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Pesquisadores do Instituto de Engenharia Nuclear desenvolvem microesferas de vidro para ajudar em tratamentos de câncer

- Pesquisadores do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN/CNEN)
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 704 mil casos novos de câncer devem ser registrados no Brasil em 2024. Este número reflete a necessidade constante de pesquisas sobre a doença, que pode afetar várias partes do corpo humano, e também estratégias de tratamentos que sejam eficazes e mais acessíveis à população, sobretudo devido ao aumento de ocorrências em todas as idades.
Pensando nisso, um grupo de pesquisadores do Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), unidade técnico-científica da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), sediada no Rio de Janeiro, desenvolveu e patenteou uma pesquisa inédita cujos resultados prometem ser promissores no combate a alguns tipos de câncer passíveis de tratamento a partir de radioembolização.
Essa técnica envolve a entrega precisa de microesferas carregadas com produtos radioativos até a região específica do tumor, reagindo de maneira mais segura e precisa à radioterapia, especialmente em casos de tumores no fígado que não permitem cirurgia.
Sob a responsabilidade do farmacêutico e pesquisador Ralph Santos-Oliveira, a patente: BR 10 2023 023825-4, com o título: “Reciclagem de vidro para fins médicos: produção de microesferas de matriz vítrea dopadas com 166Hólmio para radioembolização hepatocelular”, desenvolvida no Laboratório de Nanorradiofármacos apresenta um produto 100% nacional e com grande impacto social.
De forma inovadora e inédita, a pesquisa conseguiu dois avanços importantes: primeiro, a produção, em laboratório, de microesferas a partir de vidro reciclável, uma matéria-prima abundante no Brasil e que pode desafogar a cadeia produtiva de impacto ao meio ambiente; o outro insight foi dopar as microesferas com 166Hólmio por este ser um radioisótopo subestimado, mas que apresenta uma ótima capacidade de usos em terapias oncológicas.

- Microesferas de vidro. Em A, logo após o processo de fundição e em B, após o processo de pulverização.

- Imagem microscópica das microesferas em uma solução aquosa.
A pesquisa do IEN – e o resultado promissor – só foi possível graças a estudo anterior sobre novos radiofármacos para terapia oncológica, no qual os cientistas envolvidos chegaram a avanços significativos. A partir daí, em 2020, a equipe de Ralph decidiu encarar os desafios práticos relacionados à radioembolização.
“Lembro de ter lido algo sobre o Brasil ser 100% dependente da importação das microesferas acrílicas, até então utilizadas, e que os valores dessas microesferas eram absurdamente altos, em termos de 10 mil a 15 mil dólares; e também o fato de que o Brasil não tinha nenhum tipo de rota de produção desse material. Hoje, conseguimos superar esta deficiência”, comemora Ralph.
Novos rumos para radioembolização
O pesquisador destaca que, a partir dos resultados já alcançados, existe a possibilidade de ampliação das técnicas de radioembolização para o Sistema Único de Saúde (SUS) de forma rotineira, uma vez que é possível ao país ter um radiofármaco nacional, barato e fácil de se produzir, sem falar no alto rendimento dos resultados.
“Isto é uma grande missão e, na verdade, é o reforço do comprometimento da Comissão Nacional de Energia Nuclear com a nossa sociedade. A renovação desse empenho nosso com a sociedade se faz através de uma oferta de um produto que possa, de fato, facilitar e alterar a conduta clínica de alguns milhares de pacientes por ano”, lembra o farmacêutico.
Ralph conta que sua equipe tem trabalhado, atualmente, com outras aplicações da microesfera, em parceria com pesquisadores das Universidades Federais do Maranhão (UFMA) e do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Além da radioembolização, hoje, nós estamos estudando outras aplicações para estas microesferas, o que provavelmente será uma expansão dessa patente. Certamente virão resultados bastante interessantes sobre a possibilidade de uma nova aplicação das microesferas”, adianta o pesquisador.
O que é a radioembolização

A radioembolização permite uma maior eficácia no tratamento de alguns tipos de câncer, principalmente no fígado, proporcionando uma forma de melhorar a vida de pacientes que já não podem fazer cirurgia.
É um procedimento que se propõe a oferecer mais qualidade de vida e tempo de sobrevida de pacientes, sendo uma técnica que utiliza microesferas carregadas com isótopos radioativos que podem alcançar e penetrar internamente no tumor destruindo as células tumorais através de radiação emitida.
A radioembolização é considerada um tratamento adicional, podendo ser aplicado em associação a outros tipos de tratamento como a quimioterapia.
Estudos clínicos com 166Hólmio
Atualmente, já existem estudos clínicos que apontam o carcinoma hepatocelular (CHC) como sendo responsável por 90% dos cânceres hepáticos (fígado) primários, tornando-se um problema de saúde crescente em todo o mundo. A maioria dos pacientes apresenta a doença em estágio avançado. A radioembolização usando 90Yttrium tem sido usada há mais de uma década para estes casos, porém, estudos apontam que o uso de 166Hólmio pode oferecer uma abordagem mais personalizada em termos de imagem e dosimetria.
Mais informações no site do IEN — Instituto de Engenharia Nuclear (https://www.gov.br/ien/pt-br)
Ulysses Varela
Bolsista BGE-DA/IPEN-CNEN