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Saúde mental e estratégias psíquicas são destaques em roda de conversa
A Comissão Interna de Saúde do Servidor Público da Fundacentro (Cissp) realizou o 1º Ciclo de Palestra e Roda de Conversa para debater o tema “Saúde Mental e Estratégias Psíquicas Defensivas no Serviço Público: como ajudar quem está sofrendo?”. O evento, oferecido a todos os funcionários da instituição, foi realizado na sala de aula do Centro Técnico Nacional (CTN) em São Paulo e on-line.
A saúde mental é uma questão muito importante, especialmente no ambiente de trabalho, onde o trabalhador passa uma boa parte do seu dia. Na perspectiva de promover relações saudáveis e seguras na instituição, visando à prevenção de doenças relacionadas ao trabalho, as pesquisadoras e membros da Comissão Organizadora da Cissp, Maria Christina Felix (presidente), Solange Regina Schaffer (secretária) e Thais Helena Carvalho Barreira (membro eleita) promovem rodas de conversa para, coletivamente, refletir e fomentar estratégias de reconstrução das relações interpessoais que sofreram prejuízos pelos mecanismos de assédio na Fundacentro vividos nos últimos anos.
Para debater o tema, a Cissp convidou a doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP), Andreia de Conto Garbin. Andreia também possuí graduação em psicologia e mestrado em Saúde Pública pela USP. A mediação foi feita pela tecnologista da Fundacentro, Daniela Sanches Tavares.
A abertura do evento contou com a participação do presidente da Fundacentro, Pedro Tourinho. Ele comenta que uma série de medidas precisam ser adotadas para que os servidores públicos tenham acesso a recursos de apoio e tratamento em saúde mental.
Iniciativa
Intervenções adequadas podem ajudar a prevenir, reduzir e tratar problemas de saúde mental. Pensando nisso, a Cissp da Fundacentro realizou em 2019 e 2021, pesquisas sobre riscos psicossociais no trabalho junto aos (as) seus (as) servidores (as). Os resultados apontaram sofrimento físico e psíquico, ansiedade, depressão, burnout, desmotivação e isolamento em boa parte dos (as) participantes.
Para tratar o assunto, a doutora em Saúde Pública trouxe alguns tópicos importantes relacionados ao trabalho, pandemia, assédio moral e à importância de cuidar da saúde mental e processos de intervenções. “A pandemia impactou na saúde mental e se tornou um desafio para muitas pessoas, principalmente, no contexto de trabalho, isolamento social, aumento do estresse e ansiedade - criando o clima propício para o aumento de desgaste mental e assédio moral", salientou.
O assédio moral no trabalho pode desencadear consequências graves na saúde mental dos trabalhadores e das trabalhadoras. A humilhação seja por parte da chefia, como de colegas de trabalho, assim como pressão excessiva e discriminação afetam de forma negativa a autoestima e o bem-estar emocional dos profissionais – isso pode reverberar por muito tempo na vida da pessoa, caso não tratado de forma adequada.
Andreia enfatizou que é importante que os empregadores em conjunto com os empregados viabilizem medidas que incentivem o cuidar da saúde mental no ambiente de trabalho. Completa que a prática de colocar a saúde mental como prioridade contribui para o bem-estar de todos e a produtividade no trabalho.
Sintomas e intervenção
A psicóloga apresentou que o assédio moral desencadeia desordens que podem levar aos sintomas psicopatológicos (reações de ansiedade, apatia, reações de esquiva, problemas de concentração, humor deprimido, reações de medo, flashbacks, hiperexcitabilidade e outros); sintomas psicossomáticos (hipertensão arterial, ataques de asma, palpitações, distúrbio coronariano, dermatite, perda de cabelos, cefaleia, dores musculares e articulares, perda de equilíbrio, enxaqueca, epigastralgia, úlceras estomacais e taquicardia). Já os sintomas comportamentais incluem reações auto e heteroagressivas, distúrbios alimentares, aumento no consumo de álcool e outras drogas, aumento no tabagismo, disfunções sexuais e isolamento social.
De acordo com a especialista, “as intervenções podem se concretizar em dois campos: a resolução da situação de assédio na perspectiva individual e a abordagem das causas do assédio nas organizações. “Relativo à abordagem organizacional, estimula-se à criação de uma cultura organizacional que evite o assédio moral e a adoção de estilos de gestão do conflito e de liderança participativos. Sugere-se, ainda, que seja implementado o planejamento de estratégias para a avaliação dos riscos psicossociais da organização do trabalho, a avaliação dos riscos ocupacionais de origem psicológica, psicossocial e organizacionais”.
Sofrimento e vínculo terapêutico
De acordo com Andreia Garbin, as organizações do serviço público devem fomentar um ambiente de trabalho que possibilite a criação e atenção ao ambiente de trabalho saudável, com políticas e práticas que reduzam o estresse.
“O sofrimento psicológico, com frequência, é visto como uma fraqueza, algo que a pessoa teria condições de resolver, mas não o faz”. No entanto, essa visão é equivocada e pode prejudicar ainda mais o estado emocional do trabalhador ou da trabalhadora. A saúde mental do trabalhador pode ser afetada pela organização do trabalho, submissão a chefias autoritárias, aumento no ritmo de trabalho e exigência crescente de produtividade, bem como pela falta de comunicação entre as pessoas.
Garbin comentou que o trabalhador precisa estabelecer confiança, empatia e colaboração com os profissionais que promovam intervenções no campo da saúde mental. A necessidade de estabelecer relacionamentos saudáveis é fundamental, ou seja, contar com pessoas com quem se possa desabafar, ser compreendido e receber apoio pode ser fundamental para lidar com o estresse, a ansiedade e outros desafios mentais.
“As relações com pessoas do nosso convívio também se tornam fundamentais para nos sentirmos acolhidos e respeitados”, salientou a psicóloga.
Sinais e alertas
Garbin salientou que alguns sinais de irritabilidade, insônia ou sonolência incomum, falta de apetite, fome fora do comum, baixa concentração, desânimo ou aceleração, bem como fraqueza, baixa energia, dores no corpo persistentes e dificuldade para relaxar ou ficar rememorando os acontecimentos do dia no período de descanso não são saudáveis e, sim, prejudiciais à saúde. “A presença desses sinais é esperada, mas a frequência, persistência e intensidade deles pode requerer atenção”, frisou.
Autocuidado é fundamental
O autocuidado deve ser um processo contínuo e individual, adaptado às necessidades e circunstâncias específicas de cada pessoa. Sendo que aAs responsabilidades pelos cuidados podem ser compartilhadas. A doutora em Saúde Pública enfatizou que priorizar o sono e criar uma rotina de sono consistente, cuidar da alimentação, praticar o autocuidado, fazer coisas que promovam o bem-estar, como passeios, leitura e cuidados do corpo são processos importantes na vida diária.
Disse ainda que não se cobrar tanto e buscar colegas que vivam a mesma dificuldade para tentar compartilhar soluções são elementos que podem ajudar a viver bem e a melhorar a saúde física e mental.
Publicações relacionadas ao tema
Dissertação de Mestrado "Representações na Mídia Impressa sobre o Assédio Moral no Trabalho"
Artigo "Assédio Moral no Trabalho: aspectos conceituais, jurídicos e preventivos"
Podcast da Fundacentro sobre “Assédio Moral Institucional” debatido por Daniela Sanches e outros convidados. O debate completo está disponível nas plataformas:
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