Pronunciamento do presidente Lula durante inauguração do Hospital Universitário do Ceará (HUC)

Transmissão ao vivo feita pelo CanalGov

Eu queria, cumprimentando o governador Elmano [Elmano de Freitas, governador do Ceará], eu queria cumprimentar todas as pessoas que estão aqui neste palco, porque se eu for ler a nominata é muita gente e eu só tenho cinco minutos para falar. E eu vou dizer para vocês porque eu estabeleci cinco minutos. Porque normalmente nós temos o hábito de falar de improviso. E quando a gente fala de improviso, a gente não limita o tempo. Não sei se vocês já perceberam quantas vezes a gente fala “(...) e para terminar... e por fim... e para terminar”, e a gente nunca termina. Então, eu estabeleci um tempo de cinco minutos para que a gente possa permitir que todos possam falar.

E eu, depois de virar presidente pela terceira vez, eu tenho viajado muito e eu tenho feito reunião do G20 com os principais partidos dos países do mundo, eu tenho participado do G7, eu tenho participado do BRICS e cada presidente da República só fala cinco minutos. O Xi Jinping [Presidente da República Popular da China] só fala cinco minutos. O Biden [Joe Biden, ex-presidente dos Estados Unidos] só falava cinco minutos. O presidente da Índia só falava cinco minutos. O primeiro-ministro da Alemanha só falava cinco minutos.

E se a gente colocar no papel, Camilo [Santana, ministro da Educação], cinco minutos dá para a gente dizer muita coisa. E como o cara que fez o roteiro dessa festa aqui não colocou no papel, ele esqueceu de uma coisa fundamental. Ele esqueceu, ô Lúcio Alcântara [ex-governador do estado do Ceará], de que é preciso colocar uma mulher para falar e não apenas homem para falar.

Nós estamos inaugurando um hospital, o maior hospital público do estado do Ceará, com mais de 800 leitos. E a secretária da Saúde do estado, a Tânia, está aqui. E ela não foi chamada para falar. Tânia, venha pegar esse microfone e dar uma palavra para o povo da saúde do Ceará.

[Trecho de fala da Secretária de Saúde do Ceará, Tânia Mara Silva Coelho]

Tânia, eu acho que o lema para a saúde aqui no estado do Ceará tem que ser o seguinte lema: “Melhorar sempre. Piorar nunca”. É este o lema que deve prevalecer na saúde do estado do Ceará, porque o nosso povo merece o melhor. Lamentavelmente, nem sempre a gente teve um governo que se preocupasse com o conjunto da população. Muitas vezes você recebe votos da maioria e governa para a minoria. Muitas vezes você pede votos para os pobres e depois você esquece dos pobres.

E eu só tenho uma missão nesse país: é provar que ninguém gosta de ser pobre. Ninguém quer ser pobre; ninguém quer comer mal; ninguém quer se vestir mal; ninguém quer morar mal; e ninguém quer ter uma saúde de péssima qualidade. Por isso, eu quero dizer que vocês que trabalham na saúde merecem toda a benção de Deus e o nosso respeito porque, sem vocês, nós não seríamos muita coisa nesse país.

Portanto, meus queridos companheiros e companheiras, eu não vou ler nem minha nominata porque tem muita gente. Eu queria dizer para vocês o meu compromisso com vocês. Eu não conhecia o Lúcio Alcântara quando nós fomos na Coreia e trouxemos para o estado do Ceará a primeira siderúrgica. Eu não conhecia o Lúcio Alcântara, que era governador do estado, que tinha derrotado o nosso Zé Airton [José Airton Cirilo, deputado federal pelo Ceará], porque o Zé Airton quase ganha as eleições.

Eu não conhecia o Lúcio quando eu vim aqui e assumi o compromisso que a gente ia fazer a Transnordestina para fazer melhorar o transporte de carga nesse país. E a Transnordestina tinha sido um pedido do Miguel Arraes [ex-governador de Pernambuco] quando, na campanha de 89, eu fui no Crato (CE) com Arraes e até o palanque afundou, o Arraes caiu, eu caí. E no avião o Arraes falou para mim: "Lula, se você ganhar, recupera a Transnordestina". E eu assumi esse compromisso com a minha consciência e com o Arraes e comecei a fazer a Transnordestina.

