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ECONOMIA DIGITAL

Inclusão e superação de desigualdades são imperativos em políticas públicas de transformação digital

Com participação de representantes de 68 países, especialistas reforçaram, em evento online, a importância da transformação digital inclusiva e a necessidade de colaboração internacional para a adoção de soluções digitais globalmente.

18/08/2024 07:00 - Modificado há um ano
Foto: Getty Images
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O Brasil avançou significativamente na transformação digital em serviços públicos, destacando-se com iniciativas como o Gov.Br, que possui 156 milhões de usuários registrados e oferece mais de 90% dos serviços federais de forma online. Iniciativas como a plataforma VLibras exemplificam o compromisso do Brasil em promover a inclusão digital, oferecendo tradução automatizada de texto digital para Libras, facilitando o acesso para pessoas com deficiência. 

Em participação no workshop online Governo Digital e Inclusão, promovido pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, pela Escola Nacional de Administração Pública e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o assessor da Digital Gov.Br  Ciro Avelino, enfatizou a importância dos governos estarem cientes das barreiras que impedem o acesso aos serviços públicos e de oferecerem soluções imediatas para superar essas desigualdades.

No âmbito do compartilhamento de dados para eficácia dos serviços públicos, o sócio-diretor da Digital Nation e ex-CEO do governo da Estônia, Siim Sikkut, questionou: “As organizações governamentais estão se preparando para isso? Precisamos de treinamentos? Como podemos oferecer esse suporte? Ou precisamos unificar todas as plataformas?". Para ele, o compartilhamento de dados precisa evoluir para uma transformação nos serviços, demandando preparação organizacional com políticas e legislação alinhadas. Esses elementos devem progredir harmoniosamente para facilitar a implementação eficaz do compartilhamento de dados.

O presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção, ressaltou a importância de construir uma infraestrutura nacional de dados que envolva não apenas o controle do governo ou do setor público, mas também elementos da sociedade civil e do setor privado. Ele enfatizou que, após consolidar essa infraestrutura, o próximo passo é fortalecer as políticas públicas que dependem desses dados, garantindo que eles estejam disponíveis para fins econômicos, pesquisa, estudos e para fornecer informações essenciais à sociedade.

Diversidade como estratégia para design inclusivo

A diretora do Inclusive Design Research Centre (IDRC) e professora da Faculdade de Design da Universidade OCAD em Toronto,  Jutta Treviranus, apresentou a necessidade urgente de repensar profundamente a participação inclusiva na sociedade. Ela enfatizou que a diversidade é um recurso valioso no design de ferramentas digitais, enquanto a inclusão representa um desafio significativo. Treviranus argumentou que é crucial explorar novas abordagens - para além das práticas convencionais adotadas por governos, empresas e instituições acadêmicas, que frequentemente priorizam a escalabilidade e a eficiência de mercado em detrimento da verdadeira complexidade e variabilidade das necessidades humanas.

Utilizando modelos multidimensionais, Treviranus comparou essas dinâmicas complexas a paisagens cósmicas, onde 80% das necessidades estão concentradas no centro desse espaço, enquanto as restantes estão distribuídas na periferia. Esse padrão, conhecido como a regra 80/20, revela como muitos sistemas são projetados para atender apenas às necessidades centrais, ignorando as diversas necessidades que se encontram fora do eixo prioritário. Ao abordar a Inteligência Artificial (IA), ela destacou: "A IA opera com base em padrões preexistentes, amplificando e automatizando discriminações já existentes. Eu caracterizo isso como discriminação estatística", pontuou.

Ela enfatizou que a diversidade é um recurso valioso no design de ferramentas digitais, enquanto a inclusão representa um desafio significativo. Treviranus argumentou que é crucial explorar novas abordagens - para além das práticas convencionais adotadas por governos, empresas e instituições acadêmicas, que frequentemente priorizam a escalabilidade e a eficiência de mercado em detrimento da verdadeira complexidade e variabilidade das necessidades humanas.

Pacto digital global

O enviado técnico da ONU, Amandeep Gill, revelou as negociações para um pacto digital global durante a Cúpula do Futuro que acontece em setembro em Nova York. "Queremos construir um futuro digital inclusivo, aberto e sustentável, mas isso não acontecerá automaticamente. Será necessário colaboração e cooperação digital", afirmou Gill. Ele enfatizou a importância da conectividade, destacando a necessidade de integrar os 2.7 bilhões de pessoas não conectadas e criar infraestruturas que reduzam barreiras e tornem a economia digital mais inclusiva. Gill também ressaltou que os dados “são o sangue da economia digital", enfatizando a necessidade de investir em infraestrutura de dados e proteger não apenas os dados e a privacidade individual, mas também para facilitar seu uso através de arranjos adequados.

Confira o debate na íntegra:

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