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Boletim G20 Ed. 233 - Reportagem Especial - Perspectivas cidadãs: reforma da governança global é condição para eliminar desigualdades

Acadêmicos e sociedade civil defendem reestruturação urgente das organizações da governança global e das instituições de Bretton Woods para enfrentar desafios contemporâneos e aumentar representatividade global. Desigualdades no Sul Global também são resultados da distribuição desigual de poder nesses fóruns. Ouça a reportagem e saiba mais.

03/10/2024 22:26 - Modificado há um ano

Repórter: Organizações internacionais desempenharam papel central no cenário político global. Por meio da diplomacia, evitaram conflitos, atuaram em emergências humanitárias e pela manutenção da paz. Projetadas em meados da década de 1940, acadêmicos e especialistas defendem que as múltiplas crises recentes e certo fracasso para evitá-las têm colocado em xeque a eficácia das instituições multilaterais globais. 

A urgência pela reformulação das suas estruturas e práticas, de forma a melhorar a representatividade e a diversidade dos seus quadros, também está na agenda da sociedade civil do mundo. As organizações de governança global nasceram para tratar questões econômicas, políticas, de segurança ou culturais que afetam mais de um Estado, por meio da adoção de acordos legais que servem tanto para facilitar como gerir a cooperação entre os países. Elas são multilaterais, pois seus conselhos são formados por entidades e países, trabalhando em conjunto para encontrar soluções que tenham acordos de todos os membros. 

Fazem parte da governança global a Organização das Nações Unidas e suas agências, a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Organização dos Estados Americanos (OEA), o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Gustavo Blum, pesquisador de Geografia das Relações Internacionais, internacionalista e analista geopolítico, destaca que as urgências globais mudaram, reforçando a necessidade de encontrar soluções comuns para problemas da conjuntura. 

Gustavo Blum: Se na virada do século 20 para o século 21, a questão ambiental, a demografia global e o combate à pobreza apareciam como objetivos comuns da humanidade, atualmente o conjunto de emergências - climática, social, econômica, institucional, de violência, vem forçando a discussão sobre a alteração da arquitetura global de poder e as instituições que balizam a atuação dos países no cenário internacional.

Repórter: Para Pedro Silva, pesquisador em Relações Internacionais e Economia Política, apesar dos desafios geopolíticos atuais, a democratização dos espaços de decisão internacional é fundamental para criar condições de diálogo e resolução pacífica de conflitos e para o enfrentamento efetivo das desigualdades globais.

Pedro Silva: Eu acho que a importância dessas reformas é que elas estabelecem novas expectativas e novos horizontes de expectativas para os movimentos. A gente vendo esse tipo de reforma, principalmente esse tipo de reforma, que mobiliza o combate de desigualdade como sendo um objetivo compartilhado da governança global, como sendo um objetivo compartilhado da humanidade, é muito importante porque isso pode ser apropriado, isso pode ser instrumentalizado para as lutas contra as desigualdades em âmbito doméstico.

Repórter: Milena Megré, cientista política e co-chair do T20 Just Energy, conclui que a reforma das instituições de governança global é imprescindível para criar um espaço equitativo nas tomadas de decisão internacionais.

Milena Megré: A necessidade é criar um espaço devidamente igual, onde todos possam se sentar à mesa das tomadas de decisão e também de participação igualitária para que, de fato, se consiga destrinchar e trilhar um plano para atingir essas metas em conjunto, mas respeitando e levando em consideração as peculiaridades de cada país para a gente atingir isso de forma eficiente. 

Repórter: Luiz Vieira é coordenador do Bretton Woods Project, e avalia que o atual sistema é anacrónico e, mesmo apesar dos múltiplos esforços de países do Sul Global para mudar a correlação de forças, as nações ricas dominam o poder de decisão, as regras e normas da economia internacional. 

Luiz Vieira: O atual sistema impõe restrições à soberania dos países do Sul Global com sérias consequências concretas aos seus cidadãos, estabelecendo e reforçando limites às políticas destes países em setores chaves como tributação, dívida, e a capacidade de desenvolver políticas industriais necessárias para escapar à dependência na exportação de produtos de base e consequentemente evitar choques externos, incluindo aqueles que resultam da crise climática.

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