Lamentavelmente, eu saí do governo e a Transnordestina não foi acabada. E eu quero aqui na frente de vocês dizer para vocês que eu vou terminar a Transnordestina antes de terminar o meu mandato em 2026. Da mesma forma, companheiro Elmano, eu quero dizer para vocês e para o povo do Ceará: eu estou cansado, a transposição do São Francisco já era para terminar, mas depois que a gente saiu do governo, algumas pessoas que deram o golpe não fizeram o que tinha que fazer.

E eu quero assumir um compromisso com você que nós vamos terminar o Cinturão das Águas antes de terminar o meu governo para que o povo cearense nunca mais tenha problema de abastecimento de água, sobretudo na capital. E quero dizer para vocês algumas coisas mais. Eu quando vejo as pessoas falando das coisas que nós estamos fazendo eu lembro que no mandato passado eu estava no avião com um companheiro e esse companheiro começou a falar um monte de coisa.

Ele começou a falar um monte de políticas públicas, começou a falar um monte de coisa boa que estava acontecendo e eu fiquei pensando: "Que país é esse que esse cara está falando?" Um país que tem programa Luz para Todos, país que tem programa das cisternas, país que tem Farmácia Popular, país que tem, sabe, um monte de políticas públicas que tem “Uni”, que tem ProUni, que tem Reuni, sabe, que tem Fies, que tem institutos federais.

Eu fiquei pensando: "Que país é esse que esse cara está falando?" Aí eu lembrei que esse país era o Brasil. Eu lembrei que era o nosso governo que estava fazendo as coisas acontecerem nesse país. E eu queria, companheiro Camilo, companheiro Elmano, companheiro Evandro, companheiros deputados, senadores, senadoras e deputadas, queria dizer para vocês uma coisa: nós estamos apenas no segundo ano do meu mandato.

Nós estamos começando o terceiro ano agora. E vocês sabem o trabalho que nós tivemos para que a gente pudesse limpar a área, fazer a reforma, amontoar as coisas que estavam espalhadas por esse país, recuperar ministério como o da Cultura, como Direitos Humanos, ministério das Mulheres, ministério indígena, ministério do Trabalho, que não existia mais, a gente teve que recuperar tudo, porque tudo estava destruído.

Só para vocês terem ideia: o Ibama, em 2023, tinha 700 funcionários a menos do que eu tinha em 2010, (quase) 15 anos depois. E nós tivemos um trabalho imenso para reconstruir. O Camilo sabe o que ele passou no Ministério da Educação. O Rui Costa sabe o que ele passou no ministério da Casa Civil. Esse moço sabe o que ele passou no Ministério da Integração. Era um trabalho, era um trabalho de reconstruir, de contratar gente, de fazer concurso, de desmontar a arapuca que estava montada para nós. E nós chegamos em 2023.

E eu quero dizer para vocês uma coisa: se preparem, porque o Brasil que nós vamos entregar será um Brasil melhor do que o Brasil que eu entreguei em 2010. Se preparem! Porque se vocês forem analisar o que está acontecendo nesse país, a quantidade de coisas que nós preparamos, a quantidade de entrega que nós vamos fazer este ano, eu digo sempre que é uma colheita.

A gente preparou a terra, a gente colocou adubo, a gente jogou a semente e esse ano é o ano da colheita. E nós já estamos colhendo. E nós começamos com a mais importante política de crédito que já foi feita nesse país. Nós estamos fazendo uma política de crédito que vai atingir mais de 43 milhões de trabalhadores CLT e que essas pessoas vão tomar crédito mais barato e se tiver uma dívida com juros mais caros, ele pode mudar de banco para pegar o juros mais barato.

Por que nós estamos fazendo isso? Da mesma forma que nós estamos fazendo, mandamos projeto de lei para o Congresso de que quem ganha até 5 mil reais não pagará mais imposto de renda nesse país. Por que nós estamos fazendo isso? Porque eu não sou economista, mas eu tenho uma tese na economia. E a minha tese é simples. Qualquer pessoa pode entender a minha tese.

Eu quero dizer para vocês que se pouca gente tiver muito dinheiro, o Brasil vai continuar pobre, as pessoas vão continuar passando fome, as pessoas vão continuar sem emprego, as pessoas vão ter uma qualidade de educação pior. Agora, ao contrário, se todo mundo tiver um pouco, o Brasil vai ser muito melhor, porque o dinheiro tem que circular na mão de toda a sociedade. O dinheiro tem que circular.

