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SNCT 2025
Realidade aumentada transforma o aprendizado e encanta visitantes na SNCT 2025
A 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que segue até domingo (26), na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF), recebe diariamente múltiplos projetos com realidades aumentadas (RA). Ideias com funções e destinos diferentes transportam o participante para outros mundos. Presentes na feira pelo quarto ano consecutivo, dessa vez no estande Pop Ciência, o projeto RA nas Escolas foi uma das iniciativas que levou os pequenos e grandes frequentadores ao fascínio.
Criado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2018, o projeto conta com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) desde 2023, quando foi expandido e lançado como programa. Agora, com dois anos de impulsionamento, a iniciativa avança no objetivo de provar que o ensino em sala de aula pode ser interativo, tecnológico e, principalmente, acessível.
A RA é uma tecnologia que combina o mundo real com o digital — permitindo visualizar imagens, animações e informações virtuais sobrepostas ao ambiente físico, por meio de celulares, tablets ou óculos especiais. É como enxergar o mundo com uma camada extra de conteúdo interativo. Utilizando o aplicativo gratuito Zappar, que está disponível em Android ou IOS, os pesquisadores desenvolvem modelos 3D, animações e experiências imersivas em RA, que podem ser aplicadas em diversas disciplinas, como biologia, física, química e matemática, tornando o aprendizado mais envolvente e dinâmico.
O RA nas Escolas proporciona oportunidades como:
- Ver o sistema solar em 3D no celular
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Explorar uma molécula de DNA sobre a carteira
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Observar o funcionamento de um motor ou órgão humano em realidade aumentada
A coordenadora do projeto e professora do departamento de computação da UFSC, Eliane Pozzebon, afirma que o objetivo é expandir cada vez mais o alcance nacional da realidade aumentada nas escolas públicas. “Queremos que qualquer professor, em qualquer região do País, possa usar essa tecnologia para tornar o aprendizado mais envolvente e despertar a curiosidade dos alunos.”
Os frutos do programa ficaram expostos na SNCT 2025 por três dias, e professores idealizadores do trabalho aguardavam ansiosos a chegada do público para poder explicar aos visitantes o resultado de anos de dedicação e amor pela ciência. O principal deles se trata de um conjunto de produtos, chamados pelos idealizadores de artefatos 3D: são cartas, que lembram um baralho, com imagens de diferentes áreas de estudo como órgãos do corpo humano, tipos diferentes de vírus, células, planetas, entre outros. Na carta, um QR Code fica disponível para leitura direta no aplicativo matriz.
Ao escanear, a imagem da carta vai parar no celular do usuário. Dessa forma, o aluno pode interagir com um órgão humano, girar, aumentar e clicar em partes específicas para obter informações e curiosidades. O professor do departamento de ciência da administração da UFSC e idealizador da iniciativa, Alexandre Marino, conta que tudo surgiu durante um pós-doutorado na Universidade Aberta do Reino Unido. “Eu realizei meu pós-doutorado na Inglaterra entre 2013 e 2016 e trouxe essa ideia para o Brasil. A partir daí, nós desenvolvemos, no Laboratório de Tecnologias Computacionais da UFSC (LabTeC-UFSC), esses artefatos baseados em diferentes temas”, explica.
Após dias intensos de troca e demonstração, a equipe, de volta a Santa Catarina, trabalha para continuar avançando em pesquisas e inovações. Segundo Alexandre Marino, o foco atual é desenvolver modelos que também possam ser impressos em 3D, ampliando as possibilidades de uso pedagógico. “Queremos que todos esses artefatos possam ser impressos em uma impressora 3D, por qualquer pessoa. A carta com o coração, por exemplo, que hoje pode ser visualizada no papel e depois no celular, poderá se transformar em um objeto físico, realista e interativo para estudo. Esse é o nosso sonho: uma educação aberta”, afirmou.
A professora de anatomia da UFSC, Josete Mazon, complementa que a ideia de Marino prosperou na necessidade de fazer o aluno visualizar processos difíceis ou complexos, permitindo que ele acompanhe visualmente a explicação e interaja com o que é dito. “Como é que o aluno vai imaginar o que é um fuso mitótico dentro de uma célula que tem um cromossomo? Só ver a imagem estática pode não elucidar muito bem. Então, a gente trabalha com a interação. Ele pode vir aqui, mexer na célula e observar como é que ela se divide para formar esse cromossomo. Então, é uma forma que você tem de explicar visualmente para o aluno”, contou.
A cada clique, uma nova realidade
Além das cartas, os expositores levaram os artefatos 3D para dentro de óculos de realidade virtual e mista, proporcionando uma experiência ainda mais imersiva. Quem estivesse passando pelo local poderia utilizar os objetos e visualizar todas as imagens em três dimensões, de forma imersiva. O participante poderia escolher desde um holograma de um coração humano até um planeta.
O pequeno Kauan Maciel, de 14 anos, conta que essa foi a primeira vez que usou esse tipo de óculos. O coração, imagem que escolheu visualizar, deixou um rastro de encantamento no rosto do menino. “É a primeira vez que eu coloquei uns óculos desses. Eu vi um coração, consegui aumentar, diminuir. É muito interessante, eu nunca vi um coração tão real assim antes!”, disse.
Para Kauan, seria mais fácil aprender se pudesse visualizar tudo que estuda dessa forma. “Se eu pudesse ler nas cartinhas, ver no celular seria muito legal. Interessaria mais a escola”. O menino, que participou da experiência seguido de tantos outros, saiu do estande com a certeza de que viveu uma experiência única. “Todo mundo devia ver um dia, é muito divertido”, finalizou.
