse tudo o que nós estamos fazendo nesse estado do Rio Grande do Norte.

Leitura da nominata

Meus amigos e minhas amigas.

Na verdade, depois de ouvir o prefeito, dois ministros e a governadora, eu teria muito pouco a acrescentar aqui, a não ser agradecer a Deus por ter me proporcionado esse dia de hoje. Vocês sabem que a seca é um fenômeno da natureza. Ela é uma coisa feita por Deus. Acontece que a gente vê pessoas morrerem por conta da seca ou animais morrerem por conta da seca, já não é mais por conta de Deus. É por conta da irresponsabilidade das pessoas que governaram esse país durante tantos e tantos anos. Porque tem solução.

E eu, quando fui eleito presidente da República, em 2003, eu tinha na cabeça que eu ia provar que a gente poderia fazer aquilo que Dom Pedro, imperador do Brasil, tentou fazer desde 1846 e não conseguiu fazer. Eu resolvi que era possível fazer, que a gente trouxesse a água do Rio São Francisco para que a gente pudesse salvar do sofrimento 12 milhões de nordestinos que moram no semiárido desse país. Porque só não se preocupava com a seca, porque esse país nunca tinha eleito um presidente da República que tinha tomado água de um barreiro, que tinha tomado água de um açude, com cocô de animais, com caramujo. Porque somente quem vive nessa situação é que sabe a importância da água para o Nordeste brasileiro.

E eu, então, assumi a responsabilidade de provar que era possível fazer. E aí eu agradeço a muita gente que me ajudou, agradeço a vocês que me elegeram, agradeço a Deus sempre, porque se não fosse Ele, a gente não teria encontrado sabedoria para fazer essas coisas. E hoje eu estou aqui inaugurando um dos últimos trechos e uma das últimas obras da transposição das águas do Rio São Francisco, demonstrando que aquilo que a elite econômica brasileira não quis fazer, aquilo que os fazendeiros não fizeram, aquilo que os advogados que governaram esse país não fizeram, aquilo que os sociólogos que governaram não fizeram, aquilo que os professores que governaram não fizeram, um metalúrgico de São Bernardo do Campo fez essa obra.

E eu quero que vocês saibam que eu fiz isso porque com sete anos eu já ia para a beira de um açude encher um pote para colocar no caçoar para levar água para casa para beber. E somente quem viveu isso, somente quem viu a sua mãe sair de Caetés com oito filhos agarrados no rabo da saia para não morrer de fome e ir para São Paulo, é quem entende o problema da seca no sertão nordestino.

E é por isso que hoje eu agradeço ao nosso Senhor, agradeço a Deus, estar vivo, inaugurando junto com vocês essa obra extraordinária que ainda está com pouca água, tem pouca água, só tem quanto de água aqui? Só tem 7%, ainda falta 93% de água. Isso aqui vai virar um outro oceano, não é nem o Pacífico, nem o Atlântico, mas vai ser o oceano da graça de Deus para o povo do Nordeste brasileiro.

A segunda coisa que é importante dizer para vocês: mentira tem perna curta, mentira tem perna curta. Eu aprendi a dizer sempre que as pessoas não querem adotar as coisas que não prestam, as pessoas só querem adotar as coisas que são boas. Eu não quero discutir quem fez essa obra ou quem não fez essa obra, eu até quero agradecer aos deputados e aos senadores do Rio Grande do Norte que colocaram R$203 milhões de emendas para que essa obra pudesse andar.

Eu não sei de que partido eram, não sei em quem votaram, não sei que time eles torcem, não sei de que religião eles são. O que eu sei, eu sou agradecido, porque quando um presidente irresponsável só tinha colocado R$87 milhões, os deputados e senadores colocaram R$203 milhões para fazer essa obra. E é mais importante ainda que quando eu cheguei, em 2023, no orçamento não tinha nenhum centavo para fazer essa obra.