E eu digo sempre, se eu tivesse 300 mil reais e eu chamasse aqui a Tânia e desse para a Tânia — não, 300 não, 300 é muito, 200 mil reais. Eu chamasse a Tânia aqui e falasse: “Ô Tânia, tem 200 mil reais na sua mão”.

O quê que a Tânia ia fazer? Ela ia correr para o primeiro banco, acho que ela ia no BNB, ia no banco do Paulo Câmara, iria colocar os 200 mil reais numa conta dela, tendo lucro só para ela. E todo mundo continuaria chupando dedo. Ao contrário, se eu pegasse esses 200 mil reais e ao invés de dar para a Tânia, eu desse mil reais para cada um de vocês, esse dinheiro ia gerar comércio, ia gerar consumo, ia gerar mais emprego, ia gerar mais salário, ia gerar distribuição de renda.

É essa a coisa que nós estamos fazendo que chama-se milagre nesse país. É por isso que os especialistas imaginavam que o Brasil fosse crescer só 0,8% em 2023 e o país cresceu 3,2%. É por isso que os especialistas encontravam que o Brasil ia crescer só 1,5% em 2024 e o Brasil cresceu 3,4%. É por isso que os especialistas dizem que o Brasil não vai crescer muito em 2025 e eu quero aqui fazer um desafio aos teóricos. O Brasil vai crescer outra vez acima de 3% nesse país.

É o país que mais tem crescido no mundo praticamente. Tem um ou dois países que crescem mais do que nós. E vai continuar crescendo, porque o salário mínimo vai continuar crescendo acima da inflação, porque os acordos salariais vão ser feitos acima da inflação e porque a gente vai ter crédito para que as pessoas possam tomar dinheiro emprestado, pagar um juros mais barato e fazer os investimentos que quiserem.

Vai melhorar e vai crescer mais, porque a gente vai fazer muito crédito para o pequeno e médio empreendedor, para a companheira que quer ser empreendedora, para o companheiro que quer ser empreendedor, para aquele que quer trabalhar por conta própria e quer arriscar a vida, vai ter crédito para ele provar se ele tem competência ou não.

Porque esse país não tem dono. O dono desse país é o povo brasileiro. E quanto melhor estiver o povo, melhor estará o país. Quando eu venho inaugurar um hospital desse, eu começo a pensar: "graças a Deus, as coisas estão acontecendo". Porque não é só esse hospital. É porque muita coisa deixou de acontecer nesse país. Não se comprava mais ambulância. Não se comprava mais ônibus para colocar para os estudantes irem para a escola. Ou seja, não se tinha mais Farmácia Popular.

Ou seja, era um país abandonado, com um governo que só sabia mentir, mentir, mentir e liberar CAC para as pessoas aprenderem a atirar, porque eles entendiam que o que ia resolver o problema era a pessoa ter arma na mão. E eu sou daqueles que acho que, ao invés de arma, nós temos que ter livro. Ao invés de delegacia, nós temos que ter escola, porque nós vamos ter que enfrentar violência sabendo que nós temos que enfrentar o crime organizado.

E não é o estado sozinho. É o estado, é o município, é o Governo Federal. Porque a gente não vai permitir que os bandidos tomem conta do nosso país. A gente não vai permitir que a república de ladrões de celular comece a assustar as pessoas na rua desse país. E é por isso que nós estamos apresentando uma PEC da Segurança para que a gente possa, junto com os governadores de estado e com os prefeitos, a gente definitivamente dizer que o Estado é mais forte do que os bandidos e lugar de bandido não é na rua assaltando e assustando pessoas e matando pessoas. É esse país que a gente vai construir.

E é por isso que eu voltei a ser presidente da República. É por isso que eu voltei. Porque eu acredito nas coisas que eu falo e acredito olhando na cara de vocês. A gente tem condições de fazer desse país um estado que consegue fazer um hospital dessa qualidade e um SUS que pode ajudar a fazer um hospital desse funcionar, não deve nada a ninguém.

Porque o SUS era muito desacreditado. A imprensa falava muito mal do SUS. E aí veio a Covid e quem salvou esse país foi exatamente o SUS que era desacreditado. Com funcionários, médicos, enfermeiras, motoristas, pessoas da limpeza correndo o risco de vida para salvar as pessoas que não tiveram oportunidade.

