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TRANSIÇÕES ENERGÉTICAS

Transição energética é necessária e ao mesmo tempo desafiadora, diz especialista

Especialista em assuntos energéticos, o diplomata Carlos Pascual, ex-embaixador dos Estados Unidos no México e na Ucrânia, concedeu entrevista exclusiva sobre o mercado internacional de energia e o debate sobre transição energética para o site G20 Brasil. Para ele, é fundamental que os países do Sul Global tenham voz no sistema energético mundial.

01/08/2024 07:00 - Modificado há um ano
Especialista no tema, ex-embaixador dos Estados Unidos Carlos Pascual coordena palestra durante reunião do GT Transições Energéticas realizado em junho. Crédito - Audiovisual G20 Brasil

Para o diplomata Carlos Pascual, a próxima eleição norte-americana e os conflitos entre Ucrânia e Rússia e Israel e Palestina são algumas das questões que podem influenciar o mercado de energia e o debate sobre transição energética no mundo. Ele coordenou, durante a 3º reunião do Grupo de Trabalho de Transição Energética, realizada em junho, uma mesa sobre geopolítica e energia com especialistas da área e apresentou algumas tendências diante dos principais fatores geopolíticos do momento. 

Carlos Pascual é um diplomata cubano-americano e foi embaixador dos Estados Unidos no México e na Ucrânia. Ele também atuou como coordenador para Assuntos Energéticos Internacionais no Departamento de Energia dos Estados Unidos. Atualmente, é vice-presidente e chefe de geopolítica e assuntos internacionais na S&P Global no México.

Confira a entrevista exclusiva que o especialista concedeu para o site do G20 Brasil.

O que também enfrentamos é o desafio de  investir numa nova economia energética com novos combustíveis, novas fontes, como a eólica e a solar, o hidrogênio, novas tecnologias como a captura de carbono. Mas precisamos fazer isso paralelamente ao atendimento da demanda e da economia energética de hoje. Caso contrário, simplesmente não conseguiremos alcançar a transição e é isso que é tão difícil hoje.

Qual o panorama do mercado mundial de energia hoje? Quais os pontos de convergência e os de conflito?

Estamos num momento histórico de transição energética no mundo. Nunca antes procuramos transformar completamente a natureza da produção e utilização da  energia. Demorou 100 anos até que o petróleo se tornasse mais utilizado do que o carvão e ambos pudessem continuar no sistema energético. Agora, estamos tentando algo diferente, que nunca fizemos, que é mudar completamente os combustíveis que usamos para utilizar as energias renováveis e, eventualmente, eliminar gradualmente o uso de hidrocarbonetos. Esta transição dos hidrocarbonetos é extraordinariamente desafiadora e levará tempo. Então, como podemos satisfazer a economia energética que temos hoje? Precisamos ser capazes de atender a demanda por energia para manter os preços razoáveis. Se não conseguirmos encontrar uma maneira de suprir a demanda, temos o risco do aumento dos preços. 

O que também enfrentamos é o desafio de  investir numa nova economia energética com novos combustíveis, novas fontes, como a eólica e a solar, o hidrogênio, novas tecnologias como a captura de carbono. Mas precisamos fazer isso paralelamente ao atendimento da demanda e da economia energética de hoje. Caso contrário, simplesmente não conseguiremos alcançar a transição e é isso que é tão difícil hoje. 

Diante de realidades tão diferentes em cada país, qual a importância do G20 para achar um caminho comum para a transição energética? 

O G20 é absolutamente essencial porque reflete uma vasta gama de países com interesses econômicos e recursos naturais diferentes. São as principais economias do mundo. Eles são os maiores consumidores de energia. E assim o G20 proporciona um fórum onde potencialmente 80% da procura mundial de energia e das emissões mundiais estão realmente representadas aqui. Se conseguirmos encontrar uma forma de avançar com o G20 para encontrar um entendimento, então isso se torna uma base importante para que o resto do mundo seja capaz de se reunir em um consenso e alcançar o sucesso. Portanto, é fundamental desenvolver o sentimento de confiança no G20 para poder ter debates abertos. 

É importante que o Brasil consiga fazer a ponte entre países que são produtores de energia, é uma economia emergente que tem a capacidade de se alinhar com os países em desenvolvimento e de compreender os seus interesses e as suas opiniões sobre a transição. Portanto, o Brasil, como ator crítico no G20, tem uma enorme responsabilidade sobre seus ombros para continuar a ser uma liderança e ajudar a encontrar soluções que possam aproximar o mundo.

Penso que é fundamental dar aos países do Sul Global uma voz no sistema energético mundial e respeitar essa voz. Há muitas questões críticas em cima da mesa sobre como fornecer energia para milhões de pessoas e como você obtém e reduz o custo do capital para que as tecnologias de descarbonização sejam levadas às economias emergentes no Sul Global.

Penso que é fundamental dar aos países do Sul Global uma voz no sistema energético mundial e respeitar essa voz. Há muitas questões críticas em cima da mesa sobre como fornecer energia para milhões de pessoas e como você obtém e reduz o custo do capital para que as tecnologias de descarbonização sejam levadas às economias emergentes no Sul Global.

No final, uma das coisas que será crítica é colocar o setor privado na situação e ver que existem projetos que podem ser comercialmente atrativos, que podem produzir retornos significativos para a indústria e, ao mesmo tempo, ser benéficos para os países que tiveram menos recursos à sua disposição para desenvolver suas tecnologias. Trazer o setor privado para essas discussões também será importante porque precisamos dos recursos privados para podermos impulsionar o capital necessário para fazer o investimento que crie as capacidades necessárias para alcançar o  potencial que os países do Sul Global tem.

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