Notícias
Discurso do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por ocasião do Diálogo Aberto dos Presidentes na Cúpula do Mercosul - Córdoba, 21 de julho de 2006
Publicado em
21/07/2006 15h45
Atualizado em
08/11/2022 12h06
Excelentíssimo companheiro Nestor Kirchner, presidente da República Argentina, e presidente Pro Tempore do Mercosul,
Excelentíssimo companheiro Nicanor Duarte, presidente da República do Paraguai,
Excelentíssimo companheiro Tabaré Vasquez, presidente da República Oriental do Uruguai,
Excelentíssimo companheiro Hugo Chávez, presidente da República Bolivariana da Venezuela,
Excelentíssimo companheiro Evo Morales, presidente da República da Bolívia,
Excelentíssima companheira Michelle Bachelet, presidente da República do Chile,
Excelentíssimo companheiro Fidel Castro, presidente da República de Cuba,
Meu caro companheiro Carlos Chacho Álvares, presidente da Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul,
Chanceleres do Peru e do México, representando os seus governos,
Meu caro Humayun Khan, ministro do Comércio do Paquistão, Meu caro Henrique Garcia, presidente da Corporação Andina de Fomento,
Meus companheiros dirigentes sindicais, representando a coordenadora das Centrais Sindicais do Mercosul,
Companheiros da sociedade civil,
Em primeiro lugar quero expressar meu reconhecimento pelo trabalho da Argentina, que esteve à frente da Presidência Pro Tempore durante o último semestre.
Graças à condução política argentina e ao empenho pessoal do presidente Kirchner, o Mercosul caminhou no tratamento de sua ampla agenda e adquiriu nova dimensão política e econômica.
Ao celebrar seus 15 anos de existência podemos dizer que nosso agrupamento avança para nova etapa de sua vida.
Temos, hoje, a satisfação de celebrar a incorporação da Venezuela como membro pleno, e isto tem, seguramente, um significado maior e representa a primeira expansão do Mercosul nesses 15 anos. Nosso bloco tem agora mais de 250 milhões de habitantes, um PIB de mais de 1 trilhão de dólares e um comércio global superior a 320 bilhões de dólares.
O Mercosul vai agora da Terra do Fogo ao Caribe e confirma sua vocação natural para acolher novos parceiros da região e construir associações mais ambiciosas. Devemos, cada vez mais, tratar dos temas do Mercosul tendo presente seu papel na construção da integração sul-americana. A presença de líderes e representantes de países amigos nesta reunião reflete essa capacidade do Mercosul aglutinar idéias e vontades, de encontrar soluções coletivas sem se fechar para o mundo. Estamos provando que o Mercosul só faz aumentar nossas capacidades individuais de inserção internacional. Hoje, celebramos acordos econômicos e comerciais com Cuba e Paquistão. E são muito boas as perspectivas das negociações com a Índia, o Conselho de Cooperação do Golfo, com a União Aduaneira da África Austral, entre outras. O Mercosul tem também dado provas de sua união de propósitos em temas centrais da agenda internacional, do que é exemplo a Rodada de Doha da OMC. Insistimos na necessidade de resultados equilibrados, que levem em conta os interesses de nossa região. Não se trata somente de buscar maior acesso a mercados para nossos produtos. Nosso objetivo maior, no G-20, é o de garantir a credibilidade do sistema multilateral de comércio como ferramenta de desenvolvimento.
Meus caros companheiros Presidentes,
Creio que temos perfeita clareza das dificuldades e obstáculos que o Mercosul enfrentou nos últimos meses. Mas não podemos deixar de reconhecer os progressos que temos feito na agenda interna do bloco. Nem, muito menos, os grandes avanços em nosso relacionamento externo. Fomos capazes de encaminhar questões comerciais de grande complexidade, como a eliminação da dupla cobrança da TEC e a abertura de nossos mercados de serviços. Essas são provas de que, respeitados nossos ritmos e tempos, estamos dando passos decididos para aperfeiçoar nossa União Aduaneira, que deve continuar sendo um objetivo maior do bloco, no caminho da construção do Mercado Comum.
