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Gravidez na adolescência: HC-UFTM trabalha nas vertentes de prevenção e de acompanhamento pré-natal
Do total de bebês nascidos vivos no Brasil no ano 2000, 23,4% eram filhos de mães adolescentes. Essa taxa caiu gradativamente ao longo da década passada, chegando a 14,7% em 2019, aponta um estudo da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) divulgado no ano passado. Entretanto, a taxa de fecundidade adolescente no país continua acima da média mundial, de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa): a cada mil brasileiras entre 15 e 19 anos, 53 foram mães em 2020. A média mundial é de 41 a cada mil.
Na avaliação da Febrasgo, a gravidez na adolescência está associada à evasão escolar, resultando em maior perpetuação da pobreza e impactos pessoais e sociais de longo prazo para essas gestantes. Já a Unfpa relaciona como fatores determinantes da gestação na adolescência o início precoce das relações sexuais, baixo uso de contraceptivos, violência sexual e uniões precoces, baixo acesso à educação sexual integral e relações de gênero desiguais. Conforme a agência, entre meninas pobres, com baixa escolaridade, indígenas, afrodescendentes ou de áreas remotas e rurais existe uma incidência de gravidez indesejada três vezes maior que entre adolescentes com educação escolar regular e de zonas urbanas.
O Hospital de Clínicas da UFTM, por meio do Ambulatório Maria da Glória, promove um trabalho de Ginecologia da Adolescente, voltado para a educação sexual, conscientização sobre o uso de métodos contraceptivos e prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, pelo qual passam em média 15 meninas não-gestantes por semana. Também é mantido pelo HC, no Ambulatório de Pré-Natal, um acolhimento da adolescente grávida, que atendeu 128 pacientes ao longo de 2021 (correspondendo a 23,7% do total de gestantes acompanhadas no ano pela unidade hospitalar).
Segundo a ginecologista e obstetra Priscila Thaís Silva Mantoani, para evitar a gravidez na adolescência ou sua reincidência, o Ambulatório prescreve métodos contraceptivos. “A escolha do método é individualizada. Na consulta avaliamos a idade, gestações anteriores, perfil do corpo, do ciclo menstrual e doenças pré-existentes. No geral, preferimos anticoncepcionais reversíveis de longa duração, porque não dependem da memória e da disciplina delas”, detalha a profissional.
Marcelo Meirelles é médico hebiatra e realiza atendimentos no Centro de Atenção Integrada em Saúde (Cais), gerido pelo HC-UFTM, no bairro Abadia, como unidade de atenção básica resultante de um convênio com a prefeitura de Uberaba. Ele ressalta que para a prevenção da gravidez na adolescência é preciso “orientar sobre a sexualidade, contracepção, prejuízos que o jovem poderia ter numa eventual gravidez, mas também realizar um trabalho com as famílias, irmãos de adolescentes que tiveram filhos, e com quem foi filho de mãe adolescente, porque existe uma tendência a engravidar mais cedo quando a mãe também foi uma gestante adolescente”.
Sobre a relação entre desigualdade social e gravidez precoce, a assistente social Yuri Emmanuelle Silva Mazeto afirma que meninas em condições de vida mais favorecidas têm mais acesso a meios de comunicação, a tipos e meios de prevenção. “A adolescente em uma condição socioeconômica melhor engravida menos, porque em seu núcleo familiar ela tem mais acesso a informações e mais diálogo com seus familiares”, analisa.
Para Mazeto, uma gravidez indesejada tende a ser marcada por tristeza, dor e traumas. “Trabalhamos muito com adolescentes gestantes abaixo de 14 anos. Nessas ocorrências acionamos o Conselho Tutelar por se tratar de estupro de vulnerável. Desde dezembro atendemos três estupros de vulneráveis, e nos dois primeiros meses desse ano atendemos 12 adolescentes gestantes, com mais de 14 anos”, pormenoriza a assistente social.
Mazeto explica como procede nesses casos: “Avaliamos o contexto socioeconômico da adolescente, se há outros fatores de risco nos quais ela está inserida, muitas vezes ela está casada com um homem bem mais velho, às vezes sofre algum tipo de violência. Após esse primeiro levantamento de demandas acionamos a rede de proteção e cuidado e encaminhamos relatório social. Os atendimentos muitas vezes ocorrem em conjunto com a Psicologia, porque o processo de violência e exclusão tem um impacto biopsicossocial nas vidas dessas jovens”, descreve.
Na visão de Andrezza Sisconeto Ferreira Dias, psicóloga na clínica de Ginecologia e Obstetrícia do HC, a sociedade, as políticas públicas e a família têm de trabalhar com os adolescentes para que as gravidezes sejam evitadas. “Numa situação assim, as famílias pobres são muito criticadas porque as meninas engravidaram, só que o acesso aos serviços, aos recursos, é muito limitado”, pondera.
A psicóloga destaca, ainda, que uma gravidez que começa indesejada não necessariamente termina indesejada. “O vínculo afetivo com a gestação vai mudando. Uma adolescente que não deseja a gestação, com o tempo pode vir a desejar, mas ela vai precisar estar inserida numa rede de apoio e de cuidados, de lugares e espaços que a escutem sem moralismo, e que ofereçam segurança e suporte afetivo e social”, finaliza.
Conforme o dado mais recente do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), gerido pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), a cada dia ocorrem cerca de 1.150 nascimentos de filhos de adolescentes, no Brasil.
Unidade de Comunicação Social HC-UFTM