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HUGG recebe consultoria inédita do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead) e da University of San Diego (EUA).
Como se ajuda na construção de um legado? Primeiro tendo em mente que nada se cria sozinho e, por isso, são necessárias muitas mãos, ao longo do tempo, para solidificar uma imagem na mente da sociedade. Depois, respeitando a hierarquia óbvia onde as instituições são maiores do que cada indivíduo, independentemente da posição ocupada, e trazem, consigo, um passado de glória que deve ser absorvido em qualquer projeto de modernização da gestão pública, assunto fundamental por impactar, diretamente, o desenvolvimento sustentável do País. E, também, buscando auxílio externo junto àqueles que têm experiência na área e são capazes de indicar um norte. Foi pensando nisso e mantendo o passado pioneiro do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG-Unirio/Ebserh) que a Divisão de Administração e Finanças (DAF) concorreu, e conquistou, o direito a uma semana de consultoria junto ao Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead) e a University of San Diego (EUA). Durante o período de 11 a 19 de janeiro, alunos do mestrado do Brasil e dos EUA conheceram as instalações do HUGG para ajudar no projeto “Ressignificando a Divisão de Administração e Finanças”. A ação faz parte do programa “Projetos Multiculturais”, viabilizado por meio de uma parceria entre a universidade americana e o Coppead há 23 anos.
– Como a nossa instituição é de saúde e de ensino, é fundamental o investimento nas pessoas, no conhecimento, na troca de experiências, pois experiências exitosas em qualquer lugar do mundo podem servir de referência para as demais áreas. Por isso, temos grande satisfação de receber pessoas que agregarão para nossa instituição e buscarão, dentro de nossas práticas, exemplos que possam ser replicados em outros lugares. E não estou falando para uma plateia de profissionais da saúde, mas para toda uma equipe de logística e de gestão, garantidoras do bom funcionamento e da boa aplicação de recursos nas nossas atividades. E, hoje, temos uma tranquilidade de saber que nosso hospital tem investido muito nesse grupo que fica nos gabinetes, nos escritórios, nas áreas administrativas, por isso é fundamental que esse grupo tenha acesso às melhores tecnologias de gestão e às melhores práticas no mundo para que possamos oferecer ao menor custo possível o tratamento de maior qualidade para nossa população –, disse João Marcelo Ramalho Alves, superintendente, durante a abertura da semana.
– Nós da Gerência de Ensino e Pesquisa temos feito alguns movimentos de aproximação com a área administrativa para entendermos que os processos-meio são aqueles que darão os melhores resultados. Então temos desenvolvido alguns projetos para que se otimizem os resultados das áreas meio e, consequentemente, os benefícios serão vistos e aplicados nas áreas fim. Lembrando sempre que o grande cliente nosso não é apenas o paciente, mas também o estudante –, continuou Daniel Aragão, gerente de Ensino e Pesquisa.
O projeto surgiu a partir da necessidade encontrada de garantir ao gestor da divisão uma atuação em guarda-chuva, entendendo a realidade dos setores subordinados e colaborando com todos, saindo de um viés, majoritariamente, operacional e possibilitando, assim, maior amplitude de ação:
– O objetivo é que essa pessoa tenha uma visão maior de todo contexto e não foque apenas em uma coluna. Queremos ressignificar o papel desse gestor para que consigamos cumprir o mapa estratégico da Ebserh. Quando tivemos essa ideia e buscamos alternativas, encontramos o modelo de atuação matricial que prevê que sejam feitos projetos com a participação de pessoas de diversas áreas e isso tem várias vantagens –, disse Paulo Ribeiro, chefe da DAF e proponente do projeto.
– Para nós é um desafio muito grande aqui, pois no caso há uma tradição de uma ponte entre saúde e gestão. Tivemos historicamente o MBA em saúde que tinha o desafio que era fazer com que o pensamento de gestão se encontrasse com o pensamento de saúde e fiquei muito feliz de ver que aqui temos uma visão humanista desse encontro. Pensando a relação da gestão, mas sem perder a preocupação com o cuidado, então somos instituições irmanadas na pesquisa, na humanização. Esse projeto vai não só colaborar com os desafios do HUGG, mas também com os desafios na formação desses alunos do Coppead e de San Diego. Essa tensão desse acordo entre a gestão da finança e o cuidado na saúde é uma tensão que acontece em todo mundo, envolvendo todos os gestores da área, por isso olhar com cuidado e como fazer acontecer de uma maneira eficiente, produtiva e que seja proveitosa é um desafio que vai ajudar muito na formação de nossos alunos e no nosso desenvolvimento como professores da escola –, falou Maribel Soarez, professora da UFRJ e coordenadora do "Projetos Multiculturais".