Seguimos apostando na soma de nosso potencial econômico, comercial e produtivo. Potencial que se multiplica no momento em que, em cada um de nossos países, estamos resgatando setores sociais tradicionalmente marginalizados. Avançamos também no desenho do futuro energético da região. A partir de discussões bilaterais e trilaterais estamos ampliando nossos horizontes nos termos do Acordo Quadro Energético. Nosso propósito maior é garantir, de uma vez por todas, a segurança energética do Mercosul e de toda a América do Sul.
Minhas amigas e meus amigos,
Não compartilho a percepção de que o Mercosul está em crise. Em 1998, quando se falava no "fim do Mercosul", eu insistia que não era o bloco que estava em crise, mas que eram nossos países que estavam em crise. Hoje, vejo que muitas das questões que são apontadas como sinais de um esfacelamento do Mercosul são frutos de problemas legados por um passado que queremos definitivamente superar.
Nossos objetivos centrais permanecem mais válidos do que nunca. É por isso, também, que rejeito críticas a uma pretensa bilateralização no âmbito do bloco. Estou convencido de que a solução desses problemas dependerá de um diálogo reforçado em todos os níveis.
A intensificação do nosso relacionamento bilateral contribui positivamente para a integração regional, da mesma forma que o fortalecimento do Mercosul enriquece os laços entre nós.
É verdade também que, em todos os nossos países, há setores constituídos contrários ao Mercosul e que defendem estratégias individuais alternativas. E nossa omissão, muitas vezes, tem servido para fortalecê-los. Devemos reforçar o diálogo com esses grupos e, sobretudo, demonstrar às nossas populações, na prática, a validade de nosso projeto de integração. Temos responsabilidades governamentais e a obrigação de encontrar soluções para as inquietações e desafios que são parte de qualquer processo de integração profunda como o nosso.
O Brasil assume a Presidência Pro Tempore consciente do momento especial que estamos vivendo. Ampliamos o nível de nossas ambições e o alcance de nosso bloco. Ao mesmo tempo, temos de fazer frente a uma série de obstáculos e desafios concretos que estão sobre a mesa.
O Mercosul tem diante de si o desafio de reinventar-se e atender às expectativas de todos os seus membros. Temos de desenhar mecanismos que equacionem em definitivo as assimetrias, inclusive com o aporte de novos recursos. Precisamos encarar de frente as questões relativas ao fortalecimento institucional e à implementação, em cada um de nossos países, das decisões e acordos que tomamos no bloco. Devemos aproximar o Mercosul do dia-a-dia dos cidadãos para atender melhor e de forma mais direta as demandas de nossas populações.
Meus companheiros,
Terei a oportunidade de tratar, em detalhe, de todos esses temas no encerramento da Cúpula, ao assumir a Presidência Pro Tempore. Quero apresentar um conjunto de idéias que possam contribuir para dinamizar os trabalhos do bloco.
Termino com uma nota de otimismo em relação ao futuro de nosso agrupamento. Um otimismo temperado com apreensão e cuidado, é verdade, mas que em nenhum momento me faz duvidar de nossa capacidade coletiva de encontrar soluções para os grandes desafios do desenvolvimento econômico e social de nossa região. Queria, meu companheiro Kirchner, terminar aqui dizendo que no nosso mapa, aqui, na nossa bandeira falta a estrela da Venezuela e que logo, logo nós iremos ter a da Venezuela, a da Bolívia e, quem sabe, teremos toda a América do Sul envolvida.
Meus companheiros, eu queria dizer a todos nós, aqui: a Argentina presidiu o Mercosul com muita competência, em momentos que tivemos sinais de inquietações entre nós. Eu queria dizer aos companheiros presidentes que nos momentos de maior inquietação, a palavra-chave é paciência. Se nós permitirmos que as inquietações internas dos nossos países determinem a relação entre os estados que governamos, nós teremos muitos problemas. Hoje eu percebo em vários estados. E aqueles que criticam o Mercosul são os setores mais conservadores que durante muito tempo trabalharam para acabar com o Mercosul.
Portanto, eu quero dizer ao governador De la Sota, que quando eu tinha 18 anos de idade, que eu me formei torneiro mecânico, o meu sonho era vir trabalhar na Argentina, em Córdoba, porque pagava mais do que no Brasil. Não pude realizar esse sonho, mas somente hoje eu pude conhecer um pouco de Córdoba. Meus parabéns, porque ela é tudo aquilo que durante muitos anos eu ouvi falar, da pujança desta Província.
Obrigado