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Lei de Incentivo ao Esporte
Em 12 anos, Instituto Guga Kuerten capta mais de 20 milhões em projetos chancelados via Lei de Incentivo
O ano 2000 foi marcante para Gustavo Kuerten. Naquela temporada, em 3 de dezembro, após um triunfo sobre o norte-americano Andre Agassi na final da Masters Cup, em Lisboa, Guga entrou para a história do tênis ao chegar ao posto de número 1 do ranking mundial. Mas o ano 2000 não foi especial para Guga “apenas” pelos cinco títulos conquistados – além de Lisboa ele foi campeão em Roland Garros, no Masters 1.000 de Hamburgo e nos torneios de Santiago e Indianápolis. Fora das quadras, nascia o Instituto Guga Kuerten (IGK), uma associação civil sem fins lucrativos que, assim como o catarinense, acumula números expressivos para celebrar.
Acho que foi uma grande sacada do governo instituir essa possiblidade de a sociedade civil poder usufruir de um percentual do Imposto de Renda de empresas para ser aplicado em projetos sociais. O instituto conta com 101 mil pessoas atendidas. Temos crianças que se não tivessem sido atendidas aqui eu nem sei onde estariam. Temos uma responsabilidade e valorizamos muito essa parte do esporte”
Alice Kuerten, mãe de Guga e presidente do Instituto Guga Kuerten
Lançado em 17 de agosto de 2000, o trabalho realizado pelo instituto em Florianópolis e em outros municípios de Santa Catarina já investiu mais de R$ 41,1 milhões em ações sociais e teve impacto na vida de mais de 100 mil pessoas. Para isso, o instituto conta com um aliado de peso: a Lei de Incentivo ao Esporte, instrumento que permite que recursos provenientes de renúncia fiscal sejam aplicados em projetos das diversas manifestações desportivas e paradesportivas distribuídos por todo o país.
Desde 2009, quando o Instituto Guga Kuerten apresentou o primeiro projeto para a Lei de Incentivo ao Esporte, o IGK captou mais de R$ 20,3 milhões por meio do programa do Governo Federal. Só em 2020, o valor foi de R$ 1,3 milhão.
“Para nós é imprescindível”, afirma Alice Kuerten, mãe de Guga e presidente do IGK. “Acho que foi uma grande sacada do governo instituir essa possiblidade de a sociedade civil poder usufruir de um percentual do Imposto de Renda de empresas para ser aplicado em projetos sociais. O instituto conta com 101 mil pessoas atendidas. Temos crianças que se não tivessem sido atendidas aqui eu nem sei onde estariam. Temos uma responsabilidade e valorizamos muito essa parte do esporte”, prossegue.
Segundo Alice, mais do que permitir o apoio financeiro, a Lei de Incentivo ampliou, devido ao trabalho que o IGK realiza com seus parceiros, o sentimento de responsabilidade social entre empresas parceiras. “A Lei de Incentivo fecha um círculo interessante porque as empresas que apoiam se sentem responsáveis pelas crianças. Nós mostramos os resultados alcançados em nossos eventos e reforçamos o quanto as empresas são responsáveis por aquilo, por meio da Lei de Incentivo. Usar parte do imposto para essa finalidade é maravilhoso”.
Três frentes
O IGK atua em três frentes, cada uma voltada para um público distinto. O Programa de Esporte e Educação Campeões da Vida oferece oportunidades educacionais, sociais e esportivas que visam ao desenvolvimento integral de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, econômica e/ou educacional. Implantado em 2002, atua em cinco núcleos – Saco Grande, Itacorubi, Biguaçu, São José e Palhoça –, com foco na inclusão social e na formação no contraturno da escola. Atualmente, o IGK atende a 420 crianças, 80 em cada um dos cinco núcleos, além de 20 pessoas com deficiência.
Há também o Fundo de Apoio a Projetos Sociais, um programa que busca apoiar, financeiramente e tecnicamente, projetos de organizações sociais de Santa Catarina que desenvolvam ações voltadas para a integração da pessoa com deficiência.
Por último, o Programa de Ações Especiais tem como objetivo desenvolver e participar de ações e políticas de promoção e defesa dos direitos do cidadão, fortalecendo e desencadeando medidas que assegurem a cidadania.
Meus filhos começaram no projeto numa época difícil para mim. Eu trabalhava como faxineira e o instituto incentivou todos a continuarem estudando. Na época da pandemia, eu e meu esposo ficamos desempregados e eles têm nos ajudado”
Carmi Liezzi, mãe de três crianças atendidas pelo instituto
Pandemia
O IGK viveu um grande desafio em 2020 decorrente da disseminação do novo coronavírus. Assistente social e supervisora dos núcleos da Palhoça, Biguaçu e São José no Programa de Esporte e Educação Campeões da Vida, Jhennifer Silveira recorda que, no início, a pandemia forçou a paralisação do IGK. “Ficamos em quarentena durante os primeiros 15 dias em março de 2020. Avisamos todas as famílias e entramos em contato com as escolas”, lembra Jhennifer.