– Somos servidoras públicas, portanto temos essa dedicação de servir ao público ainda que em outra área. Aqui começa um processo que será desenvolvido ao longo dos dias e que os alunos vão precisar ter contato com vocês para ter maior conhecimento dessa organização. Pois, quando se coloca o escopo da ressignificação, é necessário conhecer um todo para conseguirem pensar uma alternativa para o que é buscado. E no final esperamos que eles tragam algo que possa ser adaptado à realidade de vocês. Dados, informações, dificuldades, desafios, gargalos, conversas, histórias, tudo isso tem valor num processo de consultoria. Contem com a gente em qualquer projeto –, disse Liliane Furtado, também coordenadora do projeto, e professora da UFRJ.
– Vocês podem não conhecer muito da Universidade de San Diego, mas temos projetos de consultoria na Alemanha e na Austrália, além de aqui no Rio. E, todo dia é um dia novo no ramo da consultoria e isso é empolgante. Nosso profundo agradecimento a esse hospital, desde já, a UFRJ e ao Rio por podermos estar aqui e termos essa maravilhosa interação com vocês. E após a pandemia de Covid-19 pudemos ter a certeza de quanto é importante a saúde pública e agradecemos por poder contribuir –, disse o professor Steven Conroy, da Universidade de San Diego.
Ainda durante a apresentação inicial, o chefe de divisão enumerou as entregas possibilitadas pela utilização da estrutura matricial, tais como: maior rapidez nas decisões, maior produtividade, maior engajamento dos colaboradores, maior flexibilização, monitoramento e maior interação interdepartamental:
– Um projeto como esse permite dar luz a áreas que muitas vezes passam despercebidas. E não que essas áreas queiram ser percebidas, mas sim que sejam estruturadas para continuar a prover ao nosso hospital. Planejamento bem efetuado e possibilidade de sessão pública para apresentar os resultados. É dessa forma que queremos aparecer. O resultado da parte administrativa que podemos prover é esse: mais, melhor, com efetividade e com uma linha muito ética de atuação. Por isso trazer colegas com capacidade crítica elevada e vindos de instituições de renome nos dá respaldo para fazer uma gestão transparente, afinal somos públicos e por isso temos de fazer prestação de contas como premissa. O resultado do que eles apresentarem vai impactar, positivamente, diversas outras áreas do hospital de maneira relevante –, continuou Paulo.
Os alunos selecionados para a atividade estudam há um ano as melhores práticas e teorias relacionadas a gestão, além de terem experiências profissionais anteriores diversas, e escolheram, dentre um leque de opções, o projeto submetido pelo HUGG. Ou seja, estavam engajados no desafio de pensar saúde em conjunção com a gestão no contexto da saúde pública, motivados a entender e lidar com a realidade brasileira.
– Já trabalhei na rede Sarah, então me identifiquei com muita coisa que fazia. Acho que vai ser incrível ter essas experiências que vocês vão compartilhar comigo. Espero que nossa passagem aqui traga retorno para sociedade e para nosso futuro –, disso Victor Pessoa, servidor público e mestrando do Coppead.
– Tenho uma carreira trabalhando na iniciativa privada, até que resolvi fazer mudança de vida motivada pela maternidade e abri minha própria consultoria e percebi que precisava reforçar minha parte teórica/conceitual e por isso cheguei ao Coppead. Quando soube do projeto no hospital, lembrei que fiz um primeiro tratamento de saúde, aqui, aos nove anos. Lembro que foi um tratamento muito acolhedor e importante, por isso fico muito feliz de voltar aqui e poder contribuir com vocês –, disse Clarissa Gazzaneo, psicóloga e aluna de mestrado do Coppead.