Se nós não tivéssemos colocado no PAC, a gente não teria essa obra. E quando eu tomei a decisão, não foi minha. Em janeiro, eu convidei os 27 governadores dos estados, aqueles que são meus amigos, aqueles que não são inimigos, mas aqueles que são inimigos também, eu chamei os 27 governadores e disse para os governadores: eu quero que vocês apresentem de três a cinco obras mais importantes para o estado de vocês que nós vamos fazer.

E a Fátima colocou essa barragem de Oiticica. E aqui nós estamos inaugurando. O que é importante não é quem fez, o que é importante é quem vai se beneficiar dela, que são mulheres, homens e crianças dessa cidade. E outra coisa muito importante é que nós, eu e a Dilma [Rousseff, ex-presidenta da República], fizemos um milhão e quatrocentas mil cisternas no Nordeste brasileiro.

Porque alguém que nasce nas ruas mais chiques de São Paulo, mais chiques do Rio de Janeiro, mais chiques do Rio Grande do Sul, mais chiques de Minas Gerais, não tem noção do que é seca e não tem noção da importância do que significa uma cisterna. E nós fizemos um milhão e quatrocentas mil cisternas e eu queria saber quanto que o ex-presidente fez aqui no Nordeste Brasileiro.

Aliás, eu gostaria de saber da nossa governadora Fátima qual é a obra que o governo passado fez aqui no estado do Rio Grande do Norte? Quantas creches, quantas escolas, quantas universidades, quantos institutos federais, quantas estradas? Nada! Porque ele só sabia mentir na televisão. Só sabia destilar ódio, só sabia contar mentiras, eram onze mentiras por dia e ofender as pessoas.

Era isso que ele sabia fazer. E mentindo ainda que era religioso, porque quando a gente é religioso de verdade a gente não usa o nome de Deus em vão, a gente só usa quando é necessário usar o nome de Deus. Então esse país estava acéfalo. Quando nós chegamos no governo encontramos mais de duas mil creches fechadas sem acabar.

Encontramos 87 mil casas do Minha Casa, Minha Vida que tinham começado em 2012, 2013, 2014 totalmente paralisadas. Muitas obras do PAC paralisadas. Então, companheiros e companheiras, é importante que vocês tenham noção. É importante que vocês saibam que esse país será o país que a gente quiser, se a gente tiver maturidade política de não permitir que o ódio tome conta da nossa alma, de permitir que o ódio tome conta do nosso coração.

O mundo não será mais justo se você tiver um presidente da República que fica incentivando as pessoas a comprar armas, enquanto deveria incentivar as pessoas a comprar livros. Porque é esse mundo que nós temos que criar. Vocês sabem que agora nós tiramos o celular da escola, do Ensino Fundamental. E por que nós tiramos? Porque não é possível uma professora dar aula e o aluno aprender se ele tiver com o celular na mão viajando para outro país, para outro mundo. A gente não vai conseguir formar nossas crianças se eles se transformarem em algoritmos.

A gente quer que eles sejam humanistas, que eles tenham fraternidade no coração, tenham solidariedade, aprendam a brincar, aprendam a conversar entre eles. Porque hoje, muitas vezes uma criança chora, a mãe ao invés de pegar no colo dá um celular para a criança, dá um tablet para a criança e essa criança vai virando um robô. E a gente não quer isso.

A gente quer uma relação humanista, uma relação fraterna, uma relação carinhosa, uma relação de amizade em que as pessoas se olhem nos olhos, que as pessoas conversem com os corações. É esse país que nós queremos construir e é esse país que a gente vai fazer. E eu tenho certeza absoluta que obras como essa são o começo de uma virada que a gente vai fazer nesse país.

E tem muito mais coisa para fazer. Vocês viram que ontem nós tomamos uma decisão importante. Nós decidimos ontem, nós mandamos um projeto de lei de que nesse país, quem ganha até 5 mil reais não pagará mais Imposto de Renda nesse país. Nós criamos uma política de crédito para 47 milhões de brasileiros que têm carteira assinada, para empregada doméstica que vai poder tomar [empréstimo com] juros muito mais baratos nos bancos brasileiros.

