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ALIANÇA GLOBAL CONTRA A FOME E A POBREZA

Insegurança alimentar severa cai 85% no Brasil em 2023, aponta relatório da ONU sobre o Insegurança Alimentar Mundial (SOFI2024)

A edição 2024 do Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial (SOFI 2024), lançado nesta quarta-feira (24), no Rio de Janeiro, mostrou que a insegurança alimentar severa caiu 85% no Brasil em 2023.

24/07/2024 09:00 - Modificado há um ano
Escolas brasileiras recebem alimentos oriundos da agricultura familiar como forma de combater a fome e a pobreza no País. Foto:André Oliveira/ MDS
Escolas brasileiras recebem alimentos oriundos da agricultura familiar como forma de combater a fome e a pobreza no País. Foto:André Oliveira/ MDS

Em números absolutos, a insegurança alimentar severa, que afligia 17,2 milhões de brasileiros em 2022, foi reduzida para 2,5 milhões de brasileiros. Observando apenas o ano de 2023 em relação a 2022, a insegurança alimentar severa caiu de 8% para 1,2% da população.

“Os dados das Nações Unidas vêm para mostrar que estamos no caminho certo. Em apenas um ano de governo, reduzimos a insegurança alimentar severa em 85%, tirando 14,7 milhões de brasileiros e brasileiras dessa condição”, afirmou o ministro do Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias. 

Segundo a metodologia da FAO, a insegurança alimentar severa é quando a pessoa está de fato sem acesso a alimentos, e passou um dia inteiro ou mais sem comer. Representa a fome concreta e atual, que, se mantida regularmente, leva a prejuízos graves à saúde física e mental, sobretudo na primeira infância, no desenvolvimento e na formação cognitiva. 

Avanços no combate à fome

O relatório - produzido conjuntamente pelas agências das Nações Unidas FAO, FIDA, UNICEF, PMA e OMS - atualiza anualmente o “Mapa da Fome”. O lançamento acontece no mesmo dia e local da Reunião Ministerial da Força Tarefa do G20 para o Estabelecimento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

O relatório SOFI destaca ter havido avanços importantes no combate à fome. O Brasil, que tinha saído do “Mapa da Fome” em 2014 e sustentado esta posição até 2018, entre 2019 e até 2022 vinha em tendência de crescimento da pobreza, extrema pobreza e crescimento da Insegurança Alimentar e Nutricional, tendo voltado ao Mapa da Fome no triênio 2019-2021 e se mantendo nele no triênio 2020-2022, em um período em que os indicadores socioeconômicos mostravam também crescimento da pobreza no país. 

Observando apenas o ano de 2023 em relação a 2022, a insegurança alimentar severa cai de 8% para 1,2% da população. Em números absolutos, a insegurança alimentar severa, que afligia 17,2 milhões de brasileiros em 2022, foi reduzida a 2,5 milhões de brasileiros. Uma redução de 85% na insegurança alimentar severa, em apenas um ano.

O novo relatório SOFI mostra que a insegurança alimentar severa caiu de 8,5%, no triênio 2020-2022, para 6,6%, no triênio 2021-2023, o que corresponde a uma redução de 18,3 milhões para 14,3 milhões de brasileiros nesse grau de insegurança alimentar. Em números absolutos, portanto, 4 milhões de pessoas saíram da insegurança alimentar severa na comparação entre os dois triênios.

No entanto, como o indicador da FAO é uma média trienal – média agregada de três anos –, ele não permite ver claramente o impacto do último ano – 2023 – na trajetória de superação da fome no país, já que, no seu resultado, ainda pesam os dados de 2021 e 2022. 

Observando apenas o ano de 2023 em relação a 2022, a insegurança alimentar severa cai de 8% para 1,2% da população. Em números absolutos, a insegurança alimentar severa, que afligia 17,2 milhões de brasileiros em 2022, foi reduzida a 2,5 milhões de brasileiros. Uma redução de 85% na insegurança alimentar severa, em apenas um ano. 

O dado individualizado para 2023 mostra que a escala da FAO, apesar de algumas diferenças em relação à utilizada pelo IBGE, se aproxima da redução na insegurança alimentar grave medida pela escala EBIA (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar), que foi da ordem de 24 milhões de pessoas entre 2022 e 2023, ou de 20 milhões entre 2022 e 2023, caso se ajustem os resultados da PNADc-IBGE para a escala utilizada pela Rede PENSSAN em 2022 (visto que em 2022 o IBGE não aferiu a escala).  

O relatório, que para países individuais informa apenas a média dos dados do último triênio, reporta que a insegurança alimentar entre as médias do triênio 2020-22 e do triênio 2021-23 caiu de 18,3 milhões para 14,3 milhões de brasileiros. Em números absolutos, 4 milhões de pessoas saíram da insegurança alimentar severa na comparação entre os dois triênios.  