E por conta de um presidente covarde, por conta de um presidente negacionista, por conta de um presidente mentiroso, 700 mil pessoas morreram nesse país tomando um remédio que não servia para nada, quando na verdade, eles negaram inclusive a ciência. Eu voltei para dizer que a verdade vai vencer a mentira. Eu voltei para dizer que esse povo readquiriu o direito de andar de cabeça erguida. Eu voltei para dizer que esse povo vai voltar a ter escola.

É por isso que nesse estado aqui, a gente vai ter 39 institutos federais, mais seis depois dos 33 que nós temos. Porque não há outra possibilidade de salvar esse país se a gente não investir em educação. A gente poderia olhar na condição da mãe da Tânia que está ali sentadinha. O país tem que fazer, Tânia, o que você fez. Você que não teve nenhuma formação intelectual, acadêmica, universitária.

Você teve a inteligência de dizer: “as minhas filhas só vão ser gente se elas estudarem, elas vão ter independência, elas vão poder ajudar o Brasil”. E é isso que o governo tem que pensar. Não existe outra possibilidade da gente salvar esse país se a gente não investir na educação, se a gente não apostar nas nossas crianças, se a gente não fizer Escola de Tempo Integral, se a gente não fizer mais universidade, se a gente não fizer mais escola técnica, se a gente não fizer mais instituto.

É a educação que é a base do desenvolvimento porque não tem nenhum país no mundo que se desenvolveu sem antes investir na educação. Nós temos, Camilo, segundo seus dados, mais de 68% da população brasileira que não tem o segundo grau. E nós precisamos acabar com isso porque o Brasil não quer ser eternamente exportador de soja ou exportador de minério de ferro ou exportador de milho. Exportador. É bom exportar isso, mas o que nós queremos exportar é inteligência, é conhecimento, porque isso é que tem valor agregado.

Por isso eu estou feliz hoje, Camilo. Estou feliz, Elmano. Estou feliz, Evandro. O Evandro toda vez que vai à Brasília, vai: "Presidente, me dá um dinheirinho. Presidente, me dá um dinheirinho". Eu já falei: não deixa mais ele entrar no meu gabinete. Não deixa mais ele entrar. Porque senão acaba o dinheiro do Brasil, é só pra ele, cara, é só pra ele.

Então, o Camilo também. O Camilo entra com uma cara de bravo, levando o Elmano, sabe, precisa de dinheiro pro Ceará, precisa de dinheiro pro Ceará. E assim, a gente vai trabalhando o conjunto. É a primeira vez na história que a gente tem o prefeito da capital, o governador do Estado e o presidente da República do mesmo partido. É a primeira vez.

Então, meu caro, é da minha responsabilidade, é da responsabilidade do Elmano e é da responsabilidade do Evandro não permitir que vocês se frustrem com as nossas eleições, porque daqui a dois anos a gente vai ter que pedir voto outra vez e vocês vão nos cobrar.

Por isso, companheiros e companheiras, eu aprendi com a dona Lindu, que a gente só pode conversar com uma pessoa olhando na cara, olhando nos olhos, porque são os olhos que mentem e que falam a verdade, não é a boca. E eu quero ter o prazer de voltar aqui pra fazer campanha com você, Elmano, pra pedir voto pra você, sabendo que você conseguiu, orgulhosamente, fazer tudo aquilo que você prometeu ou fazer até um pouco mais, porque você tem uma tarefa muito difícil.

Esse moço teve que ser melhor do que o Cid. Agora você vai ter que ser melhor do que ele. Ele vai ter que ser melhor do que o Haddad na educação. E eu, eu tenho uma coisa muito fácil, que eu tenho que ser melhor do que “o coisa”. E como “o coisa” não foi nada, eu não tenho o problema que vocês têm.

Por isso, companheiros e companheiras, eu quero me despedir de vocês, dizendo pra vocês, contem com aquilo que o Governo Federal pode fazer. Porque antes de tudo, nós somos companheiros. E antes de tudo, eu amo o povo do Ceará, porque aqui, desde que eu sou candidato a presidente, eu nunca perdi uma eleição nesta capital extraordinária. Um abraço, gente, e até o funcionamento de 100% desse hospital maravilhoso.

Padilha (Alexandre Padilha, ministro da Saúde), você tem responsabilidade, cara, você tem responsabilidade. Você substituiu a Nísia, e você vai ter que trabalhar muito, mas muito, para que a gente atenda tudo aquilo que a gente prometeu pra vocês.

Um abraço, gente, um beijo no coração, e até outro dia, se Deus permitir.