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Abertura da Surdolimpíada mobiliza 740 atletas e dá protagonismo à língua de sinais
A abertura da Surdolimpíada em São José dos Campos promoveu uma inversão simbólica e conceitual da hieraquia linguística. Os cerca de 740 atletas presentes no ginásio Teatrão, na Vila Industrial da cidade paulista, vivenciaram um momento de protagonismo da língua de sinais em suas versões brasileira e internacional.
Eu me senti homenageado. Com sensação de pertencimento. Já é um sonho descobrir que existem tantas pessoas surdas e atletas reunidos em um lugar só, e ter a comunicação voltada para a forma que usamos dá orgulho"
José Coelho, da equipe de caratê do Pará
Em vez da fórmula habitualmente imposta aos surdos, em que ouvintes falam em português e uma intérprete traduz na sequência para a Língua Brasileira de Sinais (Libras), o evento foi conduzido em Libras e na língua de sinais internacional e, depois, adaptado ao português. A perspectiva trouxe para o primeiro plano os surdoatletas de 18 Unidades Federativas.
"Eu me senti homenageado. Com sensação de pertencimento. Já é um sonho descobrir que existem tantas pessoas surdas e atletas reunidos em um lugar só, e ter a comunicação voltada para a forma que usamos dá orgulho", disse José Coelho, da equipe de caratê do Pará.
Outros dois momentos deram evidência à língua de sinais: o Hino Nacional foi interpretado em Libras no palco, acompanhado nos gestos por dezenas de atletas na arquibancada. Houve ainda a apresentação de um grupo de 27 alunos, entre surdos e ouvintes, da Escola Municipal Maria Aparecida dos Santos Ronconi. A performance retratou a trajetória de luta e reconhecimento da língua de sinais. A escola é referência na área em São José dos Campos.
As competições em 15 modalidades mobilizam 11 instalações esportivas do município paulista entre este sábado, 4/12, e a terça-feira, 07/12. O evento tem suporte de R$ 1,2 milhão do Governo Federal, com R$ 800 mil do orçamento da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania e o restante em emendas parlamentares.
"A Confederação Brasileira de Desporto de Surdos (CBDS) foi fundada em 1984. Uma luta grande num momento em que não existia conceito de acessibilidade, nem intérprete de Libras e nem a tecnologia que temos hoje. Anos depois, agora temos uma abertura grande para o esporte de surdos e para nossa entrada na sociedade", lembrou Diana Kyosen, presidente da CBDS. "A visibilidade à causa trazida pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e a criação da Secretaria do Paradesporto são sinais importantes do Governo Federal à importância do nosso trabalho. Tentamos nessa abertura uma comunicação ampla, com todos. É uma marca em nossa história", completou.
Michelle Bolsonaro fez o discurso em Libras. Foto: CBDS |
Efeito Michelle
Madrinha do paradesporto para surdos, a primeira-dama Michelle Bolsonaro foi alçada à condição de destaque no evento pelos atletas. Com 100% de seu discurso em Libras, ela exaltou os competidores e listou ações recentes do Governo Federal voltadas para o setor.
Estamos aqui para celebrar uma trajetória nobre e cheia de desafios que nos impulsionam para o futuro. Sempre é uma honra participar de tudo isso tão de perto ao lado da comunidade surda, principalmente sendo a madrinha"
Michelle Bolsonaro, madrinha do paradesporto para surdos
Michelle citou o patrocínio da Caixa Econômica Federal ao segmento, lembrou a conquista de uma vaga no Conselho Nacional do Esporte pela Confederação Brasileira de Desporto para Surdos após 20 anos de demandas, a criação da Secretaria Nacional do Paradesporto e o investimento do Ministério da Cidadania no evento.
Logo depois de declarar aberta a Surdolimpíada, Michelle tirou fotos ao lado dos integrantes de cada uma das 18 delegações no ginásio. "Estamos aqui para celebrar uma trajetória nobre e cheia de desafios que nos impulsionam para o futuro. Sempre é uma honra participar de tudo isso tão de perto ao lado da comunidade surda, principalmente sendo a madrinha", afirmou.
A pira, numa versão luminosa, foi acesa por Alexandre Fernandes, de 32 anos. O judoca carioca é pioneiro da modalidade para surdos. É dono da primeira medalha conquistada por um brasileiro na história das Surdolimpíadas Internacionais. Ele foi bronze na edição de 2009, realizada em Taiwan, na categoria -81kg. Antes dele, a condutora no ginásio foi outra judoca de destaque. Marcele Felix, de 23 anos, é a primeira atleta surda das Américas a receber uma faixa preta no judô, feito conquistado aos 17 anos .
Foto: CBDS |
Desafio da disseminação
Secretário Nacional do Paradesporto do Ministério da Cidadania, Agtônio Guedes ressaltou o trabalho que vem sendo feito na pasta em projetos voltados para permitir que o paradesporto se torne prioridade e foco de investimentos em cada vez mais municípios.
Precisamos da efetivação de uma política pública que saia dos gabinetes e chegue na ponta, para quem mais precisa, de forma assertiva"
Agtônio Guedes, secretário nacional de Paradesporto do Ministério da Cidadania
"Tenho certeza de que este será apenas o primeiro de muitos eventos não só voltados para a comunidade surda, mas para todo um segmento de pessoas com deficiência que muitas vezes não têm acesso ao convívio esportivo", explicou o secretário.
Segundo ele, mais de 75% dos municípios brasileiros não têm ações voltadas para o segmento do paradesporto e 87% dos municípios não têm ação para o alto rendimento paradesportivo. “Mesmo assim já somos top ten do mundo, mas precisamos unir forças para chegar a todos os municípios”, disse Guedes.
O caminho, segundo ele, envolve investimentos diretos do Governo Federal e a sensibilização de parlamentares, para que possam fazer emendas e transferências focadas na execução de projetos paradesportivos. "Precisamos da efetivação de uma política pública que saia dos gabinetes e chegue na ponta, para quem mais precisa, de forma assertiva", afirmou.
A cerimônia de abertura em São José dos Campos contou ainda com as presenças do ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, do prefeito de São José dos Campos, Felicio Ramuth, além de parlamentares e de autoridades ligadas ao paradesporto.
Modalidades e delegações
As disputas da Surdolimpíada Nacional 2021 contam com as seguintes delegações: Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Maranhão, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio Grande do Norte, Paraíba, Goiás, Mato Grosso, Espírito Santos e Santa Catarina. As 15 modalidades são atletismo, basquete, handebol, xadrez, montain bike, ciclismo de estrada, natação, caratê, taekwondo, judô, vôlei de praia, badminton, tênis de mesa, vôlei e boliche.
Diretoria de Comunicação - Ministério da Cidadania