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Jogo Limpo
Live aborda transição de carreira com os ex-atletas Yohansson Nascimento e Simone Camargo
A transição de carreira foi tema da Live da Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) de maio. O bate papo online contou com três ex-atletas que atualmente exercem funções de dirigentes esportivos. Além da secretária nacional da ABCD, Luisa Parente, ginasta olímpica que defendeu o Brasil nos Jogos de Seul 88 e Barcelona 92, Simone Camargo, que disputou os Jogos Rio 2016 obtendo a quarta posição com a seleção de goalball, e Yohansson Nascimento, detentor de seis medalhas nas Paralimpíadas de Pequim 2008, Londres 2012 e Rio 2016, relataram como cada um se preparou para a aposentadoria das competições.
Quando entrou na pista para disputar a prova dos 100m do Mundial de Dubai, em 2019, Yohansson Nascimento não sabia que aquela seria sua despedida. “Infelizmente veio a pandemia e adiou o sonho de mais uma Paralimpíada. Fui para essa competição sem saber que era minha despedida das pistas, acho que por isso não foi doloroso”, recorda o vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Na ocasião, o velocista cravou o melhor tempo de sua carreira nos 100m (10s69), e estava com índice encaminhado para os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020 na categoria T46. Mesmo assim, Yohansson optou por oficializar a aposentadoria e buscar outros sonhos. “Saber que acabou, que não vai ter mais a adrenalina de escutar o tiro de partida, mas a decisão que eu tomei foi pensada. Sabia que estava em busca de outros sonhos, agora coletivos”, seguiu o dono de um ouro, três pratas e dois bronzes em Paralimpíadas.
“Eu acho que uma vez atleta, sempre atleta. Eu assisto as competições, vibro, sinto vontade de estar em quadra e isso nunca acaba. A gente não tem certeza de que aquele é o momento, mas como em tantos outros momentos da vida, a gente precisa tomar uma decisão”, contou Simone Camargo, que deixou a seleção brasileira de goalball após o ouro no Parapan-americano de Lima 2019 e se aposentou das quadras em 2021.
De outra geração de esportistas, Luisa Parente vivia uma realidade com menos suporte para ter uma carreira longa e decidiu se aposentar da ginástica artística aos 22 anos. “Eu me vi com alguns dilemas, como a questão de me sustentar, porque o esporte na época não tinha tantas oportunidades de apoio e patrocínio. Também a carreira de ginasta começava cedo e terminava cedo na minha geração. Pendurei as sapatilhas e fui fazer graduação em educação física e direito”, afirmou a secretária nacional da ABCD, no cargo desde 2019.
O debate sobre a transição de carreira tem ganhado espaço em colegiados como a Comissão Nacional de Atletas (CNA), que no início do mês realizou mais uma reunião virtual ordinária e tratou do tema. Simone Camargo é membro da CNA e do Conselho de Atletas do CPB, além de coordenar o programa Atleta Cidadão, também do CPB, que oferece bolsas de estudos, qualificação técnica para o mercado de trabalho e formação profissional para os desportistas que estão pensando em mudar de função.
“Essa questão que a carreira do atleta é curta e transitória é uma preocupação muito grande, porque quando o atleta está no auge, ou ambicionando que a carreira decole, muitas vezes não existe a preocupação com o desenvolvimento amplo do sujeito e a educação é um dos pontos mais importantes”, citou a ex-atleta de goalball.
Cargas pesadas de treino, rotina nos clubes, mudanças de cidades, viagens constantes para competições são alguns motivos apontados por vários atletas para a interrupção dos estudos, segundo revelou Simone. “Para que eu conseguisse permanecer na minha carreira esportiva eu tive que desenvolver uma atividade profissional paralela. Fui servidora pública por 20 anos. Mesmo assim, sabia que aquilo teria fim e me graduei em psicologia para seguir novos rumos na minha vida”.
Mesmo que aliar a vida de atleta de alto rendimento com a formação acadêmica e profissional seja uma missão árdua, o planejamento para a transição de carreira desde o início da trajetória no esporte contribui para uma segurança maior no futuro profissional dos esportistas.
“Essa questão da transição de carreira foi um ponto fundamental ao longo da minha jornada no esporte paralímpico. Eu iniciei aos 17 anos, em 2005, e já pensava que não teria uma carreira esportiva para sempre, que em algum momento eu teria que me aposentar. Então, já ia trabalhando como eu iria fazer essa minha transição. Eu queria muito poder continuar contribuindo com o esporte paralímpico, que foi o que mudou a minha vida”, relata Yohansson, que desde o final de 2020 é vice-presidente do CPB.
“Fico muito feliz em saber que um dos nossos projetos, que é a Escolinha Paralímpica, leva o esporte para várias crianças com deficiência do Brasil inteiro. Saber que aquela criança que muitas vezes é desacreditada, que as pessoas olham com pena, está tendo o esporte na vida delas. Esse sonho apenas mudou, agora não é transformar em medalhas para mim, mas para o Brasil”, completou.
Poder contribuir com o desenvolvimento do esporte paralímpico também é uma satisfação compartilhada por Simone Camargo. “A perspectiva de saber, que de alguma forma você vai continuar contribuindo, porque a gente tem uma gratidão pelo esporte... quando trabalhamos nos bastidores é como se a gente permanecesse em cada uma das pessoas que vão poder usufruir daquilo que a gente está contribuindo para tornar realidade”, disse.
Ao se preparar para a transição, o atleta também se resguarda para fatores que podem encurtar sua carreira, como lesões e dopagem, ressaltou a secretária nacional da ABCD. “A carreira de um atleta pode ser afetada pela dopagem, ela pode ser encurtada. A gente sabe que tem vários aspectos que podem encurtar uma carreira, lesão, pandemia, mas estar na constante busca por qualificação abre caminhos para uma nova atividade profissional”, finalizou Luisa Parente.
Neste sentido, a educação antidopagem é importante também para a longevidade da carreira do atleta. No dia 18 de maio, a ABCD, em parceria com o CPB, promoveu o segundo Módulo do Treinamento Especial Antidopagem 2022 . A iniciativa educacional é composta por seis módulos distribuídos ao longo do ano. “O treinamento é dedicado ao nosso público alvo: atletas; pessoal de apoio, que envolve comissão técnica e médica. Os módulos do treinamento têm o conteúdo discriminado no padrão internacional de educação, tido como obrigatório, e dividimos em módulos porque é muito conteúdo”, detalhou a secretária nacional da ABCD.
Luisa Parente ainda reforçou a necessidade de os atletas e o pessoal de apoio realizarem os cursos da Agência Mundial Antidopagem (AMA-WADA), disponíveis na plataforma ADEL . Por fim, os convidados também recordaram das maiores emoções vividas por eles no esporte e como a carreira de atleta ajuda a lidar com situações que se apresentam nas novas profissões.
Assessoria de Comunicação – Ministério da Cidadania