Relatos e Historias
RELATOS DE QUEM CUIDA
“Da proximidade com a família, nasce um cuidado aprimorado e mais humano”
Ingressei no Hospital da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC/Ebserh) em meados da década de 80, como aluno de graduação em Medicina. Aí se deram os primeiros contatos com pacientes e seus familiares nas aulas práticas de Semiologia. Alguns anos mais tarde, estava ingressando na residência de Medicina Interna e, logo depois, de Medicina Intensiva. Este último período talvez tenha sido o mais duro, no que tange ao contato com as famílias. Muitas vezes, tínhamos boas notícias e, em tantas outras, comunicávamos pioras ou até mesmo a morte do paciente. Era uma experiência dolorosa para todos, familiares e profissionais.
Nos últimos anos, temos buscado aprimorar a comunicação com as famílias dos pacientes, dando a elas a atenção que merecem e têm direito. Vários de nós foram treinados em cursos de comunicação em situações críticas. De uma inflexibilidade inexplicável, passamos à possibilidade de visita estendida. Parece pouco, mas consiste numa verdadeira revolução para equipe de saúde, pacientes e familiares.
Desta proximidade nasce um cuidado aprimorado, compartilhado e mais humano. As famílias, por sua vez, ao testemunharem os esforços cotidianos do time da UTI, se integram ao cuidado e desenvolvem laços fundamentais com a equipe. É preciso reconhecer que estamos herdando o modelo das UTIs pediátricas, onde, há décadas, são desenvolvidas estas estratégias com bons resultados.
Recentemente, junto com outros colegas, tive contato com umas dessas famílias. Devastados pela perda do familiar, pudemos conversar por quase três horas. Inicialmente, comunicamos a morte e, em um segundo momento, oferecemos a possibilidade de doação de órgãos por tratar-se de um paciente em morte encefálica. Apesar da complexidade da situação, a família não só consentiu com a doação, como nos deu mais de 40 horas para a logística. Não bastasse tamanha generosidade, expressaram sua gratidão conosco diretamente e por meio de um colega pediatra que é amigo em comum.
Tenho convicção de que uma autorização nessas circunstâncias não depende exclusivamente da habilidade de uma equipe de coordenação de transplantes. Fundamental para gerar confiança é o modo como a família é tratada durante a internação. No dia anterior à entrevista, outro colega tinha construído a ponte com essa família numa comunicação detalhada e humanizada.
Parabéns à UTI HU-UFSC.
Joel de Andrade
Médico Intensivista e Coordenador de Transplantes do HU-UFSC
Sobre a Rede Ebserh
O HU-UFSC faz parte da Rede Ebserh desde março de 2016. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) foi criada em 2011 e, atualmente, administra 40 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência.
Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), e, principalmente, apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas.
Devido a essa natureza educacional, os hospitais universitários são campos de formação de profissionais de saúde. Com isso, a Rede Ebserh atua de forma complementar ao SUS, não sendo responsável pela totalidade dos atendimentos de saúde do país.