Os materiais são produzidos por uma equipe interdisciplinar, composta por professores das escolas, docentes da UFSC e bolsistas do Laboratório de Tecnologias Computacionais (LabTeC), no campus de Araranguá. É lá onde todas as inovações e artefatos 3D são gerados. Com 360 artefatos voltados para o mesmo objetivo, educadores, alunos e interessados de todo o país podem acessar toda a produção do projeto no repositório online gratuito.
De acordo com Eliane Pozzebon, o projeto RA nas Escolas surge para popularizar o conhecimento e aproximar do aprendizado aqueles alunos que enfrentam dificuldades para visualizar conceitos complexos. A iniciativa, segundo a coordenadora, tem um alcance amplo, atendendo desde crianças pequenas até estudantes de graduação, e permite que os professores determinem como explorar os conteúdos de forma criativa e adaptada ao nível de ensino.
“O projeto é extremamente versátil. Um professor pode usar nosso material para uma criança no jardim de infância, fazendo, por exemplo, a célula procarionte ‘andar’ na mão dos alunos e criar uma experiência lúdica e envolvente. Ao mesmo tempo, as mesmas ferramentas podem ser aplicadas em aulas de anatomia na graduação, permitindo projeções detalhadas que facilitam a compreensão de estruturas complexas”, explica.
Segundo Pozzebon, essa flexibilidade pedagógica é uma das principais forças do RA nas Escolas, pois transforma o aprendizado em algo interativo e memorável, despertando a curiosidade e estimulando a exploração ativa do conhecimento. Além disso, a iniciativa contribui para reduzir barreiras educacionais, garantindo que alunos de diferentes regiões e contextos tenham acesso a recursos tecnológicos de ponta. “Queremos que o aprendizado seja mais envolvente, visual e divertido, independentemente da disciplina ou da idade dos alunos”, conclui.
Outro produto apresentado na feira é uma camiseta com todos os órgãos toráxicos dispostos de forma tridimensional, que pode ser escaneada pelo Zappar, fazendo com que o desenho vá parar na tela, permitindo que o aluno clique em partes específicas, posicione o desenho no corpo de um colega e entenda como os órgãos humanos ficam dispostos e qual local ocupam. “Com o colete, você consegue visualizar de forma anatômica todos os órgãos do corpo humano. O professor pode utilizá-lo enquanto interage com os alunos, projetando a imagem diretamente sobre o corpo deles. Isso ajuda a mostrar a localização da traqueia, dos pulmões e de todos os demais órgãos de forma prática e visual”, explica o coordenador.
Capacitação de professores alcança todo o País
Uma das linhas de execução da iniciativa mira a capacitação de professores de forma completamente gratuita. O projeto oferece capacitações presenciais e à distância para docentes da rede pública de ensino. Hoje, mais de mil profissionais da educação estão capacitados do Norte ao Sul do Brasil. O treinamento é feito pelo site RA nas Escolas, de acordo com o site da iniciativa.
Os cursos ensinam como usar e criar conteúdos em RA, mesmo sem conhecimento técnico prévio. Os professores aprendem a aplicar a tecnologia no currículo escolar, tornando as aulas mais interativas e contextualizadas. Para participar, basta estar cadastrado na Plataforma RA, acessar a página de inscrição dos cursos, fazer o login e preencher o formulário de inscrição. A confirmação é feita via e-mail. As escolas participantes recebem kits de realidade aumentada, que incluem:
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Materiais físicos (como cartões e painéis com marcadores de RA)
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Acesso a aplicativos ou plataformas desenvolvidas pela UFSC
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Instruções e guias didáticos para uso com os alunos
Esses kits permitem que qualquer escola, mesmo sem laboratório de informática ou internet veloz, consiga aplicar a tecnologia. A partir daí, professores começam a aplicar a tecnologia em sala de aula.
Um mapa interativo pode ser consultado e está disponível no site do projeto, mostrando todos os professores do Brasil que se capacitaram. Um exemplo é um professor do Centro de Ensino Fundamental 02 do Paranoá, que se capacitou em astronomia e recebeu um kit em casa após concluir o curso.
Marino afirma que a produção é feita pensando em aumentar o alcance para todos, e tirar a inovação do campo universitário. “Hoje nós temos 360 artefatos 3D disponíveis para o professor. Recurso aberto, gratuito. É desenvolvido dentro da universidade, mas a ideia é que quanto mais gente disseminar mesmo a ciência, quanto mais gente utilizar, mais a gente melhora a qualidade de ensino nas escolas”, contou.
Em expansão nacional desde o início da parceria com o MCTI, o projeto segue em busca de ocupar escolas de todo o País, levando a RA e o ensino interativo ao maior número possível de alunos. Presente em duas edições da SNCT e preparado para as próximas, o RA nas Escolas reflete o espírito da feira: popularizar a ciência e aproximá-la de quem aprende.
A SNCT é promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, sob a coordenação da Secretaria de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social (Sedes), e conta com o patrocínio de Financiadora de Estudos e Projetos (Finep); Huawei do Brasil Telecomunicações Ltda; Caixa Econômica Federal; Positivo Tecnologia S.A.; Conselho Federal dos Técnicos Industriais (CFT); Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB); Conselho Federal de Química (CFQ); Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur); Comitê Gestor da Internet no Brasil / Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (CGI.br e NIC.br) e Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (Aiab).