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Por que níveis de aquecimento são relevantes para compreender os impactos da mudança do clima?
As análises para Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação (IVA) da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) foram elaboradas considerando cenários baseados nos níveis de aquecimento global, ou seja, quais as implicações para o Brasil quando as temperaturas médias do planeta ficarem 1,5 °C, 2 °C ou 4 °C mais altas. Ao apresentar os resultados considerando os Níveis de Aquecimento Específico (Specific Warming Levels, SWL na sigla em inglês), o país alinha-se à discussão internacional, em especial ao Acordo de Paris.
“Quando se discute nível de aquecimento, se busca quantificar o impacto do aquecimento global de 1,5 graus ou 2 graus [a mais], se comparado aos níveis pré-industriais”, explica o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCTI), Lincoln Alves, responsável por coordenar os estudos climáticos para a Quarta Comunicação Nacional do Brasil.
Firmado em 2015, durante a COP21, o Acordo de Paris prevê limitar o nível de aquecimento global em 1,5 °C ou bem abaixo de 2 °C. Em busca desse objetivo, o acordo também busca quantificar os impactos do clima em diferentes níveis de aquecimento. Segundo o pesquisador, que também integra o Grupo de Trabalho I do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Cima (IPCC), além de permitir melhor mensurar os impactos da mudança do clima, a abordagem por nível de aquecimento sinaliza a urgência da tomada de decisão sobre medidas para a redução das emissões de GEE e para as ações de adaptação. Sabe-se que os níveis de aquecimento podem ser atingidos em diferentes horizontes temporais, de acordo com as trajetórias de emissões de gases de efeito estufa (GEE).
“O nível de aquecimento de 1,5 graus está muito mais próximo da realidade que estamos observando, onde o aquecimento global já está em torno de 1 grau. É uma proximidade muito grande. Têm-se as evidências de que o clima está mudando e causando impacto em determinados setores”, analisa o pesquisador.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês), a temperatura média global já está pelo menos 1 °C mais quente, comparado aos níveis pré-industriais. De acordo com Alves, o esforço traduzido nos cenários futuros para saber o que pode acontecer quando o aquecimento global atingir um desses patamares também revela que meio grau a mais apresenta uma diferença significativa. “A maioria dos estudos mostra que meio grau faz diferença, é praticamente o dobro nos impactos”, alerta Alves sobre os desdobramentos nos setores socioeconômicos e biológicos.
Os possíveis impactos aos quais o pesquisador refere-se estão relacionados à perda de biodiversidade, impactos na produção agrícola e alteração de áreas potencialmente cultiváveis, ocorrência de eventos extremos, incluindo mudanças no padrão de chuvas e secas mais prolongadas.
Modelos climáticos – Os cenários climáticos SWL1,5, SWL2 e SWL4 foram produzidos a partir de dados gerados por modelos climáticos globais e regionais. Foram utilizados o Modelo Regional Eta, com dados de origem dos modelos globais HadGEM-2-ES e MIROC5, e o HadGEM3-A (Projeto HELIX), acoplado a dados de outros seis diferentes modelos globais. Isso quer dizer que mais de uma fonte de informação foi considerada para elaborar as projeções.
Modelagem de impactos – Para analisar como as mudanças nos parâmetros climáticos podem afetar setores estratégicos para o Brasil, os cenários climáticos futuros foram incorporados nos estudos de IVA como um dado de entrada. Ou seja, buscou-se responder o que pode acontecer em setores estratégicos do Brasil, considerando as seguranças Hídrica, Energética, Alimentar e Socioambiental, quando diferentes níveis de aquecimento forem atingidos. “Houve um esforço para traduzir essas informações climáticas em termos de riscos e impactos chave para a realidade do País, por isso disponibilizamos análises puramente climáticas em uma seção inicial, e resultados que consideram uma visão integrada no âmbito das seguranças”, explica o supervisor de IVA para a Quarta Comunicação Nacional, Diogo Victor Santos.
Acesse aqui o documento da Quarta Comunicação Nacional do Brasil à Convenção do Clima e conheça em detalhes as tendências observadas para o clima no Brasil no Capítulo 3, que aborda Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação à Mudança do Clima no Brasil