Apesar do cenário de incerteza, a equipe do IGK encontrou uma maneira de fazer com que o apoio continuasse a chegar às famílias atendidas. “Começamos a pensar em como poderíamos auxiliar as famílias a distância. Num primeiro momento, principalmente no lado social, procuramos estudar como a pandemia estava afetando as famílias. Levantamos dados sobre quem havia perdido o emprego ou sofrido impactos em função da pandemia”, conta a assistente social.
“Depois disso, criamos alguns níveis de atendimento, de acordo com a vulnerabilidade das famílias, para atender àquelas com necessidades mais urgentes. Fizemos ações e a principal delas foi a dos mercadinhos. Fechamos parcerias com um mercado em cada comunidade que atendemos e a gente oferecia um valor de cesta básica para as mais necessitadas para que elas pudessem usar nos mercados. As famílias iam uma vez por semana e retiravam as mercadorias de acordo com as necessidades. Estávamos contribuindo com os mercados, que estavam sofrendo em relação ao coronavírus, e também com as famílias”, explica Jhennifer.
“Foi um choque no início”, completa Alice Kuerten. “Mas como rapidamente verificamos que a principal necessidade deles era mesmo o alimento, partimos para essa ação. Desde abril, passamos a dar uma média de 150 cestas básicas por semana. Tivemos várias parcerias para essa ação e o resto sustentamos com recursos de nossa família e do IGK. Nós credenciamos mercadinhos do lado da comunidade onde vive a nossa clientela e estipulamos um valor por semana”, detalha a presidente do IGK.
Além da ajuda para aquisição de alimentos, o IGK prestou apoio voltado ao lado emocional das famílias. “Nos primeiros meses continuamos fazendo reuniões pedagógicas online com os educadores físicos e com a supervisão. O time da assistência social trazia as informações das demandas das famílias, incluindo as informações da psicóloga referentes a temas como ansiedade e convívio familiar. Normalmente, não fazemos esse trabalho da psicóloga com as famílias, mas nesse período passamos a fazer isso”, conta Jhennifer.
Os educadores das oficinas também realizaram a ação IGK em Movimento. “Cada criança recebia uma mochila com um kit com raquete de tênis, material para simular uma rede, bola e um livro. Fizemos uma escala de empréstimo, com todos os materiais higienizados. Eram dez crianças por núcleo por semana e cada criança ficava por 15 dias com o kit. O objetivo era estimular que fizessem exercícios em casa. Depois, os kits eram devolvidos, novamente higienizados, e então eram repassados a outras famílias”, detalha Jhennifer.
Retorno e gratidão
Mãe de três filhos beneficiados pelo IGK – Kauan Alves (15 anos), Carlos Alves (14) e Otávio Luiz Alves (6) –, Carmi Liezzi Henrique, de 31 anos, ressalta a importância que o trabalho do IGK teve para sua família, antes e durante a pandemia.
“Meus filhos começaram no projeto numa época difícil para mim. Eu trabalhava como faxineira e o instituto incentivou todos a continuarem estudando. Eles têm ajudado no estudo dos meus filhos e também no lado do esporte. Na época da pandemia, eu e meu esposo ficamos desempregados e eles têm nos ajudado nesse período difícil. Os instrutores e todos no instituto se dedicam bastante e se preocupam com a segurança das crianças e da família. É um projeto maravilhoso”, elogia Carmi.
Instrutor do IGK desde 2014, o professor de esportes Márcio Hideki Asato, formado em Educação Física em 2015, quando foi contratado, conta que o retorno é grande também por parte da equipe do instituto.
“Trabalhar no IGK é engrandecedor, na medida em que a gente tem como missão oportunizar a transformação. A experiência de trabalhar com um grupo de pessoas socioeconomicamente vulnerável no seu dia a dia forma uma mistura de sentimentos. Você não consegue ser apenas técnico e ter aquilo como algo formal. Você se envolve e tem que utilizar outras ferramentas para atingir os objetivos, como carinho, aperto de mão, palavras de conforto. A gente não aprende isso na faculdade, mas o IGK traz isso e as pessoas têm esse perfil”, conta Márcio.
Passados 20 anos de estrada, Alice Kuerten também se diz realizada com o sucesso do IGK e, principalmente, com a forma como as atividades do instituto impactaram a vida de milhares de famílias. “Nossa vida sempre foi de compartilhar o que conseguíamos conquistar. Veio a carreira do Guga e aí começamos a pensar mais em investimento social”, explica.
“Hoje, nos enxergamos como cidadãos fazendo a nossa parte de auxiliar no contexto social onde a gente vive. Sentimos uma realização. Conseguimos criar um vínculo, primeiro em nível familiar e, depois, com os parceiros. Estamos com a sensação de dever cumprido. Estamos fazendo a nossa parte, modificando, oportunizando, e levando a essas famílias mais condições de vida”, ensina Alice Kuerten.
Diretoria de Comunicação – Ministério da Cidadania