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DESENVOLVIMENTO

Em busca de resultados à altura dos desafios, G20 debate desenvolvimento contra as desigualdades

Em um cenário de aumento das desigualdades no plano global, eventos climáticos extremos e crises geopolíticas, o Grupo de Trabalho de Desenvolvimento discute inclusão social, com foco nas questões de acesso à água e saneamento básico. Na mesa de abertura, o coordenador da Trilha de Sherpas, embaixador Mauricio Lyrio, pontuou os desafios e as necessidades de resoluções. A reunião vai até quarta-feira (29), em Salvador, Bahia.

27/05/2024 14:40 - Modificado há um ano
A mesa abre a reunião que se estende por três dias, finalizando na quarta-feira (29). A próxima reunião do GT de Desenvolvimento será no Rio de Janeiro, em julho. Foto: Diego Mascarenhas/Governo da Bahia

“Remar contra a maré”, essas foram palavras do embaixador Mauricio Lyrio, coordenador da Trilha de Sherpas do G20 Brasil, que dão a tônica da complexidade e da relevância das discussões na do grupo de trabalho de Desenvolvimento, que acontecem nesta semana em Salvador/BA. Os debates têm por objetivo avançar em consensos sobre o desenvolvimento à redução da desigualdade social, entre elas a questão de acesso à água e saneamento básico.

Dados da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), organização convidada do G20, indicam que 26% da população mundial não tem acesso à água potável, cerca de 2 bilhões de pessoas. Quando se trata de acesso a serviços de saneamento seguro, o número é ainda mais expressivo, cerca de 46% dos habitantes do planeta não possuem tais serviços, o equivalente a 3,6 bilhões de habitantes. Números de magnitude que extrapolam a população geral de todo continente africano e continente europeu somados.

"Estamos em um momento dramático na agenda do desenvolvimento sustentável. Em 2020, vimos um aumento da desigualdade global pela primeira vez em décadas, com um incremento de 0,7% no índice global. Se o nosso propósito na presidência brasileira do G20 é reduzir desigualdades, nós remamos contra a maré. Hoje, temos uma tendência de aumento da desigualdade Internacional e daí a importância do Brasil atribuir esse tema ao centro. Os desafios são demasiado graves e urgentes e devem ocupar o esforço de negociação de todos pelos próximos três dias, no caminho para a reunião ministerial”, pontuou o embaixador Lyrio.

O coordenador da Trilha de Sherpas ressaltou a importância de um recorte aos desafios do sul global, pensando questões de classe, cumprimentando a Troika do G20, composta por Índia e África do Sul. “ Embora afetem a todos, essas crises não nos afetam igualmente. Os países em desenvolvimento são os que mais sofrem e, mesmo dentro dos países, são os mais pobres que sempre sofrem mais. Como o Presidente Lula costuma dizer, se tivéssemos de resumir os desafios globais atuais em uma única palavra, seria “desigualdade”, destacou.

Capital negra no centro dos debates de desenvolvimento

Salvador, capital da Bahia, é uma cidade emblemática na história do Brasil, tendo sido a primeira capital do país, é, até hoje, a cidade mais negra fora da África, com mais de 80% da população autodeclarada negra, a soma de pretos e parda de acordo com dados do Instituto de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Neste sentido, em que classe e raça estão enlaçadas na ponta dos marcadores de desigualdade social e econômica, é que a Bahia, terra do consagrado geógrafo Milton Santos, recebe delegados e delegadas de países-membros, países convidados e entidades internacionais.

 Na recepção aos delegados, foi apresentada a dança para os Orixás, que compõe as tradições das religiões de matrizes africanas do Brasil. Foto: Audiovisual/G20
Na recepção aos delegados, foi apresentada a dança para os Orixás, que compõe as tradições das religiões de matrizes africanas do Brasil. Foto: Audiovisual/G20

Se Milton, no último século, já postulava sobre a necessidade de discutir uma globalização mais igualitária, levando em conta as nuances desiguais de desenvolvimento entre territórios, hoje a capital baiana é palco global, até quarta-feira (29), dos debates do GT de de Desenvolvimento. Os representantes do município e do estado fizeram contribuições neste sentido.

"Entendemos que o desenvolvimento econômico é fundamental, entendemos que movimentar o setor produtivo é fundamental, mas não podemos esquecer da sustentabilidade. A Bahia é um exemplo de transição energética, nossa matriz elétrica é composta por 93% de energia renovável, sendo 44% desta energia eólica. Um caminho para a justiça ambiental e social", indicou o vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior, que também salientou a importância de políticas públicas, com cooperação trilateral, na matéria de saneamento básico

O prefeito de Salvador, Bruno Reis, que também tratou da importância dos debates sobre saneamento, destacou a relevância da participação social nesses processos. “"O apoio de toda esfera global é fundamental, os movimentos locais, nacionais, a sociedade civil, o setor privado, as organização não governamentais. Encontros como esse são fundamentais no fazer das estratégias nos objetivos e temas prioritários em escala mundial que, consequente, tem impacto na vida local" disse.

Nesta linha, a reunião, que vai até quarta-feira (29), ocorre no Centro de Eventos de Salvador e, amanhã (28), recebe o evento paralelo promovido pelo Ministério dos Direitos Humanos do Brasil e da Cidadania (MDHC), com presença do ministro Sílvio de Almeida. As mesas serão sobre “Produção e gestão de dados sobre população em situação de rua”, com a participação de institutos nacionais e estrangeiros de estatísticas e outros órgãos de pesquisa; e “Boas práticas de políticas públicas para população em situação de rua”, com entidades governamentais de países-membros e organizações internacionais.

Por Franciéli Barcellos


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