Foto:André Oliveira/ MDS
Foto:André Oliveira/ MDS

Prevalência da Subnutrição e “Mapa da Fome”

No indicador de prevalência da subnutrição (PoU), uma segunda medição utilizada pelo SOFI, que não emprega pesquisas por amostragem, mas sim dados macroeconômicos, como a produção, consumo e distribuição de alimentos no país em função da renda, o Brasil também reverteu a tendência de alta da fome verificada no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Caso seja individualizado o ano de 2023 em relação ao triênio 2020-2022, a prevalência da subnutrição no Brasil caiu de 4,2% para 2,8%, uma redução de um terço. Isso significa que, conforme os números da própria FAO (disponíveis na base de dados FAOSTAT, que é atualizada juntamente com o relatório), individualizados para a comparação do triênio 2020-2022 com o ano de 2023, 3 milhões de pessoas saíram da condição de subnutrição crônica em 2023 (de 9 para 6 milhões de brasileiros em situação de subnutrição crônica). 

O PoU é o indicador utilizado para determinar a presença ou ausência de um país no Mapa da Fome. Um país é retirado desse mapa no momento em que o indicador da média do último triênio fica abaixo de 2,5%.

Na média de três anos utilizada no relatório SOFI, a prevalência da subnutrição no Brasil diminuiu de 4,2% no triênio 2020-22 para 3,9% no triênio 2021-23, um indicador ainda com forte influência do patamar elevado de 2021 e 2022.

Porém, aqui também, assim como na escala de insegurança alimentar, a tendência de redução da fome apontada pelo SOFI acaba por ser "diluída" dentro da média trienal, em que os resultados de 2023 são contrabalançados pelos resultados de 2021 e 2022.

O PoU é o indicador utilizado para determinar a presença ou ausência de um país no Mapa da Fome. Um país é retirado desse mapa no momento em que o indicador da média do último triênio fica abaixo de 2,5%. 

“Os dados desta edição nos deixam ainda mais confiantes de que iremos retirar o Brasil do Mapa da Fome no triênio 2023 a 2025”, celebrou o Ministro Wellington Dias. “No dado referente apenas a 2023, baixamos de 4,2% para 2,8% em um único ano. Cresceu a chance de alcançar média trienal abaixo de 2,5%, o que será um novo recorde mundial”, acrescentou o titular do MDS. 

E concluiu o Ministro Dias: “Continuaremos trabalhando, cada vez com mais afinco, de forma a não deixar ninguém de fora da rede de proteção social, como orienta o Presidente Lula, e para que nenhum brasileiro ou brasileira tenha mais que sofrer com esse suplício. O que significará também a vitória de fazer cumprir a promessa do nosso Presidente, de garantir condições para as pessoas tomarem o café, almoçarem e jantarem todos os dias”.  

Aliança Global: esperança de avanços 

Com o lançamento do SOFI 2024, foram também atualizados os dados globais da fome. Infelizmente, não houve grande progresso em nível mundial: estima-se que 733 milhões de pessoas no mundo estavam em situação de fome em 2023, praticamente o mesmo número apontado na edição 2022, 735 milhões de pessoas. 

Segundo as projeções do relatório, a serem mantidas as tendências atuais, 582 milhões de pessoas ainda estarão cronicamente desnutridas em 2030.  

“Mesmo com o fim da pandemia, o mundo no geral não está conseguindo retomar os trilhos do combate à fome e à pobreza”, afirmou o Ministro Wellington Dias. 

Segundo o relatório, a fome segue crescendo na África, e manteve-se relativamente inalterada na Ásia, mas com progressos notáveis ​​na América Latina. A África continua a ser a região com a maior proporção da população que enfrenta a fome – 20,4%, em comparação com 8,1% na Ásia, 6,2% na América Latina e Caribe, e 7,3% na Oceania. No entanto, a Ásia ainda abriga mais da metade de todas as pessoas que enfrentam a fome no mundo.

O ministro ressaltou a importância do simbolismo do relatório internacional, pela primeira vez na história, estar sendo lançado fora de Roma ou Nova York. “A escolha de lançá-lo no Brasil foi por um motivo claro: hoje estamos dando o pontapé inicial para constituir uma nova Aliança Global contra a Fome e a Pobreza no mundo, a proposta lançada pelo Presidente Lula, que deverá trabalhar para reverter essa trajetória e cumprir a promessa dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 e 2, eliminação da pobreza extrema e fome zero até 2030”, afirmou Dias.

Já a prevalência da insegurança alimentar moderada ou grave permaneceu praticamente inalterada na África, Ásia, América do Norte e na Europa entre 2022 e 2023, tendo se agravado na Oceania. Em contrapartida, também nesse indicador o relatório registrou progressos notáveis ​​na América Latina, em parte devido aos resultados do Brasil.

O ministro ressaltou a importância do simbolismo do relatório internacional, pela primeira vez na história, estar sendo lançado fora de Roma ou Nova York. “A escolha de lançá-lo no Brasil foi por um motivo claro: hoje estamos dando o pontapé inicial para constituir uma nova Aliança Global contra a Fome e a Pobreza no mundo, a proposta lançada pelo Presidente Lula, que deverá trabalhar para reverter essa trajetória e cumprir a promessa dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 e 2, eliminação da pobreza extrema e fome zero até 2030”, afirmou Dias. 

“Se tudo der certo, queremos chegar ao relatório de 2030 podendo afirmar que a fome é um problema do passado. E os avanços no Brasil mostram que é, sim, possível reduzir a fome rapidamente quando se tem disposição política, recursos e conhecimento para implementar as políticas públicas que dão resultado. Essa é a proposta da Aliança”, completou.  

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