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HC é o primeiro hospital de MG a usar pele de tilápia para reconstruir o canal vaginal de mulheres com doença rara
O Hospital das Clínicas da UFMG/Ebserh é o primeiro hospital de Minas Gerais a aplicar a técnica cearense que utiliza pele de tilápia para reconstruir o canal vaginal de mulheres portadoras da síndrome de Rokitansky, doença rara que provoca alterações na formação do útero e na vagina, fazendo com que se encontrem pouco desenvolvidos ou ausentes. Duas mulheres foram operadas na última sexta-feira (26) e passam bem. Agora, o HC recruta outras pacientes de Minas Gerais com o mesmo diagnóstico e em tratamento no SUS para realizarem o procedimento.
A técnica, que ainda está em fase de pesquisa clínica – ou seja, sem uso comercial –, utiliza a pele de tilápia para recobrir o canal vaginal aberto cirurgicamente nessas mulheres. A cirurgia clássica, habitualmente utilizada há mais de 20 anos, reconstrói o canal vaginal com uso de enxertos de pele da própria paciente ou material sintético. Porém, desde 2017, a pele de tilápia tem sido usada com sucesso em mulheres cearenses com a doença por possuir uma série de vantagens.
“A pele da tilápia contém uma grande quantidade de colágeno tipo 1, que a torna tão forte e resistente quanto a pele humana. Além disso, o processo de manufatura da pele de tilápia é rápido e barato”, disse o idealizador da técnica ginecológica, o professor Leonardo Bezerra, médico na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (MEAC/UFC), localizada em Fortaleza, no Ceará, que integra a Rede Ebserh.
Outra grande vantagem defendida por Bezerra é o baixo risco de rejeição, já que, por se tratar de um animal aquático, não existe cruzamento de infecções entre os seres humanos e a tilápia, diferentemente do que acontece com as próteses industriais, que utilizam materiais bovinos e suínos. As peles chegam ao bloco cirúrgico esterilizadas, embaladas a vácuo e prontas para o uso após passarem por um processo que engloba o beneficiamento, a limpeza e a extração e é coordenado pelo Núcleo de Processamento e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará.
A cirurgia
A cirurgia, considerada de média complexidade, tem duração de aproximadamente 1 hora. O cirurgião cria um espaço entre a vagina e o reto, forrando-o com a pele de tilápia. Um molde em formato de vagina é então colocado nesse espaço para impedir que as paredes da "nova vagina" se juntem enquanto as células dos tecidos da paciente e as células e fatores de crescimento liberados pela pele de tilápia se transformem em um novo tecido com células iguais à de uma vagina real.
Já são 25 mulheres beneficiadas em todo o país. As duas cirurgias realizadas em solo mineiro fazem parte de um estudo comparativo entre duas abordagens cirúrgicas de reconstrução vaginal, uma delas utilizando a pele de tilápia. Para participarem do estudo, as pacientes precisam estar em tratamento no Sistema Único de Saúde e serem encaminhadas das secretarias de saúde de suas cidades para o HC-UFMG.
A doença
A síndrome de Rokitansky é uma doença rara que afeta 1 em cada 5 mil nascidos vivos. As mulheres nascem sem o canal vaginal e os sintomas variam, dependendo da malformação que a paciente apresenta. Os mais comuns são ausência de menstruação e dificuldade em manter o contato íntimo.
“É uma doença muito rara. Se a mulher não fizer a cirurgia, não tem por onde a menstruação descer quando ela tem útero, não é possível ter relação sexual”, disse a cirurgiã e coordenadora do Setor de Uroginecologia do HC-UFMG/Ebserh, Marilene Vale C. Monteiro.
Outras aplicações
A pele de tilápia também vem sendo utilizada com muito sucesso no tratamento de queimados, realizado no Ceará desde 2015, implantado pelo cirurgião plástico Edmar Maciel, coordenador da pesquisa e presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), vinculado ao Instituto Dr. José Frota (IJF), localizado em Fortaleza (CE) que já aplica a membrana como um regenerador natural da pele humana.
Na área ginecológica, além de auxiliar no tratamento da síndrome de Rokitansky, também chamada de agenesia vaginal, a pele de tilápia é utilizada em cirurgias de redesignação sexual e reconstrução vaginal após radioterapia para câncer de vagina.
Redação: Luna Normand (Jornalista do HC-UFMG/Ebserh)