Se alguém tiver uma dívida com taxa de juros de 8% ou de 7%, ele vai poder escolher um outro banco e trocar sua dívida. E para fazer isso é só usar sua carteira profissional digital e escolher um banco e tentar fazer com que você possa trocar essa dívida cara por dívida barata.

E nós temos muito mais coisa para fazer nesse país. Muito mais coisa para fazer. Porque o que eu quero nesse país é que o dinheiro circule na mão das pessoas. Eu tenho dito que se a gente pegasse R$200 mil e a gente desse para uma pessoa só que está aqui, o que essa pessoa ia fazer com o dinheiro? Ela ia correr para o banco, ia depositar esse dinheiro, ia ganhar dinheiro com juros e o restante ficava chupando o dedo.

Mas se a gente pegasse R$200 mil e desse R$1 mil para cada um, as pessoas iam correr para o supermercado, iam correr para uma padaria, o dinheiro ia circular, ia gerar mais emprego, ia gerar mais salário e todo mundo ganha. É por isso que muitas vezes a gente percebe que pessoas mais grã-finas não gostam da gente. É por isso que a gente percebe.

É por isso que a gente percebe, porque as pessoas não querem entender. Eu digo sempre para todo mundo entender uma coisa muito séria. Quando eu deixei a Presidência da República, dia 31 de dezembro de 2010, esse país emplacava 3 milhões e 600 mil carros por ano.

Guarda esse número. A gente emplacava 3 milhões e 600 mil carros por ano porque o povo tinha dinheiro e estava comprando carro. Quando eu voltei, em 2023, esse país só emplacava 1 milhão e 600 mil carros. Menos da metade do que emplacava 15 anos atrás.

E agora já voltou a emplacar 2 milhões e 600 mil e vamos chegar a 3 milhões e 80 mil outra vez. Porque eu quero que o povo ganhe mais. É por isso que nós aumentamos o salário duas vezes. É por isso que nós temos política de crédito. É por isso que 90% dos acordos salariais que estão sendo feitos agora são acima da inflação. Porque se o dinheiro não circular, apenas meia dúzia ganha dinheiro nesse país.

E a raiva que eles têm de nós é porque nós temos mais de R$300 bilhões em política pública distribuída para as crianças. Quem é que não sabe o sucesso do Pé-de-Meia? 500 mil jovens desistiam da escola para ajudar a família. A gente estabeleceu uma poupança.

Agora criamos uma rede de educação popular para que as escolas técnicas possam ensinar as pessoas do 9º grau a começar a se preparar para o Enem. Quem é que não sabe o sucesso do Prouni? Quem é que não sabe o sucesso das coisas que nós fizemos na educação? Porque nós queremos um outro país. Nós queremos um país em que as pessoas possam comer bem, morar bem, se vestir bem e comer num restaurante e até tomar uma cervejinha no final de semana.

São coisas que nós queremos que todo mundo tenha. Um mundo alegre. É por isso que nós estamos criando escola de tempo integral, porque nós queremos que a criança fique bem cuidada numa escola e a mãe e o pai possam trabalhar.

É por isso que nós estamos criando política de alfabetização até o segundo ano de escola fundamental. Até 2030, nós vamos querer ter 80% das crianças alfabetizadas. Porque se ela não se alfabetizar até o segundo ano, ela vai demorar mais. Então, companheiros, quando eu venho inaugurar uma obra dessa, é importante saber que essa obra não vai resolver tudo.

É importante os prefeitos saberem que eles têm muito trabalho para fazer. É preciso que a governadora saiba que tem muito trabalho para fazer. Porque essa água aí parada não vai resolver muita coisa. É preciso levar água até a casa das pessoas. É preciso levar água até a lavoura das pessoas. É preciso tratar essa água para que ela fique uma água de qualidade para as pessoas beberem, para as pessoas tomarem um banho. Tem muita gente que nunca conseguiu tomar um banho de chuveiro.

Tem muita gente que nunca conseguiu lavar roupa num tanque. Tem que lavar acocorada na beira de um rio. Essa água é para isso. Não é para o sol chupar ela, não. Essa água é para que a gente faça ela se transformar em benefício para mulheres, homens e crianças nesse país. Se não, não compensava fazer.

