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Janeiro Roxo: mês de mobilização e combate à hanseníase
Janeiro é tradicionalmente o mês de alerta para a importância do diagnóstico precoce e conscientização da hanseníase. Quando não tratada desde o início, a doença pode causar sequelas progressivas e permanentes, como deformidades e mutilações. Por isso mesmo, a campanha Janeiro Roxo busca reforçar a necessidade de atenção, mobilização e combate à doença, que tem tratamento ofertado de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O dermatologista do Serviço de Dermatologia do Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh, Marcelo Grossi Araújo, explica mais sobre a doença.
1. Me fale brevemente o que é hanseníase e formas de transmissão.
A hanseníase é uma doença infecciosa, causada por uma bactéria. Os sintomas são manchas claras, vermelhas ou marrons permanentes na pele e diminuição da sensibilidade. Às vezes surgem caroços na pele também. A transmissão ocorre quando uma pessoa não está tratada e tem contato com outras que estejam predispostas a pegar a doença. Algumas formas de hanseníase são mais contagiosas que outras.
2. É uma doença que demora a se manifestar, por isso o diagnóstico é tão difícil?
A doença pode demorar muitos anos para se manifestar, o que dificulta o diagnóstico e faz com que as pessoas se esqueçam dos sintomas e do seguimento que deve ser feito no serviço de saúde quando houve um contato com um caso não tratado.
3. Quando suspeitar de hanseníase?
Sempre que houver surgimento de manchas com sensibilidade alterada ou alteração de sensibilidade na pele, mesmo que sem manchas ou caroços. Queimaduras frequentes nas mãos e antebraços para quem lida com fogões ou com mecânica de máquinas, ou nas pernas para quem utiliza motos, também são sinais suspeitos. Além disso, o profissional de saúde deve suspeitar quando ocorre paralisia em grupos musculares da face, da mão, da perna ou do pé.
4. Embora tenha cura, a doença pode causar incapacidades físicas se o diagnóstico for tardio ou se o tratamento for inadequado. Quais sequelas seriam essas?
O diagnóstico precoce e o tratamento em tempo hábil são fundamentais para evitar o surgimento de sequelas, que podem ocorrer na face com paralisia facial, exposição e traumas de córnea; nas mãos, com perda da sensibilidade e de movimentos finos de alguns grupos musculares; e nos pés, com insensibilidade, pé caído, formação de calosidades e ferimentos nas plantas dos pés, sintomas muito parecidos com os que ocorrem no paciente diabético mal controlado.
5. Por que o Brasil figura entre os países com mais diagnóstico?
A persistência da hanseníase em algumas populações tem várias razões para ocorrer. Para falar de duas das mais importantes, devemos lembrar: primeiramente, das políticas públicas para o controle da doença no passado, que obrigava o isolamento de pacientes e seus filhos, perpetuando e agravando o estigma e preconceito que ainda existem em relação à doença; e tem ainda o índice de desenvolvimento humano muito baixo de grande parte da população brasileira, ou seja, a tão falada desigualdade que infelizmente persiste no país.
7. O preconceito ainda é um dos maiores desafios no combate à doença?
Sim, para muitas pessoas o diagnóstico de hanseníase ainda é visto como razão para se excluir e se esconder ou como punição. Isso aumenta muito o sofrimento das pessoas. A doença tem tratamento e cura, e as sequelas podem ser evitadas quando o diagnóstico é precoce.
8. Quais os tratamentos disponíveis atualmente?
Atualmente, a doença é tratada com esquemas de medicamentos, que são gratuitos e distribuídos pelo SUS. A duração do tratamento é de seis meses a ano para a maioria dos casos. Existem também medicamentos usados para tratar as chamadas reações que ocorrem em 30% dos casos, como se fosse um reumatismo com inflamações na pele, nos nervos, articulações e outros órgãos. Essas reações também ocorrem com mais frequência nos casos diagnosticados tardiamente e, por isso, mais avançados.
9. Como funciona o atendimento e tratamento no HC?
No Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh, a hanseníase é tratada no Serviço de Dermatologia com o apoio dos laboratórios, da farmácia e de outras clínicas sempre que necessário. Temos uma equipe interdisciplinar composta por médicos dermatologistas, ortopedista, terapeuta ocupacional, enfermeiras, técnicos de enfermagem e auxiliares administrativos. Trata-se de um centro de referência estadual, por isso mesmo a marcação das consultas é feita por encaminhamento da central de marcação e ainda pelo agendamento direto. Os contatos devem ser feitos preferencialmente pelo email: dermatologiahcufmg@gmail.com
Redação: Luna Normand (Jornalista do HC-UFMG/Ebserh)