Ao longo dos dias os consultores puderam conversar com o gestor do projeto para entender o problema, suas ideias e como ele realmente enxergava o futuro do departamento. Posteriormente foram feitas pesquisas junto aos colaboradores, coletadas informações e realizadas visitas a diversos setores hospitalares. Por fim, os mestrandos se reuniram com os especialistas para refinamento da pesquisa e interpretação do que foi encontrado e entregaram um relatório com ideias e sugestões de planejamento e ferramentas a serem executadas pelo período de 4 anos, tendo como base quatro pilares: o investimento em habilidades e experiências dos colaboradores; a instituição de medidores de resultados; a criação de estratégias de crescimento que possam progredir por meio de melhorias de processos e estejam envolvidos com a visão e missão do hospital; e investimento na colaboração interdepartamental. Dentre os pontos positivos encontrados estão uma taxa de 94% da força dos empregados entendendo o que se espera deles. O mesmo percentual também acha que trabalha em um ambiente com colegas, dando uma sensação de companheirismo percebida pelos alunos-consultores. Já os fatores de alerta dizem respeito a necessidade de uma maior comunicação entre o nível gerencial e os demais empregados e oportunidades de crescimento profissional para aplicação de seus conhecimentos e experiências.
Os diagnósticos foram apresentados, ainda, levando em consideração o impacto, tempo e custo de cada um, possibilitando cruzar dados para saber a facilidade de implementação e o tamanho do resultado positivo naquele espaço de tempo. Assim, é possível se planejar de maneira efetiva e eficaz para saber por onde começar e atingir a transformação desejada.
– É difícil pensar no resultado pronto/tangível hoje. Essa é uma proposta quase que miraculosa e o que trouxemos aqui é priorizar ações que imaginamos que possam ser implementadas de imediato. Importante começar com essas ações que dão sentido de unidade para equipe, ações que colocam todos no mesmo barco e cientes das necessidades das mudanças. Por isso falamos muito da missão e da visão compartilhadas. A importância de compartilhar a proposta com todos –, acrescentou Vitor.
– Toda essa demonstração de hoje será construída por cada um de nós, no dia a dia, nas conversas. Não será encerrado aqui e só funcionará no trabalho coletivo de cada um, incorporando as ideias e os processos. Esse trabalho é nosso, pois é para nossa instituição. Não é pessoal, é institucional. Tudo que pedimos é um voto de confiança numa nova forma de trabalhar, olho no olho. Temos uma oportunidade ímpar de estarmos aqui, comentou Paulo Ribeiro ao final dos apontamentos dos consultores –,
E pelo retorno dos alunos estrangeiros, a transformação não se deu de forma unilateral. Todos saíram com novos olhares e aprendizados para o que é praticado e produzido no Sistema Único de Saúde:
- Eu venho do setor sem fins lucrativos, onde trabalho com crianças que necessitam de refúgio. Então eu vi muitas similaridades com o serviço público aqui. Tive experiências vendo algumas dessas dificuldades que são normais no decorrer de um processo bem sucedido. Estou muito grata por ver esse hospital e ter a possibilidade de ter essa conversa. Acredito que esse tempo que passamos aqui no Rio foi um presente para todos nós. Obrigado por abrirem as portas para a gente e abrirem seus olhos para algo novo. É diferente, provavelmente, do que vimos antes. Muito obrigado -, disse Katie Gallagher, mestranda de San Diego.
- Eu também vim do setor sem fins lucrativos e encontrarmos gente que faz o que fazemos, servir ao público, é muito inspirador. Podermos ver vocês servindo a uma comunidade tão bonita, com tanta qualidade, me faz abrir os olhos e ficar muito feliz de ter participado dessa experiência -, disse Stephanie Pham, aluna do mestrado de San Diego.
- Fiquei muito surpreso com o orgulho que as pessoas têm do hospital e de seus trabalhos. Se os canadenses tivessem todos os brasileiros em nossos hospitais teríamos os melhores hospitais do mundo. Vocês devem ser muito reconhecidos pois fazem o melhor trabalho possível. Vocês podem não ter as mesmas oportunidades que temos na América do Norte, mas trabalham mais e tem orgulho do que fazem o que é muito bom de ver-, disse Matthew Walker, mestrando de San Diego.
- Trabalho num departamento financeiro do mercado privado da Califórnia. Eu sabia, essencialmente, o que se fazia num hospital, mas eu estou de verdade inspirada após passar por aqui e ver a paixão em todos os empregados e o comprometimento que vocês têm com o bom serviço público. Muito obrigada pela oportunidade e desejo o melhor no futuro -, encerrou Alexis Smith, aluna do mestrado de San Diego.
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.