Então, companheiros e companheiras, eu tenho mais coisas para inaugurar. Eu queria que vocês pudessem um dia viajar para conhecer o canal da transposição da água. Eu queria que vocês vissem uma das maiores obras hídricas do mundo. São mais de 640 quilômetros de canal. Os açudes todos vão ficar cheios. Os rios que estavam vazios vão ter água agora.

E a água vai jorrar para mostrar para a humanidade que não tem nada que não possa ser feito se o governante tiver compromisso e tiver responsabilidade. Esse é um legado que eu quero deixar para a minha vida. É saber que os nordestinos, que durante 300 anos fugiram para outro estado do país para não morrer de fome, agora podem ficar na sua cidade natal. Podem plantar, podem colher, podem comer, podem vender, podem estudar e podem fazer o que quiserem, porque nós temos o direito de ser felizes e o direito de viver bem.

Por isso, querida companheira Fátima Bezerra, eu quero te dar os parabéns dizendo para você que essa água vai te dar trabalho ainda. Não pense que está tudo resolvido. Isso é o começo de uma solução. Agora, não vá lá em Brasília me pedir mais dinheiro, não, porque eu vou contar para vocês. Cada vez que eu vejo a Fátima andando pelos corredores do Palácio, eu falo: pelo amor de Deus, já vem a Fátima pedir o dinheiro aqui.

Mas veja, o dinheiro também não é meu. O dinheiro é do povo brasileiro. Então, se ela pede e eu percebo que merece, nós vamos atender. Agora, eu já estou com duas demandas aqui. Eu nem acabei de descer do aeroporto e já tinha uma demanda. Lá em Mossoró, veio o pessoal: “ô presidente, faz um hospital universitário aqui na nossa universidade em Mossoró”.

Agora eu chego aqui e vejo o pessoal: “ô presidente, faz um hospital universitário para o Seridó”. São dois hospitais. São dois hospitais em três minutos. E eu fico feliz. Sabe por que eu fico feliz, Garibaldi? Você que foi governador, sabe por que eu fico feliz? Hoje as pessoas me param para reivindicar hospital universitário, reivindicar universidade, reivindicar institutos federais, porque só aqui quantos institutos nós fizemos? 21 institutos.

Quantos tinha quando eu cheguei na Presidência?

Governadora Fátima Bezerra: Desculpe, tinha só dois institutos. E o senhor e nossos governos entregaram, portanto, 19.

Lula: Então veja, hoje eu fico feliz, porque quando eu encontro com as pessoas, elas ficam pedindo hospital, ficam pedindo escola, ficam pedindo coisa. Antigamente as pessoas pediam alimento na rua. Antigamente as pessoas pediam cesta básica. Antigamente as pessoas ficavam pedindo, porque a miséria era muito grande.

Vocês estão lembrados da famosa frente de trabalho aqui no Nordeste brasileiro? Vocês estão lembrados que o trabalhador era contratado para tirar a terra de um lado e colocar no outro sem produzir uma obra estruturante nesse país? Isso acabou! Acabou! O que nós queremos é criar um Nordeste tão desenvolvido quanto qualquer outra região do país.

Nordestino não nasceu para ser pobre, não nasceu para mendigar as coisas. Nordestino nasceu para ser tratado com muito respeito, porque se tem uma coisa inteligente, é o povo nordestino, um povo capaz, um povo trabalhador, e a gente quer ser tratado em igualdade de condições.

Viva o Rio Grande do Norte! Viva o Nordeste brasileiro! Viva o povo do Seridó! E viva a nossa querida Fátima Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte. Um beijo, querida, e boa sorte.

Alô, gente, pelo amor de Deus, pelo amor de Deus. Eu vim hoje aqui em agradecimento a tudo que Deus nos deu. Então eu queria que o Dom Jaime pudesse puxar um Pai Nosso, que é uma reza de todas as religiões, para a gente agradecer a Deus esse dia de São José, que nós estamos inaugurando a Barragem